13 abr, 2019 - 17:07 • Joana Azevedo Viana
A procuradoria-geral francesa está a negociar com as autoridades portuguesas a possibilidade de Rui Pinto receber imunidade para evitar que seja julgado no âmbito de uma alegada tentativa de extorsão de agentes da Doyen Sports em 2015.
A informação foi avançada pelo jornal britânico "The Guardian" este sábado, num artigo intitulado "Como o caso Football Leaks se tornou num enorme escândalo político em Portugal".
O pirata informático português já admitiu ser um das fontes por trás do Football Leaks, após ter enviado milhares de documentos relacionados com esquemas de corrupção no futebol internacional ao consórcio EIC (European Investigative Collaborations).
"[Rui Pinto] tem mais medo do que vai acontecer no palco político, porque o futebol está completamente entranhado nos mecanismos do Estado português", revela ao "Guardian" Rafael Buschmann, jornalista da revista alemã "Der Spiegel", uma das parceiras do EIC.
"Quando ele me disse isso pela primeira vez", explica o jornalista, "não estava seguro de que assim fosse, mas quando me apercebi do envolvimento de António Cluny [procurador que representa Portugal na Eurojust – Unidade Europeia de Cooperação Judiciária] pensei 'Bolas, ele tem razão'."
Recentemente, foi revelado que o filho de Cluny, o advogado João Lima, trabalha para a Morais Leitão, a sociedade que representa uma série de personalidades de futebol envolvidas no escândalo, entre elas Cristiano Ronaldo, José Mourinho e outros representados pelo 'super-agente' Jorge Mendes e a sua agência, a Gestifute.
Com o pedido de imunidade, França pretende que Rui Pinto continue a colaborar livremente com as investigações à corrupção no futebol em curso nesse e noutros países europeus.
Especialistas em Direito Penal já garantiram à Renascença que o português só será abrangido pelo recém-criado Regime Europeu de Proteção de Denunciantes se se provar que ele não tentou extorquir agentes da Doyen há quatro anos.
Neste momento, as autoridades francesas já têm em sua posse 26 terabites de dados cedidos pelo denunciante português, bem acima dos 3,4 teras de informação que Rui Pinto tinha enviado ao EIC em 2016, e que incluíam emails privados de algumas das figuras mais influentes do mundo do futebol.
No final do mês passado, foi revelado que França fez cópias de todos os documentos na posse de Rui Pinto por temer que Portugal os apagasse.
A informação chegou dias depois de o português ter perdido o recurso interposto ao pedido de extradição feito por Portugal à Hungria, onde foi mantido em prisão domiciliária até ser efetivamente extraditado para Lisboa, a 21 de março.
Está indiciado pela prática de quatro crimes: acesso ilegítimo a informações privadas, violação de segredo, ofensa à pessoa coletiva e extorsão na forma tentada.