08 fev, 2016 - 18:52 • Catarina Santos
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Sul da Turquia, Norte da Síria. Milhares de pessoas percorrem a pé os 60 quilómetros que separam Alepo do posto fronteiriço turco de Oncupinar, fugindo das bombas russas e das do exército sírio, que caem a todo o momento. Às portas da Turquia acumula-se cada vez mais gente, a aguardar uma autorização de entrada que ainda não foi dada pelo Governo de Ancara.
Alepo, que costumava ser o centro financeiro da Síria, arrisca transformar-se numa nova Madaya (a cidade cercada no sudoeste do país, que ficou até meados de Janeiro sem acesso a comida ou cuidados de saúde, matando perto de 50 pessoas). Estima-se que pelo menos 350 mil civis ainda vivam entre a cidade e os arredores.
Os que conseguem fugir para norte são acolhidos por organizações como a Fundação Turca de Auxílio Humanitário (IHH, na sigla original). As agências de notícias internacionais falam de cerca de 70 mil pessoas a caminho da fronteira. Ao telefone com a Renascença a partir de Istambul, Mustafa Özbek, responsável para os média da IHH, tem dificuldade em falar de números. "Os nossos colegas no terreno falam de 50 mil pessoas, mas não é fácil aceder a informação neste momento".
A situação começou a agravar-se nas últimas 72 horas e os voluntários correm contra o tempo. A IHH enviou uma equipa de emergência para o terreno e está a tentar controlar a situação com "100 mil pães" por dia.
"No primeiro dia distribuímos água, comida quente e cobertores. Também montámos alguns campos no lado sírio, para se abrigarem. Mas quando 50 mil pessoas chegam à fronteira, é difícil garantir ajuda para todos", admite Musfata Özbek.
Pressão aumenta
A pressão internacional sobre a Turquia para que abra as fronteras tem-se intensificado. A responsável pela política externa da União Europeia (UE), Federica Mogherini, já veio recordar que está a ser dado apoio à Turquia precisamente para que proteja todos os sírios que fogem do conflito. Mas o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse este domingo que só abrirá as fronteiras "se for necessário".
O responsável da maior fundação humanitária turca diz que o governo de Ancara "prefere mantê-los para lá da fronteira e ajudá-los aí". Özbek compreende que a decisão "é política do Governo, é um problema de segurança para a Turquia", mas não sabe por quanto mais tempo a situação pode manter-se.
"Se continuarem a chegar mais pessoas, a situação de emergência vai agravar-se – e também os riscos. Estamos a aguardar. O que podemos fazer? Quase 3 milhões de refugiados vivem na Turquia, neste momento", sublinha.
"Tentamos fazer o nosso melhor e não temos reclamações, por agora", adianta o responsável, afirmando que, "a situação nas fronteiras está controlada, para já".
Voluntariado de alto risco
A IHH é a maior organização humanitária da Turquia e presta apoio aos refugiados desde o início da guerra na Síria. Não se afasta muito das fronteiras, mas continua a conseguir mover-se no terreno e tem 18 campos de refugiados montados em território sírio.
"Dentro da Síria há muitos problemas: o Daesh [autodenominado Estado Islâmico], agora os bombardeamentos russos que atingem a área, o exército sírio... Há muitos riscos de segurança no terreno, mas nós tentamos fazer o nosso melhor para ajudar estas pessoas – até 10 ou 15 quilómetros das fronteiras turcas".
O maior receio de Mustafa Özbek é que o conflito se prolongue. No imediato, teme que o cerco a Alepo esteja prestes a fechar-se. "Se o exército sírio bloquear as estradas, se não permitir que a ajuda humanitária passe, será um problema para estas pessoas" que têm "a vida ameaçada" – quer fujam, quer permaneçam onde estão. "Os 50 mil que fugiram e que vieram para as fronteiras turcas têm medo de todas estas situações – da possibilidade de morrer à fome, das bombas".
O responsável para os média da IHH lamenta, sobretudo, não ver a devida "preocupação com esta situação, neste momento". "As Nações Unidas e a comunidade internacional têm de discutir este problema muito seriamente. Não há soluções. Fazem algumas reuniões, mas não há soluções para estas pessoas, para estas mulheres e crianças. Este é um problema da comunidade internacional, não é um problema apenas da Turquia", sustenta.