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O que acontecerá se o Reino Unido sair da União Europeia?

18 fev, 2016 - 08:00 • Vasco Gandra, em Bruxelas

A UE tenta esta quinta-feira chegar a acordo com o Reino Unido. O que aconteceria à UE em caso de "Brexit"? E aos britânicos?

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O primeiro-ministro britânico, David Cameron, e os restantes líderes comunitários chegaram, esta sexta-feira, a um acordo para tentar evitar o chamado "Brexit" e manter o Reino Unido na União Europeia (UE).

Cameron pretende recuperar soberania e alinhar menos com a integração europeia. Fará campanha pelo “sim” no referendo sobre a manutenção do Reino Unido no bloco comunitário, que deverá ter lugar até finais do próximo ano.

Mas mesmo com este acordo entre Londres e as restantes capitais europeias, nada garante que uma maioria de britânicos vote a favor da continuação na UE. Se o país sair da União Europeia (o já célebre “Brexit”), as consequências são imprevisíveis – ninguém sabe ao certo o que vai acontecer, nem qual o impacto económico dessa ruptura. Também politicamente as ondas do choque são difíceis de prever.

O PIB desce ou sobe?

Todo o processo está marcado pela incerteza e pelo risco. Primeiro, em relação ao resultado do referendo: as sondagens são incertas, qualquer dos lados pode vencer. Depois, porque a saída de um país da UE é algo inédito, logo difícil de calcular – há análises para todos os gostos. Finalmente, porque tudo dependerá da futura relação que, em caso de saída da União, o Reino Unido estabeleça com os antigos parceiros.

O impacto do “Brexit” poderá oscilar entre uma quebra de 2,2% do PIB do país (em 2030) até um aumento de 1,6% do PIB, em função dos acordos comerciais que o Reino Unido negociar com outros países e do grau de desregulação da economia que o governo estiver disponível para fazer, de acordo com um estudo do Open Europe. Mas este centro de investigação internacional, favorável a uma reforma da UE, sublinha que os números mais realistas apontam para uma fasquia situada entre -0,8% do PIB e +0,6% do PIB, variação que depende da futura política de acordos comerciais do país.

Um estudo de investigadores do Centre for Economic Performance, da London School of Economics and Political Science, aponta para uma perda em termos de PIB de entre 1,23% (cenário optimista) até 9,5% (pessimista), no caso de “Brexit”.

Outro estudo, da fundação alemã Bertelsmann Stiftung, calcula uma redução do PIB ‘per capita’ de entre cerca de 0,6% e 3%, em 2030, dependendo das relações comerciais que o país estabelecerá. O impacto nos parceiros europeus, sendo menor, terá sempre efeitos, sobretudo devido aos intensos laços comerciais entre o Reino Unido e alguns países (como a Irlanda, Luxemburgo, Bélgica, Suécia, Holanda, Malta e Chipre).

Os defensores da Europa no Reino Unido afirmam que pertencer à UE facilita o acesso aos mercados, atrai investimento e garante mais de três milhões de postos de trabalho. Já os antieuropeístas, como o UKIP, negam que o país perca tantos empregos.

Se o “Brexit” se concretizar será um problema para o orçamento comunitário. O Reino Unido deixará de contribuir para o orçamento – em 2014, por exemplo, contribuiu com cerca de 11,3 mil milhões de euros. Para compensar, os outros Estados-membros da UE deverão aumentar a sua contribuição ou receber menos da Europa.

Comércio, serviços financeiros e regulação

Negociar a saída será provavelmente um processo moroso e complexo. É impossível dizer quanto tempo poderá demorar. Dois, cinco, dez anos?

Ao mesmo tempo, o Reino Unido deverá estabelecer uma nova relação comercial com a UE. Que tipo de acordo será? Que sectores vai abranger? Sem barreiras tarifárias? Esta é uma das questões mais importantes para o futuro das exportações britânicas: saber que tipo de acesso o país consegue ao mercado interno e aos mais de 430 milhões de consumidores da UE.

Há ainda ter em conjunto as regulações e os padrões industriais e ambientais, que serão diferentes de um lado e do outro da Mancha, o que pode implicar custos e entraves à actividade económica.

É certo que um governo britânico fora do bloco comunitário teria liberdade de negociar os acordos comerciais que entendesse, de acordo com os seus interesses. No entanto, o peso externo do Reino Unido numa negociação será sempre menor, comparado com o que tem dentro da UE. Por sua vez, o bloco europeu perderá um membro de referência no comércio internacional.

Se no comércio o impacto do “Brexit” é incerto, o mesmo se pode dizer em relação à City de Londres. A principal praça financeira da Europa, onde estão serviços financeiros, seguros e bancos, deverá manter esta posição de topo, devido à reputação e quantidade de serviços que oferece. Já o tipo de relação com os restantes parceiros no continente é uma incógnita. Estudos apontam para maiores dificuldades no acesso aos mercados dos antigos parceiros e aumento dos custos dos serviços.

Choque político

Politicamente, a União Europeia sem o Reino Unido perde peso no mundo. O país tem um dos melhores exércitos e serviços de informação, dispõe da arma nuclear e é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Possui ainda uma das melhores diplomacias.

Por outro lado, se os britânicos preferirem ficar de fora, a UE poderá vir a reforçar a sua coesão com Estados-membros a decidirem avançar na integração europeia. No entanto, um bloco comunitário reforçado, mas sem o Reino Unido não parece ter tanto peso na cena internacional.

