07 out, 2019 - 16:12 • José Pedro Frazão , Tiago Palma
É unânime concluir, pelo menos nas hostes do PS, que o partido foi o grande vencedor da noite eleitoral de domingo. E concluem-no Francisco Assis e o Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (que não garante se vai ser reconduzido no cargo) Duarte Cordeiro.
Onde não concordam é, por ora, em como deve, ou não, António Costa governar, se formando uma “gerigonça 2.0”, mais alargada – nomeadamente ao PAN e ao Livre –, ou desprender-se totalmente desse passado recente. Assis optaria pela segunda opção.
E explica: “O António Costa para ser primeiro-ministro há quatro anos dependia inteiramente do entendimento com os partidos da esquerda radical. Agora, ele ganhou as eleições, não está nem de longe nem de perto dependente deles. Ele diz que pretende reeditar a ‘geringonça’. E alargá-la. Mas o PS pode sempre apresentar um Governo minoritário. Não vejo com bons olhos nenhuma outra solução. A governação não pode ficar dependente de nenhum desses partidos.”
A Costa, Assis aponta um exemplo do passado. “Eu preferiria um Governo minoritário disponível para negociar [orçamento a orçamento], como aconteceu com Guterres, com sucesso, entre 1995 e 1999. Isso pode pôr em causa os quatro anos, [o Governo] pode não durar mais do que dois, mas prefiro isso.”
Por sua vez, Duarte Cordeiro não fecha a porta ao Bloco de Esquerda nem ao PCP, mas não rejeita, também, a abertura dessa mesma porta ao PAN e ao Livre. E não fecha porque a votação, no entender de Duarte Cordeiro, deixou isso bastante implícito. ´
“Os portugueses quiseram a continuidade da actual solução política. A interpretação que se faz é que deve haver entendimento com os partidos que durante a campanha mostraram disponibilidade para tal, neste caso, o PAN e o Livre. Bloco e PCP? Ainda é precoce falar disso. Esperamos que os entendimentos sejam no sentido da continuidade e da estabilidade”, conclui.
Por falar em nova "geringonça", o fundador do Livre (que elegeu Joacine Katar Moreira como deputada), Rui Tavares, garante que prefere isso mesmo: um acordo, escrito, de médio prazo, a ter que negociar orçamento a orçamento com António Costa.
E deixa um recado à esquerda, nomeadamente ao Bloco e ao PCP: numa nova solução governativa não podem caber partidos que estão a pensar derrubar essa mesma solução. “A geringonça foi importante para reverter medidas erradas da direita e da troika, mas não foi suficiente para fazer as reformas estruturantes de que o país precisa. A esquerda tem que assumir as suas responsabilidades. O que não pode haver é dois partidos a vigiarem-se mutuamente e pensar em derrubar o Governo para ir novamente a eleições”, lembra.
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E se à esquerda foi unânime concluir que a noite eleitoral foi de vitória, à direita, do PSD ao CDS, todos assumem a derrota. Mas enquanto os centrista pretendem mudanças imediatas (a própria líder Assunção Cristas, ao anunciar a saída, abre a porta a isso), nos sociais-democratas a prioridade é “reflectir” antes de mudar – se tiver que mudar.
O deputado do PSD Duarte Marques entende que há que “dar o benefício da dúvida” a Rui Rio. Apesar de tudo.
“Sempre que não se ganha é um mau resultado. Quem disser que é um grande resultado não esta a dizer a verdade.” Duarte Marques olha, então, para o copo meio cheio, como Rio o fizera no seu discurso de domingo: “Agora, e tendo em conta o contexto e as circunstâncias – a propaganda do Governo só faltou anunciar uma Torre Eiffel em Lisboa –, António Costa tinha todo o espaço para ter maioria e não teve. Portanto, correu melhor do que o que contávamos. O PSD teve um mau resultado nas europeias, fez uma boa campanha [nas legislativas] e melhorou as expectativas.”
O tempo agora, defende Duarte Marques, é o de não dar tréguas ao PS. Para isso, é preciso evitar a todo o custo a confusão interna no próprio partido.
“O PSD entrar em convulsão agora seria extemporâneo. Se Rio vai embora ou não vai? A decisão é do próprio. O PSD deverá ter um Concelho Nacional para avaliar a situação. Mas sair agora seria estender uma passadeira vermelha a António Costa para fazer o que quisesse. Não lhe podemos facilitar a vida”, explica.
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No CDS, Diogo Feio vê o resultado de domingo como “um recuo de 30 anos” no partido.
Assim sendo, “é preciso pensar numa nova proposta política”. “Perdemos espaço no centro-direita. Perdemos para pequenos partidos que vieram ocupar o espaço do CDS no plano eleitoral”, explica. Para recuperar tal espaço, Diogo Feio só vê uma solução de liderança: com um dos deputados agora eleitos, seja João Almeida, Cecília Meireles, Telmo Correio ou Ana Rita Bessa.
Mas qual deles é o melhor sucessor de Cristas? “Todos os são uma boa solução, não vou fazer um ranking. O partido tem cinco deputados e há neles muita responsabilidade para o futuro. A liderança tem que passar por alguém que lá esteja.”