18 ago, 2023 - 18:12 • Sandra Afonso, com Reuters
As perspetivas dos chocolateiros estão cada vez mais amargas, à medida que sobem os preços dos principais ingredientes do chocolate. Só o cacau atingiu o preço mais alto dos últimos 46 anos, enquanto o açúcar está no valor mais alto em dez anos.
Segundo a Reuters, que cita dados da Nielsen, na Europa e na América do Norte o preço do chocolate aumentou cerca de 20% nos últimos dois anos.
Apesar disso, a indústria conseguiu manter os lucros, porque os consumidores continuaram a “fazer o gosto ao dente”. Começam agora a mostrar sinais de retração, com a diminuição da quantidade de chocolate adquirido.
A indústria acredita que o aumento do preço das matérias-primas ainda não ficará por aqui. Luca Zaramella, da Mondelez, fabricante da Cadbury, admitiu em julho “um aumento de mais 30%”, sobretudo no cacau.
Os chocolateiros têm andado em braço de ferro com os retalhistas, para aumentarem os preços. Mas os comerciantes já não aceitam mais aumentos, o que compromete as margens de lucro.
Uma das batalhas acabou com a retirada das barras Cadbury e Milka das prateleiras da rede belga de supermercados Colruyt, porque não conseguiram chegar a acordo sobre os preços.
Tradicionalmente, este mercado tem uma resistência maior a picos inflacionistas. No entanto, “os consumidores começam a reagir mais, eu seria muito cauteloso com aumentos dos preços”, avisa Dan Sadler, especialista em doces da empresa de pesquisa de mercado IRI, citado pela Reuters.
Segundo os dados disponíveis, as vendas da Hershey's diminuíram, à medida que a empresa aumentava os preços. A marca aposta agora na automação, para manter os custos de produção baixos.
A Barry Callebaut, a maior fabricante mundial de chocolate e fornecedora da maioria das grandes marcas, incluindo a Nestlé, já anunciou que não espera um aumento de vendas este ano.
Em contrapartida, aumenta a procura nas prateleiras por chocolates de marca branca, com preço mais baixo.
O mercado português do chocolate vale, no retalho direto, 250 milhões de euros, com vendas de cerca de 15 mil toneladas.
No início do ano Bruno Martiniano, business development confectionery & food da Nestlé Portugal, já admitia ao Jornal de Negócios aumentos nos preços na ordem dos 10% este ano, depois de um agravamento de 3% em 2022.
A Nestlé Portugal vende 14 marcas no país, o que representa, habitualmente, cerca de 35 milhões de euros no mercado nacional.
A Imperial, maior fabricante nacional, dona das marcas Regina, Pantagruel e Pintarolas, já absorveu no último natal “grande parte” do aumento dos custos. Esperava, entretanto, pela estabilização das matérias-primas, mas os custos têm vindo a agravar-se.
Segundo o Rabobank as pressões sobre os custos deverão manter-se, devido ao El Niño na África Ocidental e à falta de produtores alternativos, que possam aumentar a produção rapidamente.
Os principais produtores de cacau da Costa do Marfim e Gana enfrentaram secas, excesso de chuvas e doenças nos últimos dois anos. Os dois países são responsáveis por dois terços do cacau mundial.