05 mai, 2015 - 20:06 • Filipe d'Avillez
Um barril cheio de combustível, explosivos e pedaços de metal. É o que basta para lançar a morte e a destruição. A arma improvisada tem sido usada recorrentemente pelas forças leais ao Governo na Síria, acusa a Amnistia Internacional. Num relatório divulgado esta terça-feira, a organização pró-direitos humanos destaca a situação em Alepo, a segunda maior cidade do país.
Os efeitos deste tipo de bomba, lançada frequentemente sobre bairros civis, são terríveis, segundo os residentes ouvidos pela Amnistia. "Vi crianças sem cabeça, partes de cadáveres por todo o lado. É assim que eu imagino o inferno", diz um trabalhador fabril do bairro de al-Fardous.
No relatório, intitulado "Death everywhere: War crimes and human rights abuses in Aleppo" (Morte por todo o lado: Crimes de guerra e abusos dos direitos humanos em Alepo), a Amnistia diz ter razões para acusar o Governo de crimes de guerra em Alepo.
"As atrocidades generalizadas, em particular os selvagens e insistentes bombardeamentos de bairros civis por forças governamentais, tornaram a vida dos civis em Alepo particularmente insuportável", lê-se no relatório.
"Estes actos repreensíveis e contínuos em áreas residenciais apontam para uma política de ataques dirigidos deliberada e sistematicamente a civis, que constituem crimes de guerra e crimes contra a humanidade", diz Philip Luther, director da Amnistia para o Médio Oriente e Norte de África.
Viver debaixo da terra
Mas não são só os ataques com bombas-barril que lançam o pânico entre os civis de Alepo, há ainda os ataques com mísseis, também por parte do Governo, e os levados a cabo pelas forças da oposição, com armas convencionais ou improvisadas e que são, em muitos casos, completamente aleatórios.
A solução, para muitos, é manter, na medida do possível, uma existência subterrânea: "Não há sol, não há ar fresco, não podemos ir à superfície porque há sempre aviões e helicópteros no céu", afirma um médico que se viu forçado a mudar o seu hospital de campanha para debaixo do solo.
Uma médica também entrevistada pela Amnistia diz que as pessoas vivem "sempre nervosas, sempre preocupadas, sempre a olhar para o céu".
A organização não-governamental recorda que as Nações Unidas passaram uma resolução "há mais de um ano" a pedir o fim dos abusos dos direitos humanos e em particular os ataques com bombas-barril, prometendo consequências caso o Governo não cumprisse.
"Hoje, a comunidade internacional virou as costas aos civis de Alepo numa mostra de indiferença para com uma tragédia humana crescente."