01 fev, 2019 - 13:34 • Redação
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Rui Pinto, o "hacker" que terá divulgado os e-mails do Benfica e cujos advogados já confirmaram ser o denunciante por trás do Football Leaks, acusa o Estado português de sabotar as investigações europeias em curso, nomeadamente de França e da Suíça, com as quais o português estava a colaborar.
Na primeira entrevista desde que a sua identidade foi revelada, após ter sido detido em Budapeste, na Hungria, há cerca de uma semana, o hacker português acusa ainda Portugal de querer silenciá-lo e de ter "medo" do que ele possa revelar.
A entrevista, conduzida pela revista alemã "Der Spiegel", em conjunto com a televisão pública alemã NDR e o grupo de media francês "Mediapart", foi publicada esta sexta-feira. Nela, Rui Pinto conta como, em dezembro, "foi divulgada informação da maior sociedade de advogados de Portugal", a PLMJ, e que a polícia achou que ele estava envolvido. Uma "simples ordem de investigação europeia tornou-se um mandado de detenção europeu" contra o denunciante.
"Foi chocante", diz. "De repente, só por causa dessa fuga de informação, que eles acham que fui eu a fazer mas sem qualquer prova, criaram toda esta confusão internacional. Eu estava a colaborar com as autoridades francesas, a começar uma colaboração com as autoridades suíças e provavelmente ia começar novas colaborações para investigações mais profundas. De repente, Portugal sabotou tudo. Sabotou por medo de que eu saiba demasiado e de que partilhe estes dados, que eles acham que eu tenho, com jornalistas ou outros países. Por isso, acho que Portugal só me quer silenciar e omitir o que está no meu portátil. Têm medo."
"Não terei um julgamento justo em Portugal"
Rui Pinto não se considera um "hacker", mas "um cidadão que agiu em nome do interesse público", que revela "práticas ilícitas que afetam o mundo do futebol". É fã de Cristiano Ronaldo e adepto confesso do FC Porto, no entanto, garante que não tem "qualquer agenda escondida".
O "whistleblower" tem noção da "propaganda" e de que "estão a tentar" passá-lo por criminoso e pirata informático, em Portugal.
"Podem dizer o que quiserem. Não posso divulgar o que tenho no meu computador, mas uma coisa posso dizer: as autoridades europeias deviam vê-lo. Mas não as autoridades portuguesas, porque não querem investigar os crimes, querem apenas usar o que encontrei contra mim. Essa é a diferença", atira o denunciante, na mesma entrevista.
Rui Pinto, que assegura que "nunca" ganhou dinheiro com as informações que recolheu, não quer ter de enfrentar a justiça em Portugal, porque acredita que não seria tratado de forma "justa":
"Tenho quase a certeza de que não terei um julgamento justo em Portugal. O sistema judicial português não é inteiramente independente, existem muitos interesses escondidos. Claro que há procuradores e juízes que levam o seu trabalho a sério, mas a máfia do futebol está em todo o lado. Querem passar a mensagem que ninguém se deve meter com eles."