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​Germano Almeida: “Guantánamo pode ser a surpresa” no discurso de Obama

12 jan, 2016 - 22:08 • José Bastos

No último discurso sobre o estado da união, Obama quer reclamar êxitos de dois mandatos. Poderá ser o encerramento de Guantánamo a novidade que falta no que resta de presidência?

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Barack Obama dirige-se, às 2h00 da manhã (hora de Lisboa), pela última vez ao Congresso no discurso sobre o Estado da União, um ritual medular da política norte-americana.

O Presidente vai reclamar o seu legado na frente económica com uma visão optimista dos Estados Unidos, mas não deixará de reconhecer o fracasso legislativo no controlo das armas de fogo.

Será o primeiro discurso sobre o Estado da União em que Barack Obama não tem de se preocupar em ganhar as próximas eleições.

Ainda assim, o investigador Germano Almeida defende que Obama – tacitamente – irá favorecer Hillary Clinton.

Na frente externa, o autor do livro “Histórias da Casa Branca” admite, em entrevista à Renascença, que o encerramento de Guantánamo possa constituir o triunfo que falta à presidência Obama.

É a primeira vez que Obama discursa no Congresso sem ter de se preocupar em ganhar as próximas eleições. O dado é relevante para o discurso?

O discurso pode ficar muito marcado. Este é, de facto, o último discurso da era Obama numa época muito especial. Pode ser a última grande oportunidade de Obama expor ao Congresso as suas ideias. No passado, Obama escolheu sempre temas importantes, bandeiras da sua presidência como imigração, reforma da saúde, reforma financeira, salário mínimo, tudo temas para atacar de seguida.

Ao contrário, desta vez, sabe que não terá tempo de aplicar essas políticas, não vai desenvolver um tema, mas sim apontar o seu próprio legado. O discurso tem lugar no momento político e social da América muito marcado pela tensão, por alguma raiva, medo sobre imigração, de que o fenómeno Trump é exemplo, Obama vai certamente recordar os seus trunfos face à inclusão social. Lembrar uma visão da América em que todos cabem e tentar colocar-se acima das lutas políticas de Washington e dizer “somos a grande família americana e é aí que eu me revejo”.

Começar a trabalhar para o seu lugar na história e contribuir para reeleger um líder democrata. Um destes factor vai pesar mais que o outro?

Este é o último momento antes das eleições de Novembro em que o factor chave, directamente, não é a eleição presidencial. A Casa Branca está a prometer que este discurso sobre o Estado da União não irá ser um discurso partidário. Ainda assim, creio que nas entrelinhas Obama vai mostrar que não quer como sucessor alguém com o estilo Trump ou qualquer outro republicano. Não quer um sucessor que não tenha uma visão inclusiva da América, não quer um sucessor que diga que os muçulmanos não têm lugar naquele país.

Mesmo não pronunciando uma única vez o nome de Hillary vai, tacitamente, mostrar que, no fundo, quer que a sua sucessora seja Hillary Rodham Clinton.

Uma grelha de leitura do discurso é, anualmente, a lista de convidados – este ano há convites de grande simbolismo, entre muitos, um refugiado sírio até à cadeira vazia a representar as 32 mil vítimas anuais de armas de fogo nos Estados Unidos?

No plano da agenda político-económica, Barack Obama praticamente já deu por fechada a sua presidência e com bons resultados. Lembro que o desemprego chegou aos 10% quando foi eleito e hoje está em mínimos históricos de 5%.

De facto, até aos últimos meses da sua presidência Obama irá centrar-se na questão das armas de fogo. Assumindo mesmo o falhanço legislativo o Presidente irá apontar o exemplo moral. O episódio das lágrimas é absolutamente simbólico nesse capítulo. Logo mais a cadeira vazia irá também nesse sentido de dimensão moral e também com a inclusão de um refugiado sírio. Os números são impressionantes: não há histórico de problemas de terrorismo com refugiados na América. Trata-se de um país, justamente, de migração, inclusão, acolhimento a refugiados e o convite a um refugiado sírio é marcante no legado com que Obama quer ser recordado: ele próprio com ascendência africana e símbolo da essência do que é a América.

