27 mai, 2019 - 07:00 • Rui Barros
Veja também:
O Partido Socialista sai vencedor e o PSD sofre uma derrota histórica numas Europeias que deram ao Bloco de Esquerda o título de terceira força política portuguesa na Europa pela segunda vez na sua história.
Lá fora, e como já é hábito, há governos a tirar consequências dos resultados, numa Europa onde o populismo de extrema-direita ganhou terreno, mas não tanto como se esperava. Complicadas ficam as contas no Parlamento Europeu, onde novas geometrias serão testadas com o fim do “bloco central”.
Olhamos para os números, e, à lupa, mostramos-lhe os principais resultados do segundo maior sufrágio do mundo: as eleições europeias.
Mapa cor-de-rosa. PS pinta o país de rosa no pior resultado “laranja” de sempre
As sondagens já tinham avisado, mas nada como olhar para o mapa para perceber. Só a Madeira e Vila Real “escaparam” à onda rosa do Partido Socialista que conseguiu 33,39% dos votos, elegendo nove eurodeputados - aumentando assim a sua representação no Parlamento Europeu. É uma vitória dos socialistas e do seu líder, António Costa, que repete o feito de Guterres ao conseguir que o partido no Governo vença as europeias. Já não acontecia há 20 anos.
Para o bom desempenho socialista terá contribuído o péssimo resultado do PSD. Nunca o Partido Social Democrata (PSD) teve um tão fraco desempenho eleitoral.
Rio admite a derrota - nem cresceu "muitíssimo" para ganhar as eleições, nem cresceu "muito" para aumentar o número de mandatos no Parlamento Europeu - mas diz que não atira a toalha ao chão. Prepara-se o segundo round - as legislativas.
Mas lá fora reina o PSD
Foi um mau resultado para o partido Rio mas, se servir de prémio de consolação, os social-democratas poderão ficar felizes se focarem a atenção para os votos “lá fora”. O PSD registou mais votos dos portugueses a residir na África, América, Ásia e Oceania, mas “perdeu” em quase todos os países europeus.
Bloco e PAN a crescer, “brancos e nulos” chegam ao quarto lugar
Um dos grandes vencedores da noite é o Bloco de Esquerda. A lista encabeçada por Marisa Matias consegue dois eurodeputados e volta a conquistar o título de terceira força política.
Em quarto e quinto lugar ficam a CDU e o CDS, que vêem recuar o número de eurodeputados eleitos. Isto, claro está, porque a coligação “Brancos e Nulos” não entra nestas contas. Mais de 140 mil votos não tinham qualquer cruzinha e quase 89 mil não puderam ser validados como votos “de facto”. Se os dois fossem um partido, eram quartos.
Vencedor inequívoco é o PAN. Consegue pela primeira vez um eurodeputado, que se vai juntar à família dos partidos “Verdes” no Parlamento Europeu - uma das famílias políticas “surpresa” da noite.
Basta, mas poucochinho, no Corvo
Antes das eleições, a Renascença foi à ilha do Corvo perceber como é que vive a ilha habitada mais pequena do país. Percebemos que os fundos europeus transformaram o Corvo. Na hora de votar, os corvinos deram uma vitória inequívoca ao Partido Socialista.
Mas numa ilha em que 326 pessoas estavam inscritas para votar, só o primeiro lugar segue a tendência do país. O “Basta!”, de André Ventura, só precisou de 9 votos para se tornar a segunda força política da ilha.
Participações eleitoral a subir? Sim, mas não contem connosco
Numas eleições em que os níveis de participação eleitoral são sempre baixos, este ano há motivos para os europeístas celebrarem. Desde 1994, quando a União Europeia (UE) ainda era a 12, que não se registava um valor tão alto de participação eleitoral - os dados preliminares apontam para uma participação eleitoral a rondar os 50%.
Mas a participação eleitoral não é toda igual e os portugueses não podem orgulhar-se de contribuir para esta subida. A confirmar-se o valor de quase 70% de abstenção, Portugal junta-se a Bulgária, Croácia, República Checa, Eslovénia e Eslováquia na cauda da participação eleitoral - fomos, de acordo com os dados provisórios, o segundo país com a maior descida face às últimas europeias
O número de portugueses a ir votar até aumentou face a 2014, mas o recenseamento automático de portugueses fora do país veio complicar as contas. Quando faltavam apenas 9 consulados por apurar, tinham votado 3.312.579 dos 10.549.427 inscritos.
Espectro da extrema-direita
Em Portugal os partidos populistas e de extrema-direita não conquistaram votos, mas o mesmo não pode ser dito sobre outros países da União Europeia.
Em França, a União Nacional de Marine Le Pen até teve menos do que nas últimas europeias, mas venceu o partido de Macron e, por isso, cantou vitória. Em Itália, A Liga, de Matteo Salvini, ganha as eleições europeias chegando aos 30%. Em Espanha, o Vox pode ter eleito quatro ou cinco eurodeputados, mas, na Alemanha, o NPD deverá perder o único eurodeputado que tem.
A extrema-direita cresce e ganha lugares no Parlamento Europeu - mas não tantos como se receava. No espectro mais à direita no Parlamento Europeu estão agora os grupos da “Europa da Liberdade e Democracia Direta” - com 56 membros, e grupo “Europa das Nações e da Liberdade” - com 58 membros.
Nova geometria parlamentar com maré verde e liberal
Mas se é dos que acha que, apurados os resultados, as contas ficam fechadas, está muito enganado. Distribuídos os assentos parlamentares pelas diferentes famílias políticas, é hora de começar a negociar nomeações - com especial destaque para a nomeação do sucessor de Jean-Claude Juncker à frente do executivo comunitário.
E, no jogo das nomeações, é preciso fazer novas contas. É que pela primeira vez PPE e Socialistas não conseguem uma maioria conjunta. Significa isto que vai ser preciso um terceiro grupo político para chegar a consensos. E, aqui, entram dois dos grupos políticos que podem ser tidos como grandes vencedores da noite eleitoral: os Liberais e os Verdes. Os liberais do ALDE têm 107 eurodeputados e os Verdes (onde se incluí o primeiro eurodeputado do PAN), 70. E estes partidos querem ter uma palavra a dizer na dança de cadeiras em Bruxelas.
Terramoto na Grécia
Na Grécia, as coisas não correram bem a Alexis Tsipras. O Syriza, no poder desde 2015, terá ficado nove pontos percentuais atrás do principal partido da oposição, o Nova Democracia. O resultado é mau, e por isso o primeiro-ministro grego não esperou pelo fim do seu mandato, em outubro. Convocou eleições antecipadas.
Puigdemont a eurodeputado?
Em Espanha, o PSOE venceu, mas o caso mais caricato vai para a situação de Carles Puigdemont. O homem que declarou a independência da Catalunha é cabeça de lista do Juntos Pela Catalunha, que, de acordo com as últimas projeções, elege um eurodeputado.
Puigdemont até já está na Bélgica, só que está lá por obrigação. É que desde a declaração unilateral da independência da Catalunha, Puigdemont tem uma ordem de detenção em Espanha, o que o levou a exilar-se neste país. Para “reclamar” o seu lugar como eurodeputado, Puigdemont tem de ir a Espanha, onde provavelmente acabaria detido.