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Mário Centeno

Falta "medir o esforço" do combate às alterações climáticas

23 out, 2023 - 13:56 • Lusa

“Temos feito um enorme esforço em tornarmo-nos muito mais amigos do ambiente mas precisamos de medir esse esforço, o progresso que esse esforço dá”, defende governador d Banco de Portugal.

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O governador do Banco de Portugal disse esta segunda-feira que é preciso recolher mais dados e fazer mais análise sobre o combate às alterações climáticas, considerando que medir esse esforço é fundamental para evitar a frustração das pessoas.

Na conferência do Banco de Portugal ‘Liga-te aos dados’ para assinalar o Dia Europeu da Estatística, dirigida a estudantes e transmitida no canal do banco central no Youtube, Mário Centeno destacou a importância da recolha e análise de dados na economia e sociedade atual e, questionado sobre em que área devia ser feito mais esforço, considerou que é preciso mais trabalho na recolha, análise e divulgação de dados relativamente ao combate às alterações climáticas.

“Temos feito um enorme esforço em tornarmo-nos muito mais amigos do ambiente mas precisamos de medir esse esforço, o progresso que esse esforço dá”, afirmou na sua intervenção, considerando que ter esse conhecimento “é essencial para não gerar frustração nas pessoas” que podem sentir que nada é feito neste tema por desconhecimento dos dados.

Para Centeno, no combate às alterações climáticas, é assim preciso recolher mais dados, analisar informação e divulgá-la e os bancos centrais são fundamentais nesse papel, porque têm “mais tempo, recursos e qualificações”.

Centeno vincou que a vantagem do banco central é precisamente o mais tempo que pode tomar nesse trabalho de fundo e comparou com quando foi titular das pastas das Finanças de Governos PS de António Costa.

“No tempo em que fui ministro das Finanças tinha receio ao subir a escadaria do Ministério das Finanças que, quando chegasse ao meu gabinete, um assunto já tivesse passado o prazo para ser resolvido”, afirmou destacando “o ritmo completamente diferente” do Banco de Portugal e como este tem o dever de “entregar à comunidade o resultado do trabalho” que faz todos os dias.

“É um trabalho de elevadíssima qualidade e que tem de ser escrutinado a todo o momento”, disse.

Na mesma conferência, o economista João César das Neves, professor da Universidade Católica, considerou que os dados “são muito perigosos” e que é fácil “fazer aldrabices” com a manipulação dos dados ou até falsificando dados. Deu o exemplo de Thomas Malthus que, no século XIX, previu um crescimento catastrófico da população humana com base em dados falsos.

César das Neves disse ainda que, quando o Governo divulga a proposta do Orçamento do Estado, como aconteceu este mês, se fecha em casa durante cinco horas e todos os anos faz as mesmas contas e que com isso faz análises diferentes das de outros intervenientes da opinião pública porque, afirmou, não vai atrás dos dados de que se fala no momento.

Para o professor catedrático, apesar de se falar tanto em dados, em verdade “ninguém quer dados, o que quer é sabedoria” e recordou a pirâmide do conhecimento, em que na base estão os dados, depois a informação, depois o conhecimento e no topo a sabedoria.

“Os dados são a matéria-prima, dados há muitos, toneladas de dados, mas a maior parte daquilo é lixo”, afirmou.

Segundo César das Neves, quando começou a carreira a única fonte que usava era o Banco de Portugal, porque tinha qualidade muito superior à do Ministério das Finanças ou do Instituto Nacional de Estatística e que, desde então, todas essas entidades fizeram um caminho muito importante e que hoje em Portugal “a qualidade técnica [dos dados das instituições públicas] é boa, os dados são sólidos”.

Mesmo a informação do Orçamento do Estado, disse, há uns anos “era uma aldrabice” e “melhorou muito”, a que ajudou a criação de entidades como Conselho das Finanças Públicas (CFP) e Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO).

Contudo, o economista aproveitou a conferência para deixar uma crítica ao Banco de Portugal, considerando que a “qualidade dos dados aumentou espantosamente, o conhecimento aumentou”, mas que a informação prestada por este se tem reduzido. Há uns anos, disse, quando queria sugerir publicações para compreender a economia portuguesa sugeria o Boletim Estatístico, a Síntese Mensal da Conjuntura e outras publicações no Boletim Anual, e que hoje o Banco de Portugal tem milhares de séries no BPstat mas “desistiu de fazer a seleção dos dados”.

“Sinto esta falta e não quis deixar de dizer isto”, afirmou João César das Neves, acrescentando que no futuro deverá aparecer junto aos dados o que hoje aparece nos rótulos das bebidas alcoólicas “Beber com moderação”.

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