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Manuel Campo Vidal

Espanha. “É provável Governo PP, mas sem Rajoy”

22 jan, 2016 - 21:53 • José Bastos

“É muito difícil uma solução ‘à portuguesa’, defende Manuel Campo Vidal. O moderador de todos os debates históricos em Espanha acentua as diferenças entre as esquerdas ibéricas: “O PCP e o BE não pedem a independência do Alentejo ou Algarve”.

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O Rei Filipe VI inicia quarta-feira, dia 27, uma nova ronda de contactos com os partidos políticos depois do líder do PP ter declinado o convite de ser o primeiro a iniciar a formação de governo.

Mariano Rajoy em rota de colisão com a aritmética parlamentar (face à negativa do PSOE em deixar passar um executivo “constitucionalista” deu ouvidos a vozes do PP pedindo que fosse evitado o desgaste de um insucesso anunciado.

Rajoy foi claro: não renuncia a nada, mas reconheceu nesta sexta-feira não ter ainda solução. “Não tenho apoios suficientes para ser eleito primeiro-ministro”, fez notar.

O líder do governo espanhol em funções mantém a sua oferta de uma grande aliança entre os chamados partidos constitucionalistas (PP, PSOE e Ciudadanos) e continuará a trabalhar por “uma solução que é a melhor para Espanha”.

Com os resultados eleitorais na mala, Rajoy não consegue constituir governo só com o apoio dos parlamentares do PP, nem somando os deputados do Ciudadanos, o que, em teoria deixa em aberto a possibilidade de um governo só de esquerda, PSOE e Podemos, mas a que – por imperativo matemático – se têm de somar outros actores parlamentares: nacionalistas e independentistas.

Pedro Sánchez, líder do PSOE (no passado comprometeu-se a não se aliar ao PODEMOS), poderá encontrar-se este fim de semana com Pablo Iglésias numa aproximação que está a provocar ondas de choque nos barões socialistas.

Em entrevista à Renascença, antes ainda da declaração de Rajoy, Manuel Campo Vidal diz que “Sànchez se move num contexto muito difícil”.

Campo Vidal, figura incontornável dos media espanhóis – conduziu todos os duelos decisivos na tv – defende como mais provável um governo do PP, apoiado por Ciudadanos e com a abstenção do PSOE a troco de condições substantivas. No limite, um governo sem Mariano Rajoy, agora que Soraya Sáenz de Santamaria, vice de Rajoy, assume crescente protagonismo.

Pior na busca de uma saída, sustenta Manuel Campo Vidal, seria um cenário de novas eleições. “O Podemos teria ainda mais deputados que o PSOE”.

A Espanha continua sem governo, ao contrário da Catalunha. A ameaça independentista pode acelerar o processo em Madrid? Há poucas razões mais fortes para uma grande coligação do que defender a territorialidade.

É possível que o diferendo catalão possa ter influência na formação do governo espanhol ou em acelerar a constituição de uma coligação entre o PP de Rajoy, o Partido Socialista e Ciudadanos. Não excluo totalmente essa influência, mas a verdade é que identifico sinais de relativa moderação no novo governo catalão. Sinais que podem permitir que essa “desculpa” não implique essa coligação PP/PSOE, ou pelo menos, um governo do Partido Popular com tolerância parlamentar do PSOE e Ciudadanos. A outra alternativa será um governo encabeçado pelos socialistas – por Pedro Sánchez – com o apoio do Podemos, do Ciudadanos e com partidos nacionalistas. Mas muitos dessas forças nacionalistas são independentistas. Seria o que aqui em Espanha já se chama “a solução portuguesa”.

Em resumo, a primeira saída seria a “solução alemã”, a grande coligação. A segunda seria “solução portuguesa”, mas, claro, são enormes as diferenças entre a esquerda espanhola e a esquerda portuguesa. Em Portugal não há um Partido Comunista ou um Bloco de Esquerda a pedir a auto determinação do Alentejo ou a secessão do Algarve.

O Podemos, por exemplo, defende o referendo de auto determinação da Catalunha. Um mês depois Pedro Sanchéz tem a chave do impasse, mas será quem mais pode perder.

