07 out, 2019 - 18:11 • Pedro Mesquita
O PS venceu as eleições, mas há um concelho que derrotou António Costa, em toda a linha. Vagos, no distrito de Aveiro, foi nestas eleições uma espécie de “aldeia gaulesa”. Os social-democratas atingiram a maioria absoluta (52,25%), enquanto os socialistas não chegaram sequer a 17% - o pior resultado no país.
O presidente da Câmara de Vagos, Silvério Regalado, do PSD, desvenda à Renascença o segredo deste resultado, sublinhando, pelo meio, que o líder do PSD, Rui Rio, deveria deixar a liderança do partido.
Qual foi o segredo do PSD em Vagos?
O segredo é o trabalho. Fizemos uma campanha em todas as freguesias, fizemos sessões de esclarecimento, contactámos com as pessoas, demos a cara constantemente. Durante as europeias fizemos a exatamente a mesma coisa.
Foi isso que faltou a Rui Rio?
Eu diria que sim, acho que faz falta contactar as pessoas, chegar às pessoas e ao nosso eleitorado, e isso é uma característica fundamental de um líder partidário e eu acho que, infelizmente, por diversas razões, isso faltou nesta campanha eleitoral e no nosso eleitorado isso sentiu-se.
Felizmente, em Vagos conseguimos combater esse distanciamento, mas obviamente não foi sequer suficiente para contribuir com uma vitória em Aveiro, que é um distrito marcadamente laranja e que infelizmente perdemos, pela primeira vez o PS elege mais deputados do que o PSD.
Legislativas 2019
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Que conselhos deixa a Rui Rio?
Eu acho que o exercício de reflexão que ele vai fazer com certeza que o levará à conclusão lógica, que é a de que, neste momento, não tem condições para continuar a liderar o partido, deve deixar o lugar para outros protagonistas, outros atores com outra estratégia.
Quem gostaria de ver a liderar o PSD?
Mais importante do que saber quem vai liderar o partido no futuro é a mensagem que esse líder tem que ter. Tem de ser um líder forte, com um percurso político, tem de ser um líder que respeite a história do PSD e que tenha lutado por ela.
Isso não acontece com Rui Rio?
Eu já estou a falar do futuro. Tem de ser um líder agregador. Estamos num momento de reflexão. É bom lembrarmos que quebrámos um ciclo de vitórias consecutivas que tínhamos tido e isso é inegável, e portanto o próximo líder terá de vir com uma mensagem nova, uma mensagem mais fresca, novos atores e esses atores não quer dizer que sejam novos de idade, quer dizer que sejam pessoas novas, com novas ideias e novas reflexões e com isso fazer com que as pessoas se sintam mais motivadas a ir votar.
O PS teve em Vagos o pior resultado do país, 16,99%. Não receia as consequências dessa derrota para o Partido Socialista que vai novamente formar Governo?
Não, não. Julgo que há uma cultura democrática muito grande no nosso país, que é transversal ao PS, ao PSD e a vários outros partidos. Infelizmente já partiu uma pessoa de quem eu era particular amigo, tenho vários amigos no PS, colegas de faculdade, por exemplo o Pedro Nuno Duarte, mas tinha um grande amigo que foi o João Vasconcelos, secretário de Estado da Indústria, que não posso deixar de dizer que foi o político português que, numa intervenção pública, mais me elogiou e mais elogiou o trabalho que a Câmara Municipal estava a fazer em Vagos.