28 ago, 2019 - 20:58 • Redação
O primeiro-ministro e secretário-feral do PS afasta a possibilidade de um Governo de coligação com os partido à esquerda. Em entrevista à TVI, António Costa diz que “é melhor não estragar uma boa amizade com um mau casamento”, numa referência a um eventual executivo socialista, com ministros de outros partidos, como PCP ou Bloco de Esquerda.
Depois da "Geringonça" dos últimos anos, o chefe do Governo diz que não vai pedir uma maioria absoluta porque recusa "fazer chantagem" com os cidadãos portugueses: "não tenho dúvidas de que os portugueses não gostam de maiorias absolutas", afirmou.
“Nunca pedi maioria porque acho que isso não é coisa que se peça. Não faço chantagem com os portugueses. É fundamental que o PS saia reforçado destas eleições” para enfrentar os desafios externos, como uma eventual recessão mundial ou o Brexit, e internos, disse o primeiro-ministro nesta entrevista de pré-campanha para as legislativas de 6 de outubro.
Questionado sobre a possibilidade de formar Governo com o PAN, António Costa disse não saber se o Partido das Pessoas, Animais e Natureza quer integrar um executivo.
"Um Governo tem de ser entidade coesa. Não devemos dar passos que não sejam seguros. Não sei se o PAN quer ser Governo. O PAN é partido importante, os sinais apontam que vai crescer nas legislativas e estamos disponíveis para trabalhar com o PAN."
Sobre a continuidade do atual ministro das Finanças num novo Governo socialista, António Costa diz não ter razões para duvidar que Mário Centeno se mantém disponível para a vida política ativa e para a governação.
“A formação do Governo será feita na altura própria. Não antecipo grandes alterações de fundo do governo se os portugueses deram a vitória ao PS”, frisou.
"Perante uma crise não estaremos tão expostos como em 2011"
Portugal está agora melhor preparado para enfrentar o “diabo” de uma eventual crise internacional, garante o primeiro-ministro, "com certeza" não vai sofrer o impacto que sofreu na sequência da crise de 2008, que levou a uma nova intervenção da troika.
“Hoje estamos melhor preparados, porque défice está próximo do equilíbrio e a dívida descendente e temos a confiança dos mercados. Perante uma crise não estaremos tão expostos como em 2011.”
Qualquer crise internacional "será problemática", admite o líder socialista, "mas hoje estamos melhor preparados e temos mais instrumentos para enfrentar essa crise". António Costa defende a necessidade de manter a estabilidade e o equilíbrio, com devolução de rendimentos às pessoas e criação para as empresas fazerem negócios, "mas nunca dando um passo maior do que a perna para não nos colocarmos numa situação de risco".
Costa diz a professora que só promete o que pode cumprir
Questionado por uma professora sobre o descontentamento existente na classe, em vésperas de início do novo ano letivo, António Costa respondeu que só promete o que pode cumprir.
“Posso não a convencer, mas há uma coisa que eu tenho de estar convicto daquilo que eu digo e daquilo com que me comprometo: nunca me comprometerei com nada que não esteja convicto", declarou o líder socialista.
"Eu sei que os professores se sentem enganados ao longo de vários anos sobre a forma como foi desenhada a sua carreira e como a sua carreira não foi cumprida. Precisamente por saber isso, eu nunca assumi qualquer compromisso com os professores além daquilo que sabia que podia fazer e fomos ao limite dos limites daquilo que podíamos fazer."
"Isso permitiu já que um terço dos professores já tenham progredido e que, nos próximos quatro anos, em média, todos os professores poderão progredir dois escalões e isso é uma mudança muito significativa depois de duas décadas onde havia a ilusão de uma carreira que não foi cumprida e de congelamentos sucessivamente impostos. E se há algo fundamental, também para a motivação, mas seguramente para a confiança entre todos, é ninguém assumir compromissos além daquilo que pode cumprir", declarou.
Confrontado com as críticas de uma representante dos enfermeiros, o primeiro-ministro respondeu que cumpriu a promessa de repor horário de trabalho de 35 horas, aumentar número de enfermeiros no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e descongelamento de todas as carreiras na Função Pública.
"Portugueses dão agora atenção aos serviços públicos, e isso é bom”
Nesta entrevista à TVI, o primeiro-ministro foi confrontado com as falhas nos serviços públicos, nomeadamente no acesso à saúde ou no processo de conseguir documentos.
António Costa admite que "há problemas para resolver" e olha para a obra feita, para os médicos e enfermeiros contratados e conta que demorou três horas para tirar o Cartão do Cidadão, numa loja em Marvila.
Para o líder socialista, os portugueses podem agora preocupar-se com o estado dos serviços públicos porque o estado do país é melhor.
“Felizmente para o país, hoje há uma nova atenção à realidade dos serviços públicos, porque há quatro anos o nível de preocupação das pessoas estava num nível diferente. Tínhamos um desemprego de 12,6%, pensões e vencimentos da Função Pública cortados, um enorme aumento de impostos, as pessoas viviam numa angústia e numa incerteza permanente, por isso, davam pouca atenção ainda a qual era a realidade. Hoje, felizmente, graças a termos resolvido essa questão essencial, que era as pessoas estabilidade e confiança no dia a dia, dão agora nova atenção e exigência aos serviços públicos, e isso é bom”, argumentou.
Liberdade de voto na eutanásia
Em relação à legalização da eutanásia em Portugal, tema que o Bloco de Esquerda promete trazer na nova legislatura, António Costa diz que o PS vai dar liberdade de voto aos seus deputados.
“O PS decidiu quando foi esse debate que era uma questão de consciência de cada um dos seus deputados, assegura a liberdade de voto, mas não tem uma posição de partido sobre essa matéria e respeitaremos e daremos liberdade aos deputados do Partido Socialista para votarem em consciência como entenderem sobre essa matéria”, garantiu.