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Crónica

Refugiados na Hungria. O choro triste e alegre de Fathlyah

10 set, 2015 - 20:12 • João Cunha, na Hungria

É enorme a fila de refugiados que cobre, diariamente, toda a zona superior da estação ferroviária de Keleti. A polícia húngara controla todos os movimentos.

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Yana aparenta três anos. De casaco quente vestido – o mesmo que a ajudou a passar a noite fria de Budapeste – dorme, às cavalitas do pai. Adnan segura-a como pode, com esforço para manter, também ele, os olhos vermelhos do cansaço ainda abertos. 

Faz quatro semanas que saíram da Síria. Depois de atravessadas várias fronteiras, por terra e por mar, já só lhes faltam mais duas: a da fronteira da Hungria com a Áustria e depois com a Alemanha. 

Está na imensa fila de refugiados que cobre, diariamente, toda a zona superior da estação ferroviária de Keleti. 

Com a polícia a controlar todos os seus movimentos, Adnan escolheu colocar a filha acima dos constantes empurrões de quem tenta chegar-se à frente para ser escolhido pela polícia para passar a barreira e entrar na plataforma de acesso aos comboios. 

Ouvem-se gritos de quem quase não consegue respirar, devido à forma como se encavalitam uns nos noutros. O desespero de tentar chegar primeiro leva-os a agir assim. E as autoridades não se mostram preocupadas em melhor organizar as entradas nos comboios. 

Depois de escolhidos pela polícia, de forma aleatória, os homens, tentando proteger as crianças dos empurrões, resistem à lágrima provocada pela situação. As mulheres choram e pedem, na sua maioria, água, para se recomporem e tentarem depois inspirar, quase de uma vez, todo o oxigénio que não conseguiram, enquanto estavam naquela situação aflitiva. 

Os mais novos escapam à falta de ar, mas não às lágrimas. Todos eles. Pela situação evitável a que são sujeitos. Na confusão, Fathlyah, uma menina de oito ou nove anos, chora desalmadamente. Em árabe, tenta explicar ao polícia que a mãe, pai e os dois irmãos mais pequenos não passaram a barreira. Que ela está sozinha. Quer juntar-se à família ou que os deixem passar a barreira. 

O polícia em causa, incomodado com os gritos da menina, pede autorização ao oficial ali presente e puxa os familiares de Fathlyah. A menina chora, agora de alegria. 

Juntam-se, dão as mãos e entram no comboio, já de sorriso nos lábios. E preparam-se para o resto de viagem e para um novo começo. Não fosse essa a tradução do nome da menina: Fathylah.

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