28 mar, 2017 - 13:24
João António pisou pela primeira vez o santuário de Fátima com os pés inchados, cobertos de sangue e de terra. Chegou descalço e foi assim que saiu de São João da Pesqueira, a 300 quilómetros. A pele estava tão seca pelo calor e pela exigência do caminho que as gretas deixavam ver a carne ferida. “Tinha muitas, muitas dores.” Exausto, aproximou-se da Capelinha das Aparições, ponto central do recinto, onde está a imagem de Nossa Senhora, e sentiu-se renovado. “Inundou-me uma grande paz. Foi como se tivesse deixado ali o meu sofrimento”, conta o serralheiro, na altura com 33 anos.
João, serralheiro de São João da Pesqueira, caminha descalço há 14 anos pela saúde do filho. Constança e Gonçalo foram preparar-se para o casamento. Marleen foi a Fátima depois de ter feito um aborto. Joaquim vai lá há quase meio século: partiu pela primeira vez em Maio de 1971, meses depois de ter regressado da guerra da Guiné – tinha prometido que se saísse vivo da antiga colónia iria à Cova da Iria a pé.
São histórias reunidas em “Peregrinos”, da autoria das jornalistas Ana Catarina André e Sara Capelo, o novo livro da colecção "Retratos" da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS).
Na origem deste livro de reportagens está uma conversa entre as autoras, uma agnóstica (que nunca fora à Cova da Iria) e uma católica (que já peregrinara), sobre quem são as pessoas que vão a Fátima a pé para cumprir promessas ou agradecer.
“Só em 2016 estiveram no Santuário mais de cinco milhões de fiéis, entre portugueses e estrangeiros. Muitos chegam depois de longas caminhadas. O que os leva a percorrerem centenas de quilómetros a pé?”, acrescenta.
“Peregrinos” será apresentado no dia 7 de Abril, a partir das 16h45, no Auditório da Renascença, em Lisboa, com a presença das autoras, Pedro Diogo, um dos peregrinos retratados, e do padre José Tolentino Mendonça.
A conversa, moderada pelo jornalista José Pedro Frazão, terá directo vídeo no site da Renascença e será também parcialmente transmitida na antena da rádio.
A apresentação tem entrada livre, mas requer inscrição prévia no site da FFMS. As primeiras 50 inscrições recebem um exemplar de “Peregrinos”.