18 dez, 2015 - 15:50 • Inês Alberti, em Madrid
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À porta da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade Complutense de Madrid, alguns estudantes fumam o primeiro cigarro da manhã, antes de entrarem nas aulas. Falam de política, criticam os candidatos às eleições e debatem os programas, sobretudo dos partidos de esquerda.
Na fachada da faculdade são vários os cartazes roxos do Podemos e, pelos corredores, encontram-se cartazes do Izquierda Unida (IU) e graffitis, autocolantes e panfletos que apelam ao voto e ao fim dos “velhos partidos”.
“Penso que votar nos velhos partidos é legitimar a corrupção que temos visto nos últimos anos. Não percebo como seria possível votar neles”, diz Alejandra, de 23 anos, apoiante de Alberto Garzón, da IU. Na sua opinião, é o “candidato mais valioso porque é o mais íntegro”. Pedro Sánchez, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) é “patético” e “Rajoy é Rajoy, não há muito a dizer”.
O colega de Alejandra, Arturo, também vai votar à esquerda, mas no Podemos, o único partido que reflecte os seus ideais “e pode fazer uma mudança neste país”.
Arturo deixa críticas aos outros candidatos. “Há alguns candidatos que parece que saíram debaixo das pedras, sobretudo o candidato do PSOE, é jovem, mas é o partido mais decrépito de todos. Está ultrapassado."
É comum ligar a juventude aos ideias de esquerda, mas nas eleições do ano 2000 José Maria Aznar foi reeleito chefe do Governo de Espanha “sobretudo por causa do voto jovem”, explica Mercedes Carrera, professora de Ciência Políticas na Universidade Complutense.
“Mas as sondagens de agora mostram que o PP, no poder, perdeu praticamente quase todo o voto jovem”, acrescenta.
Se em 2011 Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP) contou com grande parte dos seus votos vindos de menores de 34 anos, este ano essa fatia não chega aos 10%.
A causa é a insatisfação com o actual Governo. De acordo com um estudo do Centro de Investigações Sociais (CIS), 37% dos jovens espanhóis estão descontentes com a situação actual do país e mais de metade considera que o Governo de Rajoy foi mau ou muito mau para a população. Contudo, o PSOE também não seria a solução. O mesmo estudo mostra que 70% dos jovens considera que o país estaria numa situação pior ou igual nas mãos dos socialistas.
Esperança nos novos partidos
Empurrados pela crise e pelo desemprego, que ronda os 21% em Espanha, os jovens viraram para os novos partidos, como o Podemos ou o Ciudadanos. Estas forças políticas nasceram de movimentos cívicos, como os protestos de 15 de Maio de 2014, e apelam à mobilização, sobretudo, dos mais jovens.
“Uma das novidades importantes do Podemos é que conseguiu interessar pela política jovens que na melhor das hipóteses não o teriam feito. Foi um instrumento de mobilização e incorporação na vida política fundamental”, explica a professora Mercedes Carrera.
Marta, de 24 anos, concorda com a sua professora. Acha que os políticos “deviam ser mais acessíveis”. “Ou seja, que as pessoas se interessem realmente pelo que vão fazer. Por exemplo, deviam fazer como o Podemos ou o Ciudadanos, que organizaram eventos a que as pessoas podiam ir ouvi-los, sem ser nos debates nas televisões”, explica.
A estudante de Ciências Políticas vai votar Esquerda Unida, que, apesar de ser um partido com vários anos no currículo, se está a “regenerar e renovar”.
“Penso que as pessoas desiludidas têm que sair dessa desilusão que os dois maiores partidos em Espanha causaram e ver que a política é feita por todos e que por causa dos erros de uns não significa que a política está acabada em Espanha”, conclui Marta.