Pedro Sánchez está numa situação muito difícil. Tem muitos problemas no seio do partido que lidera, o PSOE, e tem uma negociação “à desesperada”. Pablo Iglésias, o líder do Podemos sabe dessa vulnerabilidade negocial de Sánchez. Iglésias, na verdade, não quer essa coligação com o PSOE. Iglésias coloca todas as dificuldades possíveis. Defende este referendo na Catalunha para tornar as coisas ainda mais difíceis ao PSOE, porque o que Iglésias pretende é que haja novas eleições ou, ao fim de algum tempo, ir às urnas com o objectivo de superar o Partido Socialista e tornar-se o líder da esquerda. Por isso creio ser muito difícil que o socialista Pedro Sánchez possa formar governo com o Podemos.

No plano interno, o PSOE apresenta-se dividido. Haverá barões socialistas a defender uma “solução alemã”. Por exemplo, a Susana Diaz, a todo poderosa líder andaluza poderia interessar uma solução temporária.

O PSOE sempre teve uma vida interna muito intensa e muito dura. Em Espanha ser líder do Partido Socialista é muito difícil porque há sempre movimentos de conspiração. É o caso neste momento. A presidente da Andaluzia, Susana Diaz, quer substituir a todo o custo Pedro Sánchez.

Susana Diaz vai colocar dificuldades internas para que Sánchez não possa formar governo e consolidar-se como líder. Em Espanha a situação é realmente difícil neste momento e cheia de incógnitas. Estamos dentro dos prazos constitucionais onde Mariano Rajoy tentará previsivelmente apresentar uma solução de investidura, de constituição e tomada de posse de um novo governo que deverá fracassar no parlamento.

Depois, ao fim de uma ou duas semanas, voltaremos a outro processo de investidura e já não sabemos se passa ou não. Depois será a fase de Pedro Sánchez tentar num contexto muito difícil e espero que não se tenha de realizar novas eleições, mas é uma possibilidade real.

Em caso de novas eleições, há sondagens – Invimark - a antecipar subidas para PP e Podemos e descidas para PSOE e Ciudadanos.

Essa sondagem reflecte uma impressão que é partilhada por todos: é possível que o PP recupere algo da sua fatia eleitoral – não muito - e é possível que o Podemos avance bastante. Podemos a progredir, simplesmente, porque é provável que os eleitores de outras opções de esquerda que fracassaram – Izquierda Unida e pequenos partidos – queiram optar por um voto útil no Podemos. Mas creio que uma nova ida às urnas nos conduziria de novo a um cenário sem saída aparente, mas ainda pior. O Podemos teria presumivelmente ou mais votos, ou mais deputados, ou os dois cenários, que o Partido Socialista. O conjunto da cidadania espanhola não quer novas eleições. Nas sondagens 66% - ou seja 2/3 – não quer novas eleições.

Que leitura para o que aí vem da eleição do socialista Patxi Lopéz para a presidência do parlamento, só possível com a abstenção do PP e a luz verde do Ciudadanos...

Em primeiro lugar foi uma boa notícia. Mostra que há partidos – PP, PSOE e Ciudadanos – a fazer o que os cidadãos pedem. Os espanhóis o que pediram, com o seu voto, é que haja entendimentos, haja pactos e que resolvam os problemas. A não ser assim o eleitorado já teria dado a maioria absoluta ao Partido Popular, ao Partido Socialista ou a quem quer que seja.

É uma primeira boa notícia a capacidade de entendimento para um cargo importante, mas o verdadeiro teste joga-se no cargo de líder do governo. O Partido Popular aceitou que o presidente da Assembleia seja um socialista com a esperança de que o PSOE possa, pelo menos, abster-se para que o Partido Popular possa governar. Aguardemos mais uma semana e logo veremos o resultado.

E qual é o cenário mais provável?

Um hipotético governo de Pedro Sánchez com o Podemos e com nacionalistas e independentistas é muito pouco provável. Em primeiro lugar porque Podemos não quer e, em segundo lugar, porque somar nacionalistas, talvez, mas somar independentistas teria uma rejeição muito forte, incluindo no seio do próprio PSOE.

Portanto, como cúmulo de probabilidades, diria que o mais possível é que haja um governo do Partido Popular apoiado pelo CIUDADANOS e com a abstenção do PSOE, mas pedindo moedas de troca. Pode ser a aprovação de determinadas leis, a reforma constitucional e, muito provavelmente, que o primeiro-ministro pertença ao Partido Popular, mas que não seja Mariano Rajoy.

