19 mar, 2016 - 10:02 • Ricardo Vieira
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Dilma e Lula apanhados num grampo? Propinas e pixulecos? O povo não quer pagar pato e está farto de pedaladas? As expressões utilizadas no Brasil para descrever o escândalo de corrupção e a crise política em curso podem ser um grande ponto de interrogação para os portugueses, mesmo para os que seguem as três novelas da noite.
O choque cultural não é de agora e funciona em ambas as direcções. O antigo seleccionador Luiz Felipe Scolari dizia, num célebre anúncio publicitário, que quando chegou a Portugal aprendeu que “aeromoça é hospedeira” e que “matraquilho é pimbolim”.
Portugueses e brasileiros partilham a mesma língua, mas nem sempre se entendem. Há todo um mar de diferenças e influências culturais que leva as palavras por novos caminhos e que faz despontar vocábulos e expressões.
Para desfazer equívocos, a Renascença reuniu um conjunto de palavras e termos que podem ajudar a descodificar o escândalo de corrupção “Lava Jato” e a crise política em curso no Brasil.
Baderna - É a expressão utilizada no Brasil para descrever uma situação de grande confusão ou desordem. E tem havido alguma baderna nas manifestações contra e a favor da Presidente Dilma Rousseff e de Lula da Silva. A palavra baderna tem origem no apelido de uma bailarina italiana que chocou a sociedade conservadora do Rio de Janeiro, no século XIX, mas também conquistou uma legião de fãs.
Coxinha - A classe média alta que contesta o Governo liderado por Dilma Rousseff recebeu esta alcunha. O rótulo é utilizado pelos apoiantes da esquerda e tem uma carga depreciativa. Em Portugal será o equivalente a "tia" ou "betinho".
Delação premiada - O denunciante é recompensado. A justiça brasileira permite a redução de penas aos suspeitos que colaborem com a investigação. Tem sido um dos factores determinantes para o sucesso da operação “Lava Jato”. Esta possibilidade não existe no quadro jurídico português.
Doleiro - É uma pessoa que se dedica à transacção ilegal de dólares no mercado negro brasileiro. Também pode ser alguém envolvido em operações de fuga ou branqueamento de capitais. Doleiro vem precisamente de dólar. A operação “Lava Jato” começou por investigar grupos que se dedicavam a essas actividades ilegais.
Grampo - É o termo utilizado no Brasil para designar o que em Portugal é conhecido por escutas telefónicas. Esta semana, a divulgação de um grampo/escuta de uma conversa entre Lula e Dilma, por decisão judicial, provocou polémica nacional.
Impeachment - A palavra inglesa é empregue pelos brasileiros para se referirem ao processo de destituição ou impugnação do mandato de um Presidente, governador ou prefeito, em caso de irregularidades graves. Fernando Collor de Mello foi derrubado em 1982 e Dilma Rousseff está a ser alvo de um processo de destituição.
Lava Jato - A expressão já vem sendo conhecida em Portugal. É o nome da investigação iniciada há vários anos e que chegou agora ao ex-Presidente Lula da Silva. O maior escândalo de corrupção da história do Brasil começou numa estação de lavagem de carros de Brasília, um lava a jacto.
Liminar – É uma espécie de providência cautelar. Uma acção judicial interposta no início do processo com o objectivo de suspender determinada acção imediatamente. Tem sido utilizada para suspender a nomeação de Lula da Silva para ministro-chefe da Casa Civil.
Panelaço - Tem sido cada vez mais frequente nas ruas do Brasil. Trata-se de um protesto ruidoso em que os manifestantes batem em panelas com colheres ou com o utensílio que está mais à mão. Esta forma de expressar indignação surgiu na década de 70 no Chile e foi popularizada na Argentina, durante a grave crise económica da viragem para o século XXI.
Pato - Quando os brasileiros dizem que não querem “pagar o pato”, significa que estão fartos de aumentos de impostos e não querem ser tomados por parvos. Nas manifestações contra o Governo de Dilma, têm sido avistados patos amarelos insufláveis. O maior tem cerca de 12 metros e foi instalado em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília.
Pedalada fiscal – É uma forma de engenharia orçamental ou maquilhagem das contas públicas. Através da pedalada fiscal, o Governo brasileiro atrasou ao longo de vários anos pagamentos aos bancos e às autarquias. O expediente permite apresentar resultados mais saudáveis aos olhos dos mercados, mas que não reflectem a realidade.
Peemedebista – É um apoiante do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), que faz parte da coligação que sustenta o Governo de Dilma Rousseff. O PMDB tem seis ministros, mas em cima da mesa está a possibilidade de abandonar o executivo.
Petista - É um apoiante do Partido dos Trabalhadores (PT). Lula da Silva e Dilma Rousseff são os militantes mais conhecidos. O PT chegou ao poder em 2002. O então Presidente Lula da Silva tirou milhões de brasileiros da pobreza extrema e é considerado um herói do povo, mas as suspeitas de corrupção ameaçam fazer implodir a sua credibilidade.
Petrolão - É o nome porque ficou conhecido o escândalo de corrupção com epicentro na petrolífera estatal brasileira Petrobras. Altos quadros da empresa receberam subornos de construtores civis que, em troca, garantiam empreitadas em obras da Petrobras a preços inflacionados. O dinheiro também era canalizado para financiamento de partidos.
Pixuleco - O mesmo que suborno, dinheiro sujo ou roubado. Era uma palavra de código utilizada pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que foi condenado a 15 anos de prisão por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. O caso serviu de inspiração para o boneco pixuleco, um Lula da Silva insuflável e vestido de presidiário, que aparece nas manifestações.
Propina - Em Portugal é a mensalidade paga pelos alunos universitários, mas no Brasil é o equivalente ao pagamento de luvas ou subornos. Importantes dirigentes políticos brasileiros, no poder ou na oposição, são suspeitos de receber propina das empresas de construção civil, através de intermediários.
TRF1 - A sigla corresponde ao Tribunal Regional Federal da 1.ª Região, que tem sido chamado a pronunciar sobre acções para suspender a nomeação do ex-Presidente Lula da Silva para o Governo.