16 out, 2015 - 11:12
O rapper e activista angolano Luaty Beirão, em greve de fome desde 21 de Setembro, foi transferido na quinta-feira de uma cadeia de Luanda para uma clínica privada, por "precaução".
O jovem, de 33 anos, é um dos 15 activistas detidos desde 20 de Junho e acusados em Setembro, pelo Ministério Público, de actos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano.
"Neste momento passa bem, preferiu-se mandá-lo para uma unidade mais diferenciada, por uma questão de precaução", disse à agência Lusa Manuel Freire, chefe nacional do departamento de saúde dos Serviços Prisionais angolanos.
Sem adiantar mais pormenores, o responsável garantiu que Luaty Beirão "não está em risco de vida" e que o seu estado de saúde "continua estável", apesar de entrar hoje no 26º dia de greve de fome.
Desde quinta-feira que o jovem activista, descendente de portugueses, está internado numa clínica privada de Luanda, transferido do hospital-prisão de São Paulo, também na capital, onde estava desde 9 de Outubro.
Antes, desde 20 de Junho, permanecia detido num dos estabelecimentos prisionais de Luanda, tal como os restantes 14 elementos visados na operação de Junho das autoridades angolanas.
Um homem convicto e vertical
"Agora são 26 dias de greve de fome e isto já implica outras coisas. Anteontem, o Luaty teve uma dormência no rosto e isso preocupou a equipa médica dos Serviços Prisionais", disse à Lusa a esposa, Mónica Almeida, que o visitou na clínica privada na quinta-feira.
Confirmou que Luaty Beirão, que já não se movimenta pelos próprios meios, "ainda está lúcido" e que inclusive escreveu uma carta, à qual a Lusa teve acesso, com procedimentos à família no caso do agravamento do seu estado de saúde ou mesmo a morte.
"Ele é assim, uma pessoa muito convicta, muito vertical, no que toca à defesa dos seus direitos. Nada mais podemos fazer em relação a isso", acrescentou.
Em causa está a situação de um grupo de 17 jovens - duas em liberdade provisória - acusados formalmente, desde 16 de Setembro passado, de prepararem uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, mas sem que haja uma decisão do tribunal de Luanda sobre a prorrogação da prisão preventiva em que se encontram.
Denunciando que está detido ilegalmente, por se ter esgotado o prazo máximo de 90 dias de prisão preventiva (20 de Junho a 20 de Setembro) sem nova decisão, Luaty Beirão, também engenheiro de formação, entrou em greve de fome.
Luaty Beirão é um dos rostos mais visíveis da contestação ao regime angolano e já chegou a ser preso pela polícia em manifestações de protesto.
É filho de João Beirão, já falecido, que foi fundador e primeiro presidente da Fundação Eduardo dos Santos (FESA), entre outras funções públicas, sendo descrito por várias fontes como tendo sido sempre muito próximo do Presidente angolano.