16 nov, 2015 - 15:08
Os Estados Unidos até podiam reconquistar Mossul e invadir a Síria, mas isso não é uma estratégia sustentável a longo prazo, disse esta segunda-feira o Presidente norte-americano.
Falando com jornalistas depois do encontro do G20, Barack Obama congratulou-se pelo facto de as diversas partes interessadas na resolução do conflito na Síria estarem finalmente de acordo quanto aos objectivos, mas recordou que ainda há muita coisa que pode correr mal.
O combate contra o autodenominado Estado Islâmico, disse Obama, depende de uma estratégia a longo prazo mas que é sustentável e será levada até ao fim."Como os Estados Unidos mostraram na Líbia, os líderes do Estado Islâmico não terão locais seguros em lado algum. E vamos continuar a trabalhar com os líderes das comunidades muçulmanas, incluindo os religiosos, porque são os melhores para desacreditar a ideologia do estado islâmico."
Quanto à ideia de colocar forças americanas no terreno em larga escala, o Presidente disse que até seria possível, mas não é a solução.
“Enviar forças terrestres seria um erro. Não que as nossas forças não pudessem entrar em Mossul [segunda maior cidade do Iraque, ocupada desde Agosto de 2014], mas veríamos uma repetição do que aconteceu antes”, disse, referindo-se ao facto de, após a ocupação do Iraque pelos EUA em 2003 não se ter deixado o país com estruturas civis que apoiassem um estilo de governo representativo, levando ao seu colapso perante a polarização étnica e religiosa e o eventual regresso dos jihadistas.
"É verdade que os Estados Unidos têm dos melhores
militares do mundo e também dos melhores cérebros, mas não é apenas o meu ponto
de vista, mas também dos meus conselheiros militares e civis, que seria um
erro", disse Obama.
Mesmo a invasão da Síria seria possível, diz Obama, mas e depois? Fez a pergunta e deu a resposta: "Imaginemos que colocávamos 50 mil militares na Síria. E quando acontecesse um ataque terrorista no Iémen? Mandávamos para lá mais militares? Ou para a Líbia?”
“A estratégia tem de ser sustentável e a estratégia que estamos a perseguir é de atingir alvos e limitar as suas capacidades no terreno, fortalecer forças iraquianas e sírias e curdas que estejam dispostas a combatê-los”, explicou.
“Vai haver coisas que funcionam e outras que não funcionam e quando encontrarmos as que funcionam apostaremos nessas.”
Esta segunda-feira, um novo vídeo divulgado pelo Estado Islâmico deixa uma ameaça aos países que estão a atacar a Síria e aos Estados Unidos. Na mensagem, o grupo terrorista avisa todos os países que estejam a participar na acção contra a Síria de que vão sofrer o mesmo que a França e ameaçam atacar Washington.
Os ataques, perpetrados por pelo menos sete terroristas, que
morreram, ocorreram em vários locais da cidade, entre eles uma sala de espectáculos
Bataclan e o Stade de France, onde decorria um jogo de futebol entre as selecções
de França e da Alemanha. Morreram 129 pessoas e mais de 400 ficaram feridas.
Gafe reveladora
Nesta parte do seu discurso, em que Obama referia a aposta em forças locais para derrotar o Estado Islâmico, o Presidente cometeu uma gafe que foi rapidamente corrigida, mas que revela a complexidade do pano de fundo do conflito.
Obama começou por dizer que os EUA iriam fortalecer “as forças xiitas”, mas corrigiu rapidamente para “iraquianas, sírias e curdas”.
A verdade, porém, é que o conflito no Iraque e na Síria tem mesmo uma dimensão inter-religiosa que ajuda a explicar o equilíbrio de forças e a sua importância regional. O Estado Islâmico é um movimento radical sunita que tem aproveitado o ressentimento de grande parte da população sunita de ambos os países.
No Iraque os sunitas são uma minoria significativa, mas que foi privilegiada por Saddam quando este esteve no poder. Depois da invasão americana, os partidos xiitas ocuparam o poder político e grande parte das posições de chefia das forças armadas, levando os sunitas a queixar-se de discriminação. A maioria dos grupos militares não-curdos que combatem o Estado Islâmico no Iraque são, de facto, compostos maioritariamente por xiitas e têm o apoio do Irão, a grande potência xiita do Médio Oriente.
Já na Síria a maioria da população é sunita mas a elite política do regime de Bashar al-Assad é alauita, um ramo do islão xiita. Por isso, a revolta popular contra a ditadura foi imediatamente apoiada pelos países sunitas do Golfo, que continuam a apoiar e armar vários grupos rebeldes, mais ou menos fundamentalistas. Por outro lado, Assad tem sido apoiado pelo Irão e por grupos como o Hezbollah.