22 mai, 2019 - 00:38 • Susana Madureira Martins
O presidente da federação do PS Aveiro, Jorge Sequeira, foi o primeiro a falar no comício e anunciou Pedro Nuno Santos como "o ministro da paz social". E quando o ministro das Infraestruturas se lançou ao palco do pequeno auditório da Expo Aveiro foi a explosão na sala, com os militantes a aplaudirem de pé.
Pedro Nuno é um filho do distrito e tinha engatilhado o discurso mais ideológico que, até agora, se ouviu no período oficial de campanha para as eleições europeias.
Com o primeiro-ministro, António Costa, acabado de regressar de um encontro com o Presidente francês, Emmanuel Macron, em busca de uma frente progressista na Europa, o ministro das Infraestruturas avisou sobre os perigos que os socialistas correm com uma aproximação ao centro e aos liberais e pediu aos socialistas se questionem "o que ganhou o movimento socialista europeu com uma aproximação ao centro, com uma adesão ao liberalismo, com uma indiferenciação face ao centro-direita?"
Pedro Nuno Santos fez a pergunta e "a resposta" está "em muitos países europeus onde os Partidos Socialistas eram fortes e praticamente desapareceram", referindo que os socialistas "têm um dever para com este povo que trabalha e que não vê a sua vida a sair da cepa torta". Conclusão: "esta é a responsabilidade que os socialistas europeus e os sociais-democratas têm em toda a Europa".
O ministro das Infraestruturas assume que os socialistas "cometeram erros" e deu o exemplo "das privatizações durante décadas".
No futuro, a Europa precisa de "uma tensão construtiva, de uma tensão saudável nas instituições europeias, porque democracia é isso, democracia é conflito, é dicotomia, é diferença, é também capacidade de dialogar, conseguir compromisso, a democracia tem de ter esta tensão permanente que os socialistas querem levar ao coração da Europa".
Um discurso que teve um cheirinho de resposta por parte da secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes. A dirigente nacional do PS falou em Aveiro em representação do líder socialista, António Costa, e foi por isso a última a falar. E uma das coisas que defendeu foi, exatamente, a necessidade de os socialistas serem "uma frente progressista para o desenvolvimento do projecto europeu".
Ora, esta é uma ideia que Costa tem defendido nesta campanha para as europeias desde o discurso em Mangualde que marcou o arranque da caravana, falando dessa "frente progressista" entre europeus que podia reunir desde o Presidente francês ao primeiro-ministro grego, Tsipras.
O outro Pedro, o "homem sério e competente"
Por duas vezes, Pedro Nuno Santos fez questão de dizer, nesta intervenção em Aveiro, que "em Portugal o PS é a casa da social-democracia", falando ainda de Pedro Marques, o cabeça de lista dos socialistas a estas europeias e seu antecessor na pasta das Infraestruturas como "um homem sério e competente".
Foi, então, a vez desse "homem sério e competente" falar à plateia para dizer algo que ainda não tinha dito no período oficial de campanha. Que a direita europeia está a aproximar-se do discurso da extrema-direita, acusando o Partido Popular Europeu (PPE), a família política de PSD e CDS de ter "um programa securitário".
O candidato número um dos socialistas pegou no manifesto do PPE e falou da alegada intenção da direita de criar "uma espécie de polícia contra os refugiados e os migrantes", por esta defender uma guarda costeira com a prerrogativa de intervenção direta nas fronteiras de cada Estado-membro.
Para Pedro Marques, a direita europeia "está a ceder às ideias daqueles que são a fronteira vermelha, que são os xenófobos e a extrema-direita", rematando que não se revê "neste tipo de programa".
Uma sessão com militantes onde houve o óbvio apelo ao voto naquela que é a segunda semana de campanha. "Não há votos fúteis, todos os votos contam", diz Pedro Marques, ideia reforçada pela secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, que mais uma vez dramatizou o regresso de Pedro Passos Coelho à campanha eleitoral do PSD, dizendo que até "foi bom e até pedagógico ver o regresso " do ex-primeiro-ministro, porque afinal "todos nos lembramos daquele que prometeu que não cortava subsídios de Natal e cortou".
Ali ao lado da Expo Aveiro, a escassos quilómetros do outro lado da cidade, estava a caravana de Paulo Rangel, o cabeça de lista do PSD a estas europeias de 26 de maio, acompanhado pelo líder do partido Rui Rio também num comício ao ar livre.