21 set, 2023 - 17:55 • Redação
Esta quinta-feira, a Toshiba anunciou a venda de dois terços das suas ações à Japan Industrial Partners (JIP), numa compra concluída esta quarta-feira. A JIP é uma empresa de capital privado, ou seja, uma organização que investe dinheiro que não está na bolsa de valores pública. Por essa razão, tudo indica que a empresa que inventou o primeiro portátil do mundo terá o caminho traçado para passar de empresa nacional a privada.
Num comunicado oficial, a Toshiba anuncia que a JIP detem agora 78.65% das suas ações, o que lhe atribui autoridade suficiente para tomar decisões relevantes na empresa, como a sua privatização.
O acordo foi concluído por 13,132 mil milhões de euros, o que daria para construir cerca de 40 hospitais como o Hospital Universitário, em Lisboa. Este valor equivale a 14 mil milhões de dólares americanos e dois mil milhões de ienes, a moeda do Japão.
A emblemática empresa japonesa entrou na bolsa de valores de Tóquio em maio de 1949, depois da Segunda Guerra Mundial, e foi um símbolo da recuperação económica do país e da indústria tecnológica. Em 1985, lançou o seu primeiro computador portátil, que designou como “o primeiro computador portátil do mercado de massas do mundo”.
Há quase dez anos que empresa nipónica enfrenta problemas de liderança. Em 2015, uma investigação independente mostrou que a Toshiba tinha publicado valores falsos sobre os seus lucros nos últimos sete anos. O evento foi visto como um escândalo no Japão e no mundo económico global, o que levou membros da direção - como o então presidente da empresa, Hisao Tanaka, e vice-presidente, Norio Sasaki - a despedirem-se.
Os efeitos desta descoberta não ficaram por aqui: a Toshiba teve de pedir 600 mil milhões de ienes em investimento estrangeiro, ou seja, três mil milhões de euros, e viu a sua reputação prejudicada. Reputação essa que ficou ainda mais afetada em 2021, quando se descobriu que a Toshiba tinha conspirado com o governo para influenciar os votos de investidores estrangeiros, o que provocou mais saídas na liderança.
O presidente da Toshiba, Taro Shimada, afirma que a empresa “dará agora um grande passo em direção a um novo futuro com um novo acionista”. A venda pode significar novas decisões de liderança, já que envolverá menor influência do governo e de outros acionistas.
Gerhard Fasol é presidente da Eurotechnology Japan e colaborador da BBC há vários anos, em assuntos de economia e tecnologia japonesa. Segundo Fasol, a maioria dos japoneses e o governo vêem a Toshiba como um "tesouro nacional", acrescentando que esta venda é o resultado “de uma liderança corportativa inaquedada vinda do topo”.
Entre abril e junho de 2023, a empresa tinha cerca de quatro mil milhões de euros em vendas, menos 5% quando comparado com o mesmo período do ano passado.
[notícia atualizada às 18h35 de 21 de setembro de 2023]