17 mai, 2019 - 00:33 • Susana Madureira Martins
Da boca de Catarina Martins não se ouviu falar de PS, de PSD, de CDS, de PCP ou de qualquer outro partido neste comício no pátio da Inquisição, em pleno centro de Coimbra. Também não se ouviu uma palavra sobre actualidade mediática, nem se falou do primeiro-ministro ou do Presidente da República.
A coordenadora bloquista também não falou do próprio partido e só apelou ao voto no Bloco de Esquerda nas eleições europeias de 26 de maio no final do discurso e quase de passagem. A verdade é que foram vinte minutos puramente ideológicos para falar sobre uma agenda feminista que Catarina Martins classifica como "todo um programa de direitos humanos".
A dirigente do Bloco centrou o discurso nas mulheres e nas desigualdades, dando vários exemplos, como "as precárias que trabalham em hospitais ou nas escolas, com contratos a prazo, as que são despedidas quando ficam grávidas", ou ainda " as amas da Segurança Social, ou as das misericórdias" que trabalham "sem terem direito a contratos a prazo". Deu ainda o exemplo das cuidadoras informais "que tantas vezes são obrigadas a abdicar de quase tudopara cuidar dos seus pais ou dos seus filhos, que fazem de facto o que é o serviço de todos nós onde falta o serviço público e o apoio".
E o rol de mulheres em abstracto continuou. Catarina Martins falou das mulheres vítimas de violência doméstica - "morre-se por ser mulher em Portugal" - das "mulheres que trabalham na limpeza e que fazem este país funcionar.
Quase no final do discurso percebeu-se onde, afinal, queria chegar a dirigente bloquista. O objectivo era fazer notar que Marisa Matias é a única cabeça de lista mulher nestas eleições europeias. E a frase surgiu assim: "quando alguém disser que o feminismo já não é preciso ou que os direitos já estão todos conquistados, que olhe para esta campanha, que olhe para estas eleições europeias, dezassete cabeças de lista e só há uma mulher.
Com Catarina Martins a querer causar efeito e a rematar um "felizmente, é a Marisa Matias" repetindo esta última frase, com as cerca de uma centena de pessoas na tenda instalada no pátio da Inquisição a aplaudir.
Como tirar o "sorrisinho" a Berardo?
Logo após o discurso de Catarina Martins, foi a vez de Marisa Matias falar. A cabeça de lista do Bloco de Esquerda às europeias de 26 de maio fez o resumo das três ações de campanha desta quinta-feira, defendeu o Serviço Nacional de Saúde, falou, de novo, sobre a lei de bases da saúde, confessando que está "preocupada" e que o país está numa "encruzilhada" devido à posição do PS sobre as Parcerias Público Privadas.
Depois, a cabeça de lista às europeias desafiou PS, PSD e CDS a juntarem-se ao Bloco de Esquerda para mudar o sistema financeiro, dizendo que é assim que tem de ser "se querem tirar o sorrisinho a Berardo". Marisa Matias salientou que "quando no Parlamento Europeu se disctuiu a regulação do sistema financeiro o PS, o PSD e o CDS estiveram juntos para garantir que tudo ficava na mesma".
A eurodeputada avisou, então que se "querem tirar o sorrisinho a Berardo e aos Berardos do mundo, então votem", defendendo ainda a retirada da comenda e das medalhas ao empresário madeirense.
O comício terminou ao bater das onze da noite, após um mini-concerto do músico Jorge Palma, que tocou cinco músicas, entre elas "Estrela do Mar" ou "Jeremias, o fora da lei", e após o mandatário nacional da campanha, o actor António Capelo dizer poemas de Ruy Belo.
A somar a isto, houve ainda tempo para uma intervenção da cabeça de lista do partido espanhol Podemos, Maria Eugenia Palop e do também candidato pelo Bloco de Esquerda a estas eleições, Amílcar Morais, que falou em língua gestual portuguesa sobre os problemas da comunidade de surdos em Portugal, sobre a dificuldade, por exemplo, que existe para um surdo fazer uma queixa de violência doméstica.