31 ago, 2023 - 21:20 • Sandra Afonso
A inflação na Alemanha e na zona euro são dois indicadores de peso para a reunião de 14 de setembro do conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE), que vai decidir se mantém ou aumenta os juros de referência. Chistine Lagarde, presidente da instituição, já anunciou várias vezes que não haverá descidas.
O gabinete de Estatística da União Europeia anunciou, esta quinta-feira, que a inflação nos países do euro estabilizou em agosto, nos 5,3%, face ao mesmo mês do ano passado. Os analistas esperavam uma desaceleração, para 5%.
Apesar desta estabilização, a inflação aumentou em metade dos países do euro e está acima da média em nove. Entre eles, destaca-se a Alemanha, o motor da economia europeia, apesar de ter anunciado um abrandamento em agosto para 6,1%.
À Renascença, o economista e professor universitário Ricardo Cabral avisa que "a Alemanha é o caso problemático e, se continuar a subir a inflação na Alemanha e na área do euro, pode levar o BCE a subir as taxas de juro". Acrescenta ainda que, "apesar das críticas crescentes, eles não se vão desviar dessa trajetória, o que é preocupante para a economia da área do euro, neste contexto".
Inflação aumenta e economia estagna
Presidente da República aponta que a situação port(...)
Em Portugal, o Instituto Nacional de Estatística (INE) anunciou esta quinta feira que a inflação mensal aumentou em agosto para 3,7%, por causa dos combustíveis. Mas, um indicador ainda mais importante é a variação média, que está nos 6,8%. Ricardo Cabral sublinha que este número é que "deve preocupar o Governo, de forma a manter o rendimento das famílias, em termos reais".
O INE confirmou ainda o crescimento homólogo do PIB em 2,3%, no segundo trimestre, e a estagnação da economia, em comparação com o trimestre anterior. São resultado que podem ter ficado aquém das expectativas, Ricardo Cabral diz que "no primeiro trimestre vemos uma evolução muito positiva, que pareceu indiciar que a taxa de crescimento ia ser muito alta".
De acordo com o professor do Instituto Português de Economia e Gestão (ISEG), o PIB nacional está a ser travado pelo exterior: "isto resulta muito do que está a acontecer na economia externa. Ou seja, há outras economias, nomeadamente a alemã, que já estão numa fase do ciclo económico muito mais adversa. Isso e o aumento do preço dos combustíveis faz pesar o PIB". Ricardo Cabral conclui que "é a componente externa que está a atrasar a economia portuguesa".
Ainda no plano económico, o Governo anunciou esta quinta-feira que não vai recorrer aos 8,3 mil milhões que ainda estavam disponíveis em Bruxelas, para aumentar o plafond do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Dinheiro do envelope dos empréstimos, ou seja, sujeito ao pagamento de juros e com prazo de pagamento, mas em condições vantajosas.
De acordo com o INE, esta aceleração é essencialme(...)
Ainda assim o economista Ricardo Cabral diz que é uma boa notícia, "uma vez que o Governo está a registar excedentes orçamentais não faz sentido estar a recorrer a empréstimos", que iam agravar a dívida pública.
No entanto, o presidente da Comissão de Acompanhamento do PRR, Pedro Dominguinhos, avisou esta semana, em declarações à Renascença, que o custo dos projetos em curso aumentou com a inflação e que o próprio governo já admitiu que seria necessário mais dinheiro. Sem o recurso a esta parcela que ainda estava disponível, resta o Orçamento do Estado.
Para Ricardo Cabral, este é o mal menor. O professor do ISEG defende que "é muito difícil executar bem o PRR, devido à forma como todos os programas europeus estão estruturados. São essencialmente concursos de beleza, o dinheiro é dado à empresa A e não à empresa B".
O economista considera ainda que "não é fundamental aumentar em 8 mil milhões de euros a despesa para o PRR". Do ponto de vista financeiro e em termos de gestão, "é muito mais produtivo aumentar o investimento público de longo prazo, com base no dinheiro do Orçamento do Estado, porque ficamos com muito mais autonomia para decidir como o dinheiro é gasto", defende.
Com esta decisão do executivo de António Costa, o PRR fica com um valor final de 22,2 mil milhões de euros, para gastar até ao final do primeiro semestre de 2026.