11 set, 2015 - 20:42 • João Cunha , na Hungria
Um hotel, pequeno, de duvidosas três estrelas. A escolha foi minha, convém esclarecer, por ser o único mais próximo do centro de Budapeste.
À chegada, um destes dias à noite, depois de uma viagem de quatro horas de carro, ida e volta, até Roszke, junto à fronteira com a Sérvia, o que pensava impossível aconteceu.
Bebia um café e fumava um cigarro com o jovem recepcionista, à porta do hotel, quando entra na recepção um jovem. Não tem mais de 25 anos. A tez e a fisionomia mostram que é sírio. Pergunta, num inglês quase perfeito, se há quartos livres para seis pessoas. O recepcionista pergunta-lhe a nacionalidade. Ele tarda em responder.
"Síria, senhor...", responde-lhe o jovem. E o improvável acontece.
"Tenho quartos livres, mas não posso dispensá-los. As autoridades húngaras impedem-nos de o fazer", explica o recepcionista.
O jovem insiste. Tem dinheiro para pagar. Está com a família – seis pessoas no total. Até está disposto a pagar dois quartos... Pede-lhe por favor.
Mas o recepcionista pede-lhe desculpa, mas diz que não pode ser.
Até aqui, reinava a passividade das autoridades húngaras face a estes refugiados – que estão apenas a ser ajudados pela sociedade civil.
A ser verdadeira esta história, a do recepcionista do hotel, de que terão sido as autoridades a impor esta medida, terá ido mais longe a atitude do governo húngaro, ao impedir que os refugiados possam instalar-se nos hotéis da cidade.
Não sendo verdadeira, explica em parte por que razão a Hungria está a ser governada neste momento por um partido de centro-direita. Alguém os escolheu...