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Na Síria “há também uma guerra energética”

11 set, 2013 - 23:33 • Maria João Costa

Investigadora Maria João Tomás esclarece que, para além da questão das armas químicas, não se pode esquecer da importância do gás: “Se formos atrás da energia conseguimos descobrir a maior parte dos conflitos no planeta”.

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Afinal, não é só de armas químicas que se deve falar quando se aborda a questão síria. Há um confronto de potências que tem como pano de fundo a questão do gás natural. São vários os países que têm interesse no território sírio, explica Maria João Tomás, investigadora do ISCTE e especialista em Médio Oriente.

“Olhamos para a Síria e é uma espécie de um xadrez que foi jogado na retaguarda pelas potências que agora estão a mostrar a cara: a Rússia porque vendia armamento e porque lhe interessa as bases na zona do Mediterrâneo, o Irão por causa do Hezbollah e do Líbano e depois há o gás em que havia projectos interessantíssimos para ligar o Irão ao Mediterrâneo através do território sírio, ao Qatar também lhe dava jeito um gasoduto que passasse pela Síria”, disse em entrevista à Renascença.

Maria João Tomás reforça: “Há também uma guerra energética. Aliás, se formos atrás da energia conseguimos descobrir a maior parte dos conflitos no planeta”.

A autora do livro “Da Primavera ao Inverno árabe” explica que nesta altura está em curso um compasso de espera. Enquanto os Estados Unidos não decidem se avançam ou não com um intervenção armada, no terreno está a ganhar-se tempo para o armamento, explica Maria João Tomás.

“Uma intervenção na Síria iria piorar ainda mais a situação que está. É um compasso de espera estratégico. A partir de agora não há qualquer desculpa na visão do [presidente dos Estados Unidos Barack] Obama. Se acontecer alguma coisa, Obama avançará com certeza, mas este compasso de espera facilita o posicionamento de guerra, a entrada de armamento, quer de um lado quer de outro.”

"Limpeza étnica" em curso na Síria
Do terreno chegam relatos preocupantes, acrescenta Maria João Tomás, que fala em “limpeza étnica”. Para esta investigadora do ISCTE, os cristãos e os curdos têm sido dos alvos principais.

Entre os rebeldes sírios, Maria João Tomás diz que há diferenças. Uns querem o fim do regime de Bashar al-Assad, outros são apoiados pelos “jihadistas”.

“Quer um lado quer o outro [quer os rebeldes quer as forças governamentais] cometeram crimes de guerra. Depois, é preciso saber fazer divisões: há rebeldes que querem a Síria livre de Bashar al-Assad e a Síria livre de potências estrangeiras e depois há aquela parte dos rebeldes que está a ser ajudada pelos jihadistas que controlam algumas facções dos rebeldes”, acrescenta.

Uma possível intervenção militar dos Estados Unidos na Síria está por agora suspensa. O presidente norte-americano falou terça-feira ao país e revelou que pediu ao congresso para adiar a votação sobre a eventual intervenção militar. Barack Obama explicou que a proposta da Rússia para que Damasco entregue o arsenal de armas químicas à comunidade internacional está na origem desta decisão.

De recordar que a Administração Obama garante ter provas de que o governo de Bashar al-Assad utilizou gás sarin contra civis no dia 21 de Agosto, nos arredores de Damasco.

A Rússia já entregou aos Estados Unidos o seu plano para que a Síria coloque o seu arsenal de armas químicas sob o controlo da comunidade internacional. Moscovo tenciona que este plano possa ser discutido já na quinta-feira em Genebra, nas Nações Unidas, segundo avança a agência de notícias russa Interfax. Para Genebra está marcado um encontro entre o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov.

A guerra civil na Síria dura há mais de dois anos, fez mais de 110 mil mortos e dois milhões de refugiados.

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