27 jun, 2023 - 17:53 • Sandra Afonso
A Comissão Europeia não espera que os preços da energia voltem a disparar no próximo inverno, apesar da guerra na Ucrânia ainda não ter um fim à vista.
Durante o encontro anual do Banco Central Europeu (BCE), em Sintra, o economista-chefe do executivo comunitário, Miguel Gil Tertre, lançou cinco razões pelas quais é menos provável que este ano se verifiquem picos semelhantes aos do ano passado.
“A primeira é o nível elevado de armazenamento. Se continuarmos como até aqui, até meados ou final de agosto teremos atingido a capacidade máxima, o que significa que vamos precisar de menos gás este inverno. A segunda é que estamos a reduzir de forma consistente, por 18 a 19%, o consumo de gás natural”, explica.
O economista garante ainda que a energia já não será utilizada pela Rússia como uma arma. “Mais infraestruturas foram acrescentadas e foi acelerada a implementação de renováveis. Há uma baixa possibilidade de a Rússia fazer dos mercados energéticos uma arma. Finalmente, a incerteza é menor, não há medo de que falte energia.”
"A inflação na área do euro é demasiado elevada e (...)
No mesmo painel esteve Ida Wolden Bache, governadora do Banco da Noruega, o país que é hoje o maior fornecedor de gás natural da Europa.
A governadora alertou para a necessidade dos bancos centrais explorarem melhor a informação sobre o mercado energético e incorporá-la nas decisões de política monetária.
Um alerta que ganhou peso depois de Javier Blas, da Bloomberg, ter denunciado que nem o FMI nem vários bancos centrais seguem o preço da eletricidade.
“O FMI monitoriza 68 diferentes matérias primas no mundo, nenhuma delas é a eletricidade. Vejo o mesmo em alguns bancos centrais e penso que é uma grande falha. De certa forma, continuamos a olhar para a economia como se estivéssemos ainda em 1973, quando o petróleo era a grande fonte de energia. Mas hoje a eletricidade está a ocupar esse lugar.”
O coautor do livro “O Mundo à Venda”, sobre como um pequeno número de empresas domina o mercado das matérias primas, já explicou em entrevista à Renascença as implicações desta falta de concorrência, regras ou policiamento.
Esta terça-feira, Javier Blas apresentou as conclusões deste trabalho directamente aos bancos centrais, políticos e economistas reunidos no fórum do BCE em Sintra, a quem pediu mais regulação neste mercado onde atualmente vale quase tudo.