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Relator da ONU admite que UE receba dois milhões de refugiados

23 out, 2015 - 22:55

Segundo François Crépeau, só a Alemanha poderia receber 50 mil refugiados.

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A União Europeia (UE) deve elaborar planos de acolhimento em massa para receber dois milhões de refugiados que fogem dos conflitos no Médio Oriente, afirmou o relator especial da ONU sobre os direitos humanos dos migrantes, François Crépeau.

"Precisamos de oferecer soluções de mobilidade para as necessidades dos migrantes. As pessoas cruzarão as fronteiras de qualquer forma. Se não oferecermos as soluções, elas virão por meio de contrabandistas e traficantes", destacou o canadiano, numa conferência de imprensa na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.

O Conselho de Segurança adoptou, na última semana, a Resolução 2.240, que autoriza os Estados-membros a inspeccionar barcos em águas do Mediterrâneo caso suspeitem que estejam a ser usados por contrabandistas ou traficantes de pessoas.

François Crépeau manifestou-se veementemente contra à resolução, considerando que "o Conselho de Segurança e a UE estão equivocados", pois "é importante combater as máfias, mas talvez esta não seja a forma mais inteligente. Usar a força não ajudará em nada a travar a crise migratória, não irá funcionar".

O relator da ONU defendeu que os países ricos elaborem um plano em conjunto para distribuir a capacidade de acolher dois milhões de refugiados do Médio Oriente nos próximos cinco anos.

"Os números não são aterrorizantes. Estou a falar de 400 mil refugiados por ano. E se contabilizarmos os 28 países europeus, mais os Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, chegaríamos ao final com pequenos números para cada país".

Na sua opinião, o Canadá poderia colher 17 mil refugiados por ano, a Alemanha 50 mil, França e Reino Unido 40 mil cada.

"É completamente passível de administrar. A Europa tem toda a capacidade para lidar com este assunto se actuar em conjunto. O que temos é uma crise de liderança política", disse.

Na opinião de Crépeau, um dos grandes obstáculos na UE é unidade para estabelecer uma "política migratória coerente" na região, argumentando que, por não serem considerados cidadãos, os migrantes não têm voz política e por isso estão silenciados.

"Os políticos terão que tomar a difícil decisão de convencer a sua população de que o discurso dominante sobre os migrantes está errado. Os políticos foram incapazes de criar um discurso sobre pluralismo, diversidade e de fronteiras abertas. É preciso criar um discurso positivo para a migração", defendeu.

Na sua opinião, um dos grandes empecilhos para que se elabore um plano de assentamentos é a persistência de discursos de extrema-direita contrários à migração.

"Ainda há o pensamento de que os migrantes irão roubar os trabalhos. Não lhes é garantido o direito de fazer denúncias das discriminações que vivem ou das explorações a que são submetidos", referiu, defendendo que as barreiras impostas pelos países estão a ser inúteis e fomentam a ação de traficantes.

"Contrabandistas são oportunistas, atuam porque existem barreiras à mobilidade. Se não houver estas barreiras, não haverá contrabando", reflectiu.

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