15 nov, 2015 - 08:48 • Ricardo Conceição, em Paris
“Alguém viu o Maurice? Ele tem olhos azuis…”. O apelo de uma mãe desesperada é escutado na rádio. Liga quem quer, para dizer o que lhe vai na alma e na alma vai a dor provocada por um atentado brutal que deixou Paris sob a luz trémula de uma vela.
Na Praça da República poucos falam, olham, rezam, dão abraços, acedem uma vela e deixam uma flor. Há rosas misturadas com palavras que avisam que a França e Paris não têm medo, não se vergam, mas doí e doí muito.
Na mesma praça, de quando em vez, do altifalante sai a voz de um polícia pedindo, “por razões de segurança, dispersem”, mas ninguém se move. O Governo decretou o estado de emergência e todas as manifestações estão proibidas, incluindo as de pesar.
Não muito longe dali, a Boulevard Voltaire está cortada ao meio, ninguém passa. Fica perto do Bataclan, a mítica sala de espectáculos parisiense. Um português dizia que é um símbolo da cidade: “já todos passamos por lá, nem que tivesse sido uma vez”. Foi lá que a matança terá assumido o seu lado mais irracional.
Encostadas às grades nascem homenagens. Qualquer canto serve para deixar uma vela acesa, um desenho e uma palavra.
A mãe do Maurice procura o filho e a França procura tentar entender o que se passou.
Sábado à noite, na cidade luz, na cidade da boémia, seguem três pessoas na carruagem do metro. Paris está triste e as luzes da torre estão apagadas.