23 jan, 2016 - 00:48
O primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, diz que a candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas contará com "todo o empenhamento" de Cabo Verde, adiantando que o português tem a "estatura necessária" para o cargo.
"Se António Guterres se candidatar contará com todo o empenhamento do Governo e do povo de Cabo Verde e, no quadro bilateral e multilateral, designadamente na CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) PALOP (Países Africanos de Língua Portuguesa) e Nações Unidas, para que seja eleito, tenha sucesso nesta candidatura e possamos assim ter um lusófono à frente da secretaria-geral das Nações Unidas", disse José Maria Neves.
Para o primeiro-ministro cabo-verdiano, António Guterres seria "um excelente candidato".
"Desempenhou com elevado mérito o cargo de alto-comissário para os Refugiados e também tem desempenhado, a nível de Portugal e no plano internacional, cargos de grande envergadura o que dá a António Guterres a estatura necessária para ser um grande secretário-geral das Nações Unidas neste tempo mais conturbado, mais difícil da humanidade em que precisamos enfrentar desafios importantes", disse.
Reacções em Portugal
O presidente do CDS, Paulo Portas, expressou em nome dos centristas e a título pessoal o seu apoio e empenhamento na candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas, salientando que há dificuldades nesse processo.
"A primeira condição para uma candidatura ser bem-sucedida é o consenso interno à volta do nome proposto e eu disse ao primeiro-ministro que o CDS evidentemente participaria desse consenso. Nós sabemos distinguir o que são controvérsias políticas do que são interesses permanentes do Estado português e por isso mesmo não quero deixar de dar esta palavra favorável, com o nosso empenhamento", afirmou Paulo Portas.
Falando aos jornalistas no Parlamento, o líder centrista disse que, na conversa que manteve com o primeiro-ministro, por iniciativa deste, acerca da candidatura, lhe pareceu que "o Governo português estava consciente de que uma candidatura terá de fazer um longo trajecto e vencer uma série de etapas, que não é isenta de dificuldades".
"Também me parece evidente que o engenheiro António Guterres é, como europeu ocidental, um nome muito forte e saberá sempre honrar a imagem de Portugal lá fora", frisou.
Portas aludiu a "um conjunto de circunstâncias que não dependem apenas dos candidatos" e que fazem da próxima eleição do secretário-geral das Nações Unidas um processo não clássico de eleição pessoal e difícil para António Guterres.
"É preciso nomeadamente ter a disposição favorável do Conselho de Segurança, a não oposição dos membros permanentes do Conselho de Segurança e ter em atenção uma regra, que é mais um costume do que uma formalidade, em que essa eleição segue uma rotação continental e geográfica", sustentou.
O líder do CDS, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros, declarou ter sido "testemunha do elevado prestígio e apreço que existe pelo engenheiro António Guterres no âmbito da Nações Unidas, das suas agências e do seu corpo de servidores".
O deputado do Bloco de Esquerda José Manuel Pureza considerou acertado o nome de António Guterres para candidatura a secretário-geral das Nações Unidas, reconhecendo o trabalho de "coragem e lucidez" que este desempenhou no ACNUR.
Em declarações à agência Lusa, José Manuel Pureza revelou que António Guterres é uma personalidade internacional "que se destacou nos últimos anos no seu compromisso numa das causas maiores do mundo contemporâneo que é, e vai continuar a ser, pelas piores razões, a protecção dos refugiados".
"António Guterres destacou-se desse ponto de vista como alguém com coragem, lucidez, com exigências sérias aos Estados e, se António Guterres vier a ser eleito secretário-geral das Nações Unidas, naturalmente que esta experiência de alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados será extraordinariamente importante para o modo como esperamos que exerça esse mandato", afirmou o deputado bloquista.
José Manuel Pureza salientou o facto de o apoio do Bloco de Esquerda a António Guterres não se limitar à candidatura de "um português por ser português", mas sim de colocar em destaque o papel que o antigo primeiro-ministro teve enquanto alto-comissário das Nações Unidas.
Já os dirigentes do PCP colocam o respeito pelos princípios constitucionais acima da "desejável" ocupação de cargos internacionais por portugueses, referindo-se ao antigo primeiro-ministro António Guterres.
Em comunicado, os comunistas recordam o desempenho de Durão Barroso como presidente da Comissão Europeia, deixando uma crítica implícita ao mesmo.
"Face à iniciativa do Governo de apresentar a candidatura de António Guterres para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas, o PCP quer salientar que a desejável presença de cidadãos portugueses em altos cargos públicos internacionais não pode ser desligada - como a realidade demonstrou com a presidência da Comissão Europeia - dos objectivos e projectos de intervenção que em concreto se propõem", lê-se.
O PCP defende o "necessário posicionamento quanto ao respeito pela Carta da Nações Unidas e pela afirmação do direito internacional, e por uma contribuição determinada em defesa da paz e da cooperação, pela promoção do desenvolvimento económico e social no respeito pelos direitos dos povos e da soberania e da independência dos Estados - ou seja dos princípios igualmente consagrados na Constituição República Portuguesa".
A candidata à Presidência da República Maria de Belém Roseira garante que é uma "firme apoiante" da candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas.
"Espero firmemente que António Guterres seja eleito, porque o trabalho que desempenhou enquanto Alto-Comissário para os Refugiados foi elogiado por todos", salientou a antiga presidente do PS à margem de uma acção de campanha numa fábrica da Póvoa de Varzim, distrito do Porto.
António Guterres "daria um excelente secretário-geral das Nações Unidas", defende o advogado e dirigente socialista António Vitorino, ao comentar à agência Lusa a intenção do Governo português em apresentar a candidatura do antigo primeiro-ministro ao cargo.
"Acho que, se fosse possível, e espero que seja, daria um excelente secretário-geral das Nações Unidas, como foi um notável Alto Comissário para os Refugiados, e que a importância da dimensão humana, à escala global, estaria muito bem personificada num secretário-geral de nome António Guterres", afirmou o antigo Comissário Europeu para a Assuntos Internos e antigo ministro da Defesa português.
Outros nomes na corrida
A candidatura do ex-primeiro-ministro António Guterres ao posto de secretário-geral das Nações Unidas junta-se a várias outras já oficialmente apoiadas pelos governos da Bulgária, Croácia, Macedónia ou Eslovénia.
Da Bulgária surgiram dois nomes, a directora-geral da Unesco, Irina Bokova, que é apoiada oficialmente pelo Governo, e a comissária europeia para o Orçamento e Recursos Humanos, Kristalina Georgieva.
A Macedónia apresentou o nome do seu ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e actual presidente da Assembleia Geral da ONU, Srgjan Kerim.
A Croácia apoia a candidatura da sua ministra dos Negócios Estrangeiros e Assuntos Europeus, Vesna Pusíc.
Quanto à Eslovénia, apresentou o nome do ex-Presidente da República Danilo Türk.
Na Carta das Nações Unidas estabelece-se que o cargo de secretário-geral é designado pela Assembleia Geral da organização, depois de aprovado pelo Conselho de Segurança, onde tem que passar pelo crivo dos cinco países com assento permanente e poder de veto: Estados Unidos da América, Reino Unido, Rússia, França e China.
O primeiro-ministro, António Costa, já confirmou que "o Governo vai apresentar a candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas" em Fevereiro.
António Guterres foi alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados durante dez anos, tendo terminado o mandato em final de 2015.