07 jan, 2016 - 08:59 • André Rodrigues
Entre os ataques que se concretizaram e os que as autoridades conseguiram travar a tempo, Álvaro de Vasconcelos, antigo director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, concorda que “a França viveu um ano de 2015 particularmente atípico em matéria de segurança interna”.
Há precisamente um ano, 12 pessoas morreram e cinco ficaram feridas no massacre no jornal satírico “Charlie Hebdo”. A 13 de Novembro, uma série de atentados em Paris matou 130 pessoas.
Em declarações à Renascença a partir de Paris, onde trabalha agora como investigador do Arab Reform Initiative – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento do Mundo Árabe – Vasconcelos sublinha as diferenças entre o ataque ao Charlie Hebdo, “um crime hediondo, mas um crime”, e os atentados em série que varreram a capital francesa a 13 de Novembro e que são “claramente um acto de terrorismo que afectou uma parte muito significativa da população francesa, pelo efeito multiplicador do próprio acto”.
Mas as autoridades francesas não terão reagido da maneira mais apropriada aos acontecimentos, considera o especialista. E lembra que “o papel dos governos é não contribuir para um clima de terror”.
Comparando a estratégia seguida pela França com a que foi adoptada pela administração Bush após os atentados de 11 de Setembro de 2001, o antigo director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia lamenta que “o Presidente Hollande tenha assumido o discurso que os europeus tanto criticaram na altura”.
Para o chefe do Estado francês, o país está em guerra contra os terroristas e há até alguns dirigentes dentro do Partido Socialista francês que defendem a privação da nacionalidade aos condenados por crimes de terrorismo.
Álvaro de Vasconcelos alerta que “tudo isso contribui para um clima de terror e para que os franceses olhem com cada vez maior desconfiança para o seu vizinho muçulmano”.
Enquanto isso, as raízes do terrorismo que vai invadindo a Europa estão ainda longe de serem eliminadas.
“As relações entre o Irão e Arábia Saudita atingiram um ponto de conflitualidade extrema que se traduz nos conflitos na Síria, no Iraque, no Iémen". Portanto, diz Álvaro de Vasconcelos, "ao mesmo tempo que aumenta a capacidade de prevenir atentados terroristas, a Europa não está a contribuir para a resolução da fonte destes problemas que são as guerras no Médio Oriente. Preveni-las, hoje, já não é possível. Mas é possível travá-las”.
Para isso, “é necessária uma acção diplomática concertada”. Porque, enquanto o combate ao Estado Islâmico se limitar ao bombardeamento de alvos na Síria e no Iraque, “o problema não terá solução à vista”.