Mas nesse caso Pedro Sánchez não teria de sacrificar a sua liderança?

É possível que Pedro Sánchez possa continuar a ser o líder do Partido Socialista. Dentro de meses haverá um Congresso ordinário do PSOE e sabemos que será uma batalha interna muito forte – como são sempre no PSOE – embora eu não esteja totalmente seguro que Pedro Sánchez possa ganhar esse confronto.

O PSOE normalmente abre as votações para o cargo de secretário-geral ao conjunto dos militantes o que dará para aferir a diferença entre o que pensam os dirigentes regionais, os chamados barões e o que pensa a base do partido. Portanto a possibilidade de que Sánchez continue a liderar existe. Em todo o caso, seja quem seja o novo líder, ou Sánchez continue, o líder vai ficar debilitado porque não será uma vitória esmagadora, mas antes uma eleição muito renhida.

Com o grau de integração que existe a Portugal interessa que a economia espanhola vá o melhor possível. Como é que a crise deve ser vista deste lado?

Acabo de ter uma conversa com o presidente da Confederação Empresarial de Madrid, Juan Pablo Lázaro. Acaba de me dizer que, de momento, a turbulência política espanhola não está afectar a economia, isto de acordo com os dados de que dispõe. Mas se a turbulência se ampliar no tempo não é de descartar que essa influência possa ter lugar.

Os mercados, as empresas e, em geral, os cidadãos querem governos estáveis. Todos estamos ligados. Uma constipação na Alemanha pode causar uma pneumonia em todos os países do sul da Europa – e não apenas no sul. Desde logo, um resfriado em Espanha não pode ser bom para a economia portuguesa pela probabilidade inerente de contágio. Tenho, todavia, a confiança de que nas próximas semanas os partidos políticos tenham a capacidade de interpretar correctamente o mandato das urnas. O povo espanhol disse-lhes “entendam-se, façam acordos e resolvam os problemas”.

Moderou na televisão os debates históricos da democracia espanhola. O último foi o mais tenso?

O frente a frente Rajoy-Sanchéz de 14 de Dezembro passado, dias antes das eleições, foi um debate especialmente duro. Muitos que aguardavam um debate entre verdadeiros estadistas – para sua surpresa – encontraram um grau de crispação verdadeiramente elevado o que sempre provoca alguma decepção. Nos últimos anos a política espanhola tinha tido enorme crispação e mantinha-se na proximidade das eleições sendo isso perceptível na atmosfera envolvendo o debate. Os mais de 10 milhões de pessoas que seguiram o debate – 9,700 mil através da televisão e os 500 mil via internet – tiveram todos a sensação de que essa crispação estava ali presente.

Eu tive a imensa sorte de moderar e organizar os quatro debates eleitorais chave que tiveram lugar em Espanha. Em 1993, o debate Felipe Gonzalez Vs José Maria Aznar. Em 2008, o confronto Mariano Rajoy Vs Rodriguez Zapatero. Em 2011, Rajoy Vs Gonzalo Rubalcaba e, agora, Mariano Rajoy Vs Pedro Sanchéz. Creio que o debate Rajoy Vs Sanchéz foi o mais crispado de todos. Em 1993 foi um debate muito duro entre Gonzalez e Aznar, mas este último confronto superou-o em crispação, ou pelo, menos na minha memória fica a sensação de que foi realmente o debate mais difícil.

E qual é o episódio que não esquecerás de todos estes debates?

De tudo na vida – e também dos debates – guarda-se sempre o impacto da novidade. Sentar frente a frente, pela primeira vez na história da Espanha democrática, dois candidatos à liderança do governo, como foram Felipe Gonzalez e José Maria Aznar em 1993, sempre ficará de uma forma muito especial retida na memória, nas sensações e, se me é permitido, no orgulho profissional de todos quantos participaram naquele acontecimento. Foi um debate que dirigi e apresentei, mas que, como sempre acontece, envolveu muitos outros profissionais. Não se trata da acção de uma só pessoa. Todos os que participaram nestes debates recordam a primeira vez. É esse debate Gonzalez-Aznar que ocupa um espaço destacado na nossa memória.

