12 set, 2015 - 00:48 • Hugo Monteiro
Não é apenas a perspectiva de melhores condições de vida que leva os refugiados e migrantes a escolher a Europa. Nos países árabes da região do Golfo, mais próximos geograficamente dos países de onde sai a maioria, as garantias de segurança são menores.
Ana Santos Pinto, analista de política internacional, explica à Renascença que, para aquelas pessoas, permanecer naquela zona do globo não garante a quem foge da guerra, que “vai ser acolhido sem violência e sem o risco de ter que regressar ao seu local de origem”.
“Esta é uma garantia que estas pessoas pensam poderá existir na Europa. Ou seja, pensam: 'Vamos ser recebidos e vai ser reconhecida a nossa necessidade de garantir a segurança das nossas famílias e não vamos estar sujeitos a esta violência'”, explica Ana Santos Pinto. “Naquela região, estas pessoas devem pensar - e, provavelmente, de forma fundada - que não vão estar seguras, que vão continuar a ser perseguidas”.
Países do Golfo reforçam poderio militar
No quadro de instabilidade no Médio Oriente, são os países do Golfo que mais têm reforçado o poderio militar, com um aumento significativo do volume de compras de armas ao Ocidente.
De acordo com dados do Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (SIPRI), a Arábia Saudita tornou-se, em 2014, o maior importador de armamento. As suas importações de armas e munições aumentaram 54%, entre 2013 e 2014. Os seus principais fornecedores são o Reino Unido, os Estados Unidos, a França, Espanha e a Alemanha.
É neste ponto que a Amnistia Internacional (AI) alerta para o peso que tem o comércio ilegal de armas na região. Teresa Pina, directora executiva da secção portuguesa da AI, lembra que “esta proliferação desenfreada de armas envolve, naturalmente, o fornecimento de armamento que é, em parte, desviado para estes grupos, como para o autodenominado Estado Islâmico".
"Além do comércio tradicional inter-Estados, temos o comércio ilegal de armas que acaba por potenciar a situação gravíssima que se vive na Síria”, remata.
Relações pouco claras entre países e movimentos jihadistas
Outro factor que poderá estar a levar estes refugiados a não optarem pelos países árabes do Golfo são as relações pouco claras entre os diferentes governos e os movimentos jihadistas.
Ana Santos Pinto diz que estes países que têm reforçado a sua capacidade militar poderão estar “a financiar grupos com quem se alinham”.
No entanto, estas ligações são “pouco claras”. “Não alinhamentos estreitos. São múltiplos, ou seja, com ligações a muitos grupos, até mesmo com interesses diferentes”, explica a analista de política internacional, referindo que “não é só o caso da Arábia Saudita, mas também do Qatar e de outros países do Golfo e daquela região. Todos eles têm vindo a desenvolver esses alinhamentos políticos e militares”.