13 dez, 2023 - 13:35 • Inês Braga Sampaio
A economia portuguesa deverá crescer 2,2% em 2023, revela o ministro da Economia, António Costa Silva, esta quarta-feira, no discurso de encerramento da conferência "Portugal: um país condenado à pobreza?", uma colaboração da Renascença com a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.
Costa Silva admite que, "apesar de alguns avanços", é preciso fazer "muito mais" a nível de produto interno bruto (PIB) per capita, que em 2022 representava 77% da média europeia, e de produtividade laboral, que no mesmo ano era 60%.
"Temos de conjugar múltiplos fatores para acelerarmos a mudança, face aos constrangimentos que existiram em 2022 e 2023. Em 2022 a economia cresceu 6,8%, o maior crescimento da economia portuguesa desde 1987 e o segundo maior no âmbito da União Europeia. Em 2023, estamos a fechar os números, mas muito provavelmente vamos crescer cerca de 2,2%. Eu era das pessoas que acreditavam que se não houvesse mais convulsões que poderíamos chegar aos 3%, que são absolutamente para mantermos uma trajetória de convergência com a União Europeia", reconhece.
Ainda assim, o ministro da Economia salienta que os 2,2% "comparam com a média europeia, que em 2023 vai ser de 0,7%, portanto, três vezes acima".
"Continuamos com alguma convergência, mas temos de fazer muito mais. A economia não é um jogo de soma nula", sublinha.
Costa Silva assume que "há muitas coisas que estão mal no nosso país e temos de lutar para as ultrapassar":
"A pobreza é uma falha de diferentes governos ao longo do tempo. Continuamos a viver num país que tem dois milhões de pessoas pobres. Nos últimos anos, o salário mínimo nacional cresceu cerca de 70% e o salário médio cresceu cerca de 40%. Ainda é pouco. Só podemos ser um país desenvolvido se as pessoas puderem viver de forma decente. Não há liberdade sem dignidade."
O governante refere que "somos um país que passa a vida a discutir a distribuição da riqueza, que é importante", porém, no seu entender, "o fulcral é descobrir como criar mais riqueza".
"Hoje em dia, quando olho para a economia portuguesa, as fronteiras entre os setor primário, secundário e terciário são cada vez mais móveis. Será um dos fatores transformadores da economia, porque todo o setor terciário está em transformação por causa das novas tecnologias. O ciberespaço vai transformar economia", vinca.
O ministro da Economia acredita que a implementação desta nova onda tecnológica nas empresas pode gerar transformações três vezes mais rápidas e a uma escala 300 vezes maior: "Se conseguirmos fazer bem o processo de digitalização e descarbonização, podemos abrir janelas para o crescimento económico."
Isto numa altura de grande instabilidade política, após a queda do Governo, na sequência da implicação de António Costa na Operação "Influencer".
António Costa e Silva salienta que "o Governo está em gestão, mas o país e a administração pública não estão em gestão".
"Vamos continuar a implementar todos os projetos europeus, o PT2020 está a ser concluído, os avisos do PT2030 já estão a ser lançados. O país encontrará a sua solução política, mas não podemos correr o risco de perder projetos significativos ou investidores que sinalizaram a vontade de investir no país", vinca.
Uma das vias para gerar riqueza - e, assim, combater a pobreza - é investir na indústria, melhorar o PIB e a produtividade laboral, e chamar capital estrangeiro para Portugal.
"É no chão de fábrica que temos de ganhar a batalha pela transformação da economia portuguesa", declara António Costa e Silva, que além da metalomecânica quer reforçar a aposta em setores como o turismo, a inovação ou a saúde.
Na Saúde, o ministro revela a ambição de fazer de Portugal uma fábrica da Europa:
"Com a investigação clínica de ponta que existe no país, se tivermos uma política industrial de saúde correta, Portugal pode ser uma fábrica da Europa de medicamentos. Temos quatro grandes agendas mobilizadores na área da saúde. Uma é dirigida pela Bluepharma, uma empresa de Coimbra para criar a nova geração de medicamentos injetáveis complexos."
António Costa e Silva refere que, antigamente, as empresas procuravam Portugal para instalar "call centers". Hoje em dia, querem estabelecer parcerias tecnológicas: "As empresas internacionais reconhecem no país a capacidade de recursos humanos de alta qualidade."
O governante quer ver Portugal "protagonizar" a nova geração de indústrias verdes, como o bioplástico, o aço verde, a energia solar, os carros elétricos e o lítio.
"Não queremos ter energias renováveis para ter energias renováveis. é fulcral mudar a matriz energética para fazer face às alterações climáticas. Em novembro deste ano tivemos seis dias seguidos do país em que 100% da eletricidade provinha de energias renováveis", revela.
António Costa Silva realça que nos últimos anos os governantes cometeram o "erro de travar a industrialização do país", que o ministro da Economia considera ser "absolutamente fulcral, pois está no cerne da produção de valor".
Acima de tudo, contudo, estão os recursos humanos: "A aposta crucial é a aposta nas qualificações das pessoas. No fim de 2022, dos cinco milhões de pessoas a trabalhar no país, cerca de 1,5 milhões têm formação superior. Logo, trazem consigo maior capacidade de inovação, de questionamento, de reconfigurar cadeias, de produção de maior valor acrescentado."