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Alemanha. Quando o negócio combate a hostilidade aos refugiados

02 set, 2015 - 15:32 • Carla Caixinha com Reuters

Merkel pediu esta semana tolerância e "flexibilidade". Mas muitos alemães já se tinham adiantado, criando projectos que vêem nos refugiados pessoas a precisar de ajuda e até mais-valias económicas.

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A cidade alemã de Heidenau, na Saxónia, foi palco de confrontos, no final de Agosto, entre a polícia e manifestantes de extrema-direita que contestavam a abertura de um centro de acolhimento de refugiados. Foi o momento mais evidente da hostilidade de muitos alemães em relação à vaga de migrantes e refugiados – a pior na Europa desde a II Guerra Mundial.

A chanceler alemã disse na segunda-feira que a crise de refugiados é um "desafio" que se vai "prolongar no tempo", pedindo aos cidadãos paciência, tolerância e "flexibilidade".

Já antes do recado de Merkel muitos alemães já tinham demonstrado esses atributos. Três exemplos: uma empresária lançou uma aplicação para "smartphones" para quem procura asilo; um outro empresário quer dar alojamento e formação a cerca de 900 refugiados em profissões que tenham falta de trabalhadores; e há ainda o projecto de um hotel em que a maioria dos trabalhadores serão refugiados;

A aplicação que diz: "Bem-vindo a Dresden"
Envergonhada pela ascensão do grupo anti-islâmico e antimigrantes PEGIDA (Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente, em português), em Dresden, uma empresária local resolveu mostrar que nem todos os alemães são hostis aos estrangeiros.

OViola Klein, responsável pela empresa de "software" Saxonia Systems, falou com os seus funcionários: o que podemos fazer para contrariar a ideia de que os alemães não querem imigrantes?

Depois de ter organizado cursos de alemão para os recém-chegados, Klein reparou que 80% tinham "smartphone". Aproveitando a experiência da sua empresa e com a colaboração de um técnico de outra, desenvolveram uma aplicação gratuita que visa ajudar quem chega a lidar com a burocracia alemã.

A "app" "Bem-vindo a Dresden" está disponível em cinco línguas. Permite saber como requerer asilo, usar os transportes públicos ou ter acesso a cuidados médicos.

A Alemanha, um dos principais destinos europeus de refugiados, prevê atingir este ano um recorde de 800 mil pedidos de asilo. Esta vaga tem causado apreensão, especialmente no Leste do país, onde os ataques a centros de acolhimento de refugiados têm crescido.

Aproveitar a mão-de-obra qualificada
Outros empresários vêem a chegada destas pessoas como uma oportunidade para o país, onde se prevê que a população activa seja reduzida em cerca de seis milhões de pessoas até 2030.

"Estamos a envelhecer e a falta de trabalhadores qualificados é gigante. Não vamos conseguir enfrentar o futuro sem imigrantes", afirmou Gerd Ellinghaus, cuja empresa opera em centros de refugiados por todo o país, sendo subsidiada pelas autoridades locais.

Ellinghaus prepara-se para lançar em Berlim um projecto-piloto que vai dar alojamento e formação a cerca de 900 refugiados em profissões que tenham falta de trabalhadores. Existem cerca de 27 mil vagas para cursos técnicos especializados.

Para acelerar o processo de acesso ao mercado de trabalho, o Governo alemão reduziu o tempo que as pessoas à procura de asilo têm de esperar para poderem procurar trabalho e suspendeu a necessidade de estas pessoas precisarem de ter uma aprovação das autoridades de trabalho antes de começarem qualquer formação.

Inverter papéis
"Prinzip Heimat", um projecto criado para auxiliar migrantes, tem como primeiro desafio arranjar financiamento para criar um hotel com cem camas, no centro de Berlim. Dois terços dos empregados vão ser migrantes.

A empresa procura um edifício ou terreno para o hotel e está em negociações com operadores de hotelaria e arquitectos. O objectivo é abrir portas no início de 2017.

Catherine Daraspe, responsável por este projecto, que vai ser gerido como um negócio e não como caridade, assume que o objectivo é levar a uma mudança completa na forma como os migrantes e refugiados são vistos: "Queremos que estas pessoas que tiveram de abandonar as suas casas e deixar os seus países se tornem anfitriões."
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