27 out, 2015 - 07:59 • Teresa Almeida
O activista angolano Luaty Beirão anunciou esta terça-feira o fim da greve de fome. Ao 36º dia da greve de Luaty, o site “Rede Angola” publica uma carta que terá sido enviada à redacção do site pela família de Beirão, escrita na segunda-feira e “dedicada aos seus 14 companheiros detidos e à sociedade civil”.
De acordo com este site, o activista “anunciou o fim da greve de fome que iniciou dia 21 de Setembro em protesto contra o excesso de prisão preventiva”. fome. A notícia já foi confirmada à Renascença por Pedro Coquenão, amigo luso-angolano de Beirão que está em Luanda para acompanhá-lo.
A “Carta aos meus companheiros de prisão” começa por descrever a data em que tudo começou: 20 de Junho de 2015. “Junho vai longe. Passámos muitos dias presos em celas solitárias, alguns sem comer, com muitas saudades de quem nos é próximo. Pelo caminho sentimos a solidariedade da maioria dos prisioneiros e funcionários. Tivemos apoio de família e amigos”, lê-se.
O “Rede Angola” afirma que todos os activistas se encontram no Hospital-Prisão de São Paulo, depois de terem estado detidos no Estabelecimento Prisional de Calomboloca, na Unidade Prisional do Kakila e no Hospital Psiquiátrico e Comarca Central de Luanda – acusados de “actos preparatórios para prática de rebelião e atentado contra o Presidente da República”.
Luaty Beirão está internado na Clínica Girassol, em Luanda, desde o dia 15 de Outubro.
“Tive a oportunidade de me aperceber do que nos espera lá fora e queria partilhar convosco o que vi: Vi pessoas da nossa sociedade, que lutaram pelo nosso país e viveram o que estamos a viver, a saírem da sombra e a comprometerem-se em nossa defesa, para que a História não se repita. Vi pessoas de várias partes do mundo, organizações de cariz civil, personalidades, desconhecidos com experiências de luta na primeira pessoa que, sozinhos ou em grupo, se aglomeram no pedido da nossa libertação. Já o sentíamos antes, mas não com esta dimensão.”
O activista dedica a carta aos seus companheiros: Domingos da Cruz, Afonso Matias “Mbanza Hamza”, José Gomes Hata, Hitler Jessia Chiconda “Samussuku”, Inocêncio Brito, Sedrick de Carvalho, Fernando Tomás Nicola, Nelson Dibango, Arante Kivuvu, Nuno Álvaro Dala, Benedito Jeremias, Osvaldo Caholo, Manuel Baptista Chivonde “Nito Alves” e Albano Evaristo Bingo.
A 21 de Outubro, o grupo de detidos pediu a Luaty Beirão que parasse com a greve de fome.
O caso de Luaty Beirão gerou uma onda de solidariedade internacional, com grupos de apoio em Angola e Portugal e reivindicações de organizações de direitos humanos como a Amnistia Internacional e a ONU.
Em Portugal, a indefinida situação política mostrou uma resposta desequilibrada por parte dos partidos políticos, com o Bloco de Esquerda a surgir como voz quase solitária a exigir a libertação de Luaty.
Na carta, Luaty dirige as seguintes palavras à sociedade angolana: “Não vou desistir de lutar, nem abandonar os meus companheiros e todas as pessoas que manifestaram tanto amor e que me encheram o coração. Muito obrigado. Espero que a sociedade civil nacional e internacional e todo este apoio dos media não pare.”
O activista acaba repetindo o mantra “Vamos dar as costas. E voltar amanhã de novo”, anunciando por fim: “Vou parar a greve.”
“Abracemos todo o amor que recebemos e agarremos todas as ferramentas. Juntos. Já não somos os ‘arruaceiros’. Já não somos os “jovens revús”. Já não estamos sós. Em Angola, somos todos necessários. Somos todos revolucionários.”