Um jornal do Partido Comunista Chinês (PCC) defendeu que "a China precisa de ter mais multimilionários", argumentando que "a acumulação privada de riqueza não é incompatível com a justiça social" preconizada pelo sistema socialista.
"Se um dia metade dos mais ricos do mundo forem chineses, isso evidenciará os enormes sucessos alcançados pela China no seu processo de desenvolvimento económico e social", disse o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC.
Num editorial intitulado "Ressentimento contra os ricos é exagerado", o jornal sustenta que a maioria dos ricos chineses "tem uma imagem positiva" e "são adorados como ídolos pelos jovens".
O texto reconhece que "o ódio à riqueza é particularmente virulento na internet", mas considera que "a inveja e a insatisfação não são os sentimentos dominantes acerca do crescente número de chineses multimilionários".
Empresários deixaram de ser inimigos
Na lista mundial dos multimilionários divulgada em Março passado pela revista norte-americana “Forbes”, correspondente a fortunas superiores a 1.000 milhões de dólares, a China continental tinha 213 nomes, mais 61 do que em 2014.
Um dos chineses melhor classificados, Wang Jianlin, presidente do Wanda Group, com uma fortuna avaliada em 22.600 milhões de euros, é também membro do Partido Comunista Chinês.
De acordo com os dados do Gabinete Nacional de Estatísticas da China, o rendimento anual disponível per capita no país China aumentou 84 vezes nos últimos 35 anos, atingindo 28.844 yuan (cerca de 4.400 euros) em 2014.
Constitucionalmente, a China define-se como "um estado socialista liderado pela classe trabalho e baseado na aliança operário-camponesa". O marxismo-leninismo continua a ser "um princípio cardial" do PCC.
Contudo, desde há cerca de duas décadas, o PCC passou a defender a "economia de mercado socialista" e a encorajar a iniciativa privada. Vistos outrora como "inimigos de classe", os empresários já podem filiar-se no PCC e muitos deles fazem parte dos órgãos de Estado.
O mais conhecido em Portugal é Guo Guangchang, presidente do grupo Fosun Group, o consórcio chinês que já comprou a companhia de seguros Fidelidade e é apontado como candidato à compra do Novo Banco