No caso de um “Brexit”, há observadores que admitem que outros Estados-membros vão seguir o Reino Unido, com ou sem referendo. Num momento em que a UE e os 28 enfrentam uma vaga de populismo e cepticismo, a braços com várias crises em simultâneo, o “Brexit” terá ondas de choque difíceis de prever.

[notícia actualizada às 23h26, de 19 de Fevereiro]

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  • luis aires
    30 jun, 2016 Mafra 17:41
    Não sei o que os Ingleses ganham com esta brincadeira, mas vos digo a Inglaterra não vai sair do Euro é jogo sujo. Em Setembro tornamos a ver.
  • josue
    23 jun, 2016 Belem, Pará, Brasil 23:58
    eu tambem sou a favor da saida do reino unidos da UE vejo na UE um bloco fechado so entre eles os outros paises passam por desfavorecimento em todas area nacionais, politicas,financeiras,e religiosos, criando assim uma descrimineção pelo paises mas pobre.
  • João Lopes
    22 jun, 2016 Lisboa 11:37
    O problema é que sendo a Inglaterra um pais que colocou, em termos de linguagem oficial praticamente aceite por todos países, facto que garante aos ingleses alguma segurança porque onde se deslocam não necessitam de fazer muito alem de levar a carteira recheada, funcionando como um trunfo forte alias de como uma moeda se tratasse. Pelo que a saída pode levantar a questão de porque é que a língua é oficial e aceite e porque não outras, traduzindo-se a breve prazo que os ingleses tenham de investir na aquisição de novos conhecimentos linguísticos que ate aqui não tem sido muito verificados pelos ingleses. A confirma-se a saída e a consequente desvalorização da sua moeda a libra, não se tornando muito importante em termos de riqueza, este problema surgira e talvez com ele uma revolução a nível mundial de novas oportunidades para quem fala outras línguas. Pode ser um começo para coisas bem mais justas do que este domínio inglês quer pela economia quer pela imposição de vocábulos Ingleses que nada beneficiam as variadas línguas maternas de cada Pais.
  • Maria
    04 jun, 2016 Santarem 00:13
    Axo que o reino unido nao deveria sair da uniao eueopeia para desgraças ja temos. Em Portugal
  • Jack Daniels
    10 mai, 2016 Porto 22:57
    Está na altura da Ilha assumir a sua liderança política. God Save the Queen e os Sex Pistols . A Europa está condenada ao fracasso com a permanência do Reino Unido e as suas aspirações de liderança do projecto Europeu, fazendo dos outros colónias e mercados financeiros dependentes de Londres . Assim Londres passa a estar dependente da Europa e vamos assistir à quebra da bolsa e respectivo crash e desvalorização da Libra Inglesa em cerca de 70%. O Reino Unido não exporta está à espera de uma guerra para desenvolver-se à custa da industria do armamento, tal como os EUA. Cresceram as economias emergentes e agora tentam destruí-las como é o caso do Brasil e destituição de Dilma para colocar um corrupto para fazer o jogo diplomático de um Taylerand ou de um Beresford. Mas o Reino Unido está condenado a cair com uma crise política e o fenómeno nacionalista ganha impulso na Escócia e na Irlanda sendo os vectores fundamentais para a economia e sistema financeiro do Reino Unido e não a coroa da Rainha.
  • Maria Morte Lenta
    23 fev, 2016 Freixo de Espada à Cinta 23:32
    O Mundo Islâmico, espera sentado pela desagregação da Europa, para a poder tomar através das suas principais capitais. Os dirigentes europeus sabem bem isso, não andam a dormir em relação a este assunto, até têm estado a facilitar, porque se encontram praticamente todos comprados pelos dinheiros do Médio Oriente, provocando assim, a própria decadência e capitulação da Europa. São eles os responsáveis máximos do que se passa hoje na Europa, têm permitido ataques à cultura europeia, que nada tem haver com a cultura do Islão e permitido a actual insegurança que se vive no Continente Europeu, permitindo ataques e mortes de cidadãos europeus sérios e honestos, que não se deixam vender pelo dinheiro vindo do Médio Oriente. São estes dirigentes gananciosos que vão deitar a Europa abaixo e a vão entregar nas mãos de assassinos. Uma grande parte do Médio Oriente é um sub-continente da Ásia, porque que, razão a Europa foi obrigada a receber tantos refugiados, sendo um continente bastante mais pequeno do que o continente asiático? Está à vista os interesses individuais da maior parte dos responsáveis políticos europeus. Vejamos quantos islâmicos a China recebeu? E a Índia? E o Irão que é vizinho da Síria? Estamos explicados.
  • Antonio Rodrigues
    22 fev, 2016 Navalho 12:16
    Desde 1890 que estes british me "rascan los cojones" lembam-se? o ultimato respeitante ao maoa cor de rosa, para mim, se quizerem sair que saiam, estou farto destes esquerdinos,
  • maria
    22 fev, 2016 Barcelos 02:09
    os ricos ganhão sempre ainda que seja errado , os políticos são pessoas non gratas em todo o Mundo.
  • José António
    18 fev, 2016 Alcobaça 15:31
    Pedro é mesmo isso que eu venho dizendo neste Grupo dos 40 lad que esta a caminho só se entra ninguém sai esta Europa é a cópia do Padrinho só sais Morto pois é preciso assinar a saída com os 5 litros de sangue que nos faz girar .
  • JB
    18 fev, 2016 Lisboa 15:26
    Brexit e Lusoexit jÁ, UMA UNIÃO ECONÓMICA ENTRE eles, ...esperá lá, isto já aconteceu ... nas invasões napoleónicas.

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