Comentários
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  • Maria Perry
    23 jan, 2016 Alcabideche 23:03
    Sanchez = Costa, poder é tudo o que interessa, o país e a vontade da grande maioria dos espanhóis moderados (PP + PSOE) não importa, tal como em Portugal. Em termos práticos, a península ibérica divide-se agora em centro-direita e extrema esquerda.
  • rosinda
    23 jan, 2016 palmela 22:46
    quando morre o presidente da republica ai nao temos soluçao sem nova eleiçao!Nos paises monarquicos e um descanso rei morto rei posto!
  • rosinda
    23 jan, 2016 palmela 21:40
    para que a democracia nao se perca no caminho! O pp tem que ser governo em conjunto com mais alguem que esteja disposto a colaborar!O que se fez em portugal foi anti democratico!
  • el listener
    23 jan, 2016 Valencia de Alcantara 15:34
    Hoy se entiende un poco mejor que ayer la renuncia de Rajoy a intentar formar gobierno; es evidente que si lo hace en primer lugar, como corresponde, tan solo lograría (en el mejor de los casos) el insuficiente apoyo de Ciudadanos. A partir de su fracaso, el turno le llegaría a Sánchez con la cámara ya un poco más proclive a aceptar los arreglos necesarios para lograr la investidura. Resumiendo: el primero en ir será el primero en quemarse; por tanto la pretensión de Rajoy es que se queme Sánchez y a partir de ahí hacer un llamamiento patriótico al PSOE para que en aras de la gobernabilidad y por ¿el bien de España y los españoles¿ (con voz engolada), acepte a Rajoy como presidente del gobierno. La cuestión es si el jefe del estado se prestará a colaborar en la jugarreta o impondrá el que debe ser el orden natural en el intento de formar gobierno. Pronto lo sabremos.
  • carlos carlos
    23 jan, 2016 koimbra 14:56
    Esquema muito diferente foi em Portugal: Costa sentou-se a cadeira e não quis saber quanto é que tinha de pagar para a extrema esquerda o suportar. Claro que quem paga é o contribuinte
  • Enkavakado
    23 jan, 2016 Bolike 10:20
    Por cá acontece exatamente o mesmo, o PPD só voltará a ser desgoverno sem o Aldrábias de Massa Má...e sem o Kavako!
  • Artur
    23 jan, 2016 Madrid 08:59
    Um mestre sem banda.
  • Pedro
    23 jan, 2016 Beja 08:02
    Oh Apolo, veja lá se o Sanchez não lhe saí um Costa e fica com mais um governo de "esquerdalhas" na EU. Já são uns quantos...
  • Miura
    23 jan, 2016 Santarém 02:20
    A sorte de Rajoy é que o PSOE tem um líder inexperiente e que não tem a habilidade política necessária para fazer pontes e consensos à esquerda e os socialistas espanhóis irão fazer a travessia do deserto a menos que mudem para outro perfil de liderança, novas eleições à vista portanto e com vitória maioritária do PP
  • Guerra Martins
    23 jan, 2016 Braga 01:36
    Estas esquerdas da artilharia pesada, tipo Sanchez e Podemos/Bloco de Esquerda/syriza têm por condição base de sobrevivência a existência de crises lesa povos que lhes suportem os argumentos e assegurem a adesão. As esquerdas fogo de artifício têm uma insaciável sede de poder e para lá chegarem nao hesitam em recorrer à artilharia supondo que a estão a usar, no que se iludem, como a situação portuguesa demonstra. Este feliz modo de agir tem por resultado a perversão da democracia o que, de acordo com o velho principio leninista, ajuda a acabar com ela. Parabéns. Mas atenção que os nossos irmãos espanhóis não são parvos como os vizinhos ibéricos. Ali não se faz cócegas ao toiro na arena, cumpre a sorte suprema. O entrevista tem razão quando deixa entender que não haverá governo à portuguesa. O próprio PSOE implodiria e haveria um revolta interna contra Pedro Sanches se ele tiver o topete de ceder aos esquerdalhos da extrema independentista de Iglesias e amigos à esquerda da esquerda. Por esta altura, o generalíssimo deve estar inquieto no imponente Vale dos Caídos! Tanto trabalho para entregar um grande país aos extremistas radicais da esquerda paga pelo Irão e pela Venezuela de Maduro. Sim, este Iglesias recebe proventos de Teerão e de Caracas! Irreal, não é? veja-se neste link: http://www.periodistadigital.com/politica/partidos-politicos/2016/01/22/podemos-pablo-iglesias-televisiones-tertsch-miedo-cup.shtml

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