09 fev, 2016 - 01:49 • Liliana Monteiro
Veja também:
A comissão de inquérito da ONU ao conflito na Síria revela o extermínio de milhares de pessoas e violações graves dos direitos humanos.
As Nações Unidas revelam que os responsáveis são não só as tropas do Governo sírio liderado por Bashar al-Assad, mas também o autoproclamado Estado Islâmico e grupos organizados na região.
O relatório, que analisa o período entre Março de 2011 e Novembro do último ano, tem por base mais de 600 entrevistas no terreno.
O documento conclui que, nos últimos quatro anos e meio de guerra, milhares de pessoas foram detidas de forma arbitrária, assassinadas e sequestradas na Síria. Muitas desapareceram sem deixar rasto. Os actos partiram tanto do lado do Governo, da oposição e de organizações terroristas.
Os relatores sublinham que o país atravessa uma situação muito crítica, que representa já uma crise humanitária em larga escala, e que há medidas urgentes a tomar para evitar mais mortes.
Na apresentação destas conclusões, em Genebra, o responsável pelo inquérito, o diplomata brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, deixou um sério aviso à comunidade internacional.
“Todos os Estados-membros continuam a cantar o mesmo mantra de que tudo se resolve apenas com uma solução politica e não militar. Mas é um facto que muitas pessoas, e até alguns desses países, continuam a financiar esta batalha, esta guerra, com mais armas, mais dinheiro, mais combatentes, mais treino desses mesmo combatentes”, assinalou.
“Acreditamos que a via militar possa ser um pré-requisito para o sucesso de qualquer acordo político mas, ao mesmo tempo, todos aqueles que são responsáveis pelas violações dos direitos humanos e abusos do povo sírio, não temem qualquer consequência. Reina a sensação de impunidade na Síria e a comissão considera, por isso, que o povo sírio merece um verdadeiro acordo, que não seja dúbio e possa trazer de volta a paz ao país”, sublinhou Paulo Sérgio Pinheiro.
O responsável pelo inquérito deu conta do que encontrou no terreno: Morte, falta de acesso a medicamentos, negligência, violência sexual, desprotecção dos mais fragilizados, tortura e agressões, prisioneiros de guerra (entre eles também mulheres e crianças), muitos prisioneiros nas mãos das diferentes facções e execuções a sangue frio e sem decisão judicial.
Os relatores ficaram chocados com o que ouviram dos testemunhos e leram nos documentos, descrições de crianças e jovens levados das suas famílias, das suas aldeias para integrarem as fileiras da guerra.
A comissão de inquérito da ONU destaca que as mortes aconteceram com muita frequência e em várias localidades controladas pelo Governo sírio. Isso mesmo conseguiu perceber após falar com muitos sobreviventes ou familiares dos que não resistiram.
As Nações Unidas falam também em impunidade e largas dezenas de mortes nas prisões sírias. O relatório cita casos em que os guardas foram vistos a dar ordens para a tortura detidos, presos obrigados a transportar cadáveres pelos corredores, muitas vezes, intencionalmente, deixados a apodrecer nas casas de banho dos centros de detenção.
Os dados agora conhecidos são de um relatório preliminar. O documento final será apresentado em Setembro.