17 mai, 2019 - 16:49 • Vasco Gandra, correspondente em Bruxelas
O próximo Parlamento Europeu (PE) estará mais dividido e deverá ter mais deputados nacionalistas e populistas, mas os principais partidos centristas pró-UE deverão conseguir reter a maioria da câmara.
As principais projeções divulgadas nos últimos meses por várias entidades apontam na mesma direção: as duas principais famílias políticas que dominaram o hemiciclo nas últimas décadas – o Partido Popular Europeu (PPE) e os Socialistas e Democratas (S&D) – deverão perder deputados e, por tabela, a maioria no hemiciclo. No entanto, o bloco pró-europeu deverá manter-se maioritário se a essas famílias políticas juntarmos o grupo centrista dos liberais e ainda os Verdes.
As projeções divulgadas entre fevereiro e abril pelo Parlamento Europeu – com base em diversas sondagens nacionais compiladas pela Kantar Public -, sobre a distribuição de lugares na próxima legislatura, mostram algumas tendências que permitem antever a composição da próxima câmara.
São projeções que têm em conta a atual configuração do PE em termos de grupos. Mas pode haver realinhamentos de deputados ou até constituição de novos grupos políticos. Todos os novos partidos políticos e movimentos que ainda não declararam as suas intenções são incluídos na categoria “Outros”.
Reforço dos nacionalistas e populistas
As projeções devem ser lidas com prudência, até porque os inquéritos foram realizados muito antes de as campanhas nacionais terem oficialmente começado. Outras projeções mais recentes – como as do site de informação "Politico" ou da empresa de sondagens YouGov -, apontam para a mesma tendência de redução do número de deputados das duas principais famílias políticas europeias. E a eleição dos eurodeputados britânicos não deverá alterar a relação de forças prevista.
Um dos possíveis vencedores da noite eleitoral poderá ser o grupo centrista e pró-europeu dos liberais que, segundo todas as projeções, poderá aumentar a sua representação – e possivelmente contar com os deputados do partido de Emmanuel Macron. A bancada liberal, que na última legislatura alcançou 69 assentos, deverá rondar a centena no próximo hemiciclo.
Já o grupo da Esquerda Unitária deverá manter-se pelos 50 deputados (na última legislatura teve 52) e os Verdes poderão conseguir eleger mais do que os 52 eleitos na última ida às urnas, em 2014.
Todas as projeções indicam o reforço acentuado dos partidos nacionalistas, populistas e de extrema-direita na próxima legislatura, sobretudo devido aos ganhos previsíveis de forças como a Liga italiana, o movimento de Marine Le Pen em França ou o Vox em Espanha. Várias dezenas de deputados deverão assim engrossar o contingente de vozes nacionalistas anti-UE e anti-imigração no hemiciclo.
Que alianças?
O próximo Parlamento Europeu será, assim, mais fragmentado e politicamente mais incerto. No entanto, vários observadores duvidam que os eurodeputados dos partidos nacionalistas e populistas consigam juntar-se todos num só grupo político, devido aos interesses e posições antagónicos que muitas vezes revelam. A sua capacidade para paralisar a câmara parece pouco provável.
Apesar do reforço previsível destas forças e de as maiorias poderem vir a ser mais difíceis de alcançar, a soma dos deputados do grupo do PPE, do S&D e dos centristas liberais deverá ser suficiente para formar uma maioria europeísta que facilite a aprovação de legislação comunitária e garanta o funcionamento da instituição.
Não é de excluir uma reconfiguração das bancadas ou que novos grupos se formem. Mas, a julgar pelas projeções existentes, poderá ser à volta dos principais grupos centristas e favoráveis ao atual projeto da UE que se formarão as maiorias da futura câmara.