21 mar, 2016 - 19:22 • Filipe d'Avillez
Em Portugal para participar numa sessão de homenagem a D. Maria I, que morreu no Brasil há 200 anos, o príncipe D. Gabriel de Orléans e Bragança, descendente directo de D. Pedro e sobrinho do actual chefe da Casa Imperial do Brasil, falou com a Renascença sobre a actual crise brasileira.
Esta situação que está a passar-se no Brasil apanhou-o de surpresa?
Apanhou de surpresa de certa forma, sim, mas não é mau para o país, pelo contrário. Imaginávamos que existissem situações tão más como estas e graças à operação "Lava Jato", sobretudo decorrente da iniciativa do Ministério Público Federal, que encontrou um bom juiz, Sérgio Moro, tivemos a grata surpresa de poder esclarecer a sociedade sobre tudo o que estava acontecer no que diz respeito à política no país e algumas empresas públicas, como é o caso da Petrobras, que já todos suspeitávamos que estivesse a ser vítima de administração incorrecta.
Diz-se que o Brasil está numa situação complicada, mas acho que está a melhorar porque a sociedade tomou conhecimento do que está a acontecer, a sociedade está a ir para as ruas, lutando contra o que acha errado, porque agora tem meios para lutar contra o que é errado, tem conhecimento do que está a acontecer. Por isso é salutar e espero que em pouco tempo consigamos fazer uma boa limpeza na situação actual, para que o país volte a crescer efectivamente.
Uma boa limpeza implica retirar os governantes actuais, mas existem alternativas?
O congresso já está a debater a possibilidade de retirar poderes ao Executivo e distribuir mais pelo Congresso Nacional. Seria uma forma de parlamentarismo.
Sou obrigado a dizer que o parlamentarismo só acontece de forma competente com uma monarquia. Acredito que há possibilidade de uma mudança do sistema, não sei se acontecerá em pouco tempo, mas tudo isto serve para que todos possamos reflectir um pouco mais sobre um sistema que não está a resultar, sem dúvida.
Estas manifestações têm dedo político ou são verdadeiramente populares?
Acredito que o movimento é popular. Tem sido uma iniciativa popular por parte dos brasileiros cansados de serem enganados pelo actual sistema e pelo actual Governo que não tem levado em consