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Reportagem

​Negócios de Fátima dizem que não sobem preços. Em dois dias factura-se por dois meses

09 mai, 2017 - 13:45 • João Carlos Malta

Há quem vá dormir no local de trabalho e quem planeie estar aberto 24 horas. O negócio aumenta, mas também as medidas contra os que aproveitam a confusão para furtos.

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“Não vamos subir”. “Os preços estão tabelados, não mudamos”. “Vão ficar em linha com o resto do ano”. Se os preços do alojamento em Fátima chocam muita gente, com quartos ou autocaravanas a custarem mil ou dois mil euros por noite, os comerciantes locais dizem que não vão mexer nos preçários, apesar da multidão esperada para ver o Papa Francisco, nos dias 12 e 13 de Maio.

João Manhãs gere dois restaurantes em Fátima, o Manhãs e a Casa Marcelino. Diz que nem os fornecedores de produtos aumentaram os preços nem ele fará crescer os valores da ementa nos dias em que o Papa estiver em Fátima para comemorar o centenário das aparições na Cova da Iria. Ali, uma refeição para uma pessoa vai custar ente 12 a 14 euros.

O gerente não evita o lamento. “Estou em Fátima há 30 anos e para mim já é a minha terra. Dói-me um pouco quando ouço falar da especulação de Fátima, o aumento de preços nos hotéis. É normal que haja pessoas que abusem um pouco, mas ninguém falou de Lisboa na final da Liga dos Campeões [em 2014] desta maneira”, recorda. “Tenho quase a certeza que a maior parte dos agentes económicos de Fátima são conscienciosos.”

Um pouco mais acima, na rotunda Sul, no restaurante Sonabrasa, o gerente Rui Marques diz que os preços vão estar “em linha” com os do resto do ano. “Nós temos clientes todos os dias do ano”, justifica. As diárias serão servidas a preços entre oito e nove euros.

Rui Marques rejeita quem vê em Fátima um fenómeno idêntico ao turismo sazonal. “As pessoas não vêm cá só uma vez, vêm várias, o que não quer dizer que não possa haver um ajuste ou outro. Mas será mais através da introdução de novos pratos”, explica.

Nas lojas de artigos religiosos, o discurso é o mesmo. Na Praceta de Santo António, Lídia Jorge garante que não pode “alterar os preços todos os dias”. “Temos artigos do ano anterior, somos fiscalizados e os preços mantêm-se. Aliás, as peças já vêm marcadas”, sublinha.

Num outro estabelecimento onde se vendem os mesmos produtos, a Loja Santos, Anabela Lopes é liminar: “São sempre os mesmos. Seria impensável remarcar os artigos do ano passado e de há dois anos.”

Dois dias que valem por dois meses

As estimativas de um milhão de visitantes em Fátima fazem crescer as expectativas em relação à facturação. João Manhãs, dos restaurantes Manhãs e Casa Marcelino, afirma que estes dois dias podem equivaler a dois meses de facturação. “Vale tanto como os meses mais fracos, como Dezembro e Janeiro”, explica o empresário.

Idênticas expectativas tem Clueza Marques, da loja de velas Blue Stone, que estará aberta 24 horas sobre 24 horas. “O ponto forte será a missa das velas”, antecipa. “Espero que valha tanto como um mês de facturação.”

Para poder trabalhar em contínuo, a Blue Stone vai contratar mais três ajudantes, todas estudantes universitárias, para esta época – uma prática comum em Fátima no Verão e nas peregrinações mais importantes, com pagamentos que começam nos 25 euros por dia.

O lado B

A facturação aumenta nestas datas importantes, mas os comerciantes apontam o reverso da medalha: aqueles que, no meio da confusão, se aproveitam para roubar.

Anabela tem já uma estratégia para proteger a sua loja de artigos religiosos: o estabelecimento tem quatro portas, mas só duas vão estar abertas. Já está escaldada depois de outras visitas papais. “Prefiro poder fechar as portas se a loja estiver cheia para controlar quem cá está dentro”, avisa.

“Quando fazem um furto nem damos por ela. Quando foi o Papa João Paulo II, passei pela porta da dispensa e tinha pessoas a ensacar camisolas para levarem para casa. Perguntei o que estavam a fazer e as pessoas nem conseguiram responder com a vergonha”, lembra.

O peregrino “tem os tostões contados”

Entre os comerciantes também há quem não veja o potencial de negócio aumentar muito nestes dias. Ricardo Torres vende bijuterias na Evidências e diz que estes dois dias não serão extraordinários.

“O peregrino não é um bom comprador. Vem ao Santuário, sai do Santuário, vai para casa e não gasta muito dinheiro. Tem os tostões contados”, explica. “Os emigrantes em Agosto gastam mais. A gente quer é os estrangeiros.”

“Há mais movimento, mas não é muito maior o movimento”, diz Martinho, dono de uma sapataria com o mesmo nome. “Vendem-se mais chinelos. As pessoas querem largar os sapatos, têm os pés inchados.”

Uma noite a dormir no carro, na loja ou no restaurante

O afluxo de pessoas a Fátima vai também provocar grandes mudanças na logística dos comerciantes locais. João Manhãs antecipa que a vinda de Francisco será semelhante à de João Paulo II em 2000. “Não consegui fechar de 12 para 13. Queríamos encerrar e não conseguíamos. Havia sempre clientes no café”, lembra.

Por isso, só resta uma alternativa: “Penso que vamos ser peregrinos também, vamos improvisar, vamos dormir nos carros. De 12 para 13 vamos ter de dormir no local de trabalho.” Nesses dias, devido aos condicionamentos do trânsito, não iriam “conseguir nem sair, nem voltar a entrar” no local de trabalho.

Anabela, da Loja Santos, fará o mesmo às jovens que a vão ajudar naqueles dias. Moram perto de Fátima, mas não poderão ir a casa. “Já lhes disse que tinham de ficar a dormir aqui em minha casa.”

A lojista reconhece o impacto financeiro destes dias, mas acaba por desabafar: “Só queremos que chegue dia 15”.

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  • Carlos
    10 mai, 2017 Marinha Grande 04:44
    Um dos mandamentos não proíbe o fabrico e a veneração/adoração de "imagens sagradas"?... Já para não falar do seu comércio, claro!...
  • ZédoNabão
    09 mai, 2017 Tomar 23:15
    Só um Povo muito Humilde, e porque não atrasado, é que acredita nisto!...
  • JP
    09 mai, 2017 Lisboa 21:08
    A Bíblia ensina os Cristãos que no templo sagrado não se fazem negócios. Por isso Jesus se revoltou junto ao templo e correu com os fariseus de tal ordem que não ficou pedra sobre pedra.

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