Num Congresso em mãos republicanas e a atenção voltada para a campanha, Obama vai ser durante um ano um presidente sem margem de manobra interna e voltado para o exterior?

No discurso sobre o estado da união, há um ano, Obama dizia que se virava uma página no envolvimento da América nas guerras com a saída do Afeganistão. Infelizmente, ao longo do último ano, percebemos que não é possível. A América está mais que envolvida na luta contra o auto denominado Estado Islâmico. Nos últimos meses da presidência acredito que Obama vá apostar na concretização do acordo nuclear com o Irão, no reatamento total das relações diplomáticas com Cuba – apesar da oposição do Congresso – e talvez com uma surpresa final.

Ao longo destes últimos anos fomos apontando esse caso como o principal fracasso em política externa e talvez Obama tenha ainda tempo de fechar a prisão de Guantánamo.

Do lado republicano a governadora republicana de Carolina do Sul irá dar a réplica a Obama.

Prova que os dois partidos decidiram que no eleitorado, mulheres e minorias, são chave para a eleição?

Não creio. Talvez seja uma escolha do Partido Republicano do tipo “com a verdade me enganas”. Todos os sinais concretos de candidatos e da dinâmica da corrida republicana apontam em sentido contrário. Quando um candidato como Donald Trump, a dizer o que diz sobre as minorias e sobre as mulheres, continua à frente na corrida à nomeação e quando o seu principal opositor é, neste momento, Ted Cruz vemos que o Partido Republicano continua a ter um sério problema com as minorias. Não é por escolher agora a governadora da Carolina do Sul (Nikki Haley filha de família Sikh) para a réplica a Obama que esse problema se altera.

Este discurso chega a três semanas do início do ciclo de primárias que termina com a nomeação dos candidatos. Obama sai do foco?

É, de facto, o último grande momento do presidente Obama no sentido em que a partir de agora vamos todos estar a olhar para a corrida presidencial. No fundo já estamos, mas estaremos cada vez mais. Mas também é verdade que, há dois anos, estão a chamar ‘lame duck’, pato coxo, a Obama. O presidente tem provado que não é bem assim. Obama provou-o com o acordo com Cuba, o acordo com o Irão e também com algumas vitórias económicas nos últimos meses.

Mas, olhando para o calendário este é um dos últimos grandes momentos da sua presidência e se olharmos para os oito anos de Casa Branca como uma maratona Obama está a entrar no estádio para a última volta. Não propriamente uma volta de consagração absoluta, porque teve muitos problemas, mas, enfim, uma volta que arranque alguns sorrisos com alguma vitórias económicas e outras de grande simbolismo que Obama conseguiu nos últimos sete ou oito anos.

Comentários
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  • augusto marques
    13 jan, 2016 paris 01:27
    ora ca esta um opinador a branquear uma persidencia que foi uma desilusao. este obama foi um presidente manso demais resposnavel pelo ressurgimento dos terroristas islamicos e pelo comunista putin. e preciso alguem bem mais duro. deizem-se de tretas
  • Paulo Arce
    13 jan, 2016 S.Luís 00:50
    Bem, ate o momento, o que Obama, James Cameron, Merkel, Holland e outros líderes ocidentais fizeram foram insuficientes, ou nem mesmo surtiram efeito para evitar atentados terroristas, destruir o estado islãmico e oferecer uma solução inteligente para essa resolver essa horda de refugiados. Acho até mesmo, que eles ajudaram a alimentar estes dois monstros: A imigração desenfreada e o terrorismo. Se me aparecesse um candidato com alguma solução mesmo que, digamos, aparentemente questionável, eu sentarei e vou ouví-lo sim. Pelo menos,é apresentado uma solução. O que as esquerdas americana e europeia querem, é empurrar com a barriga, o problema de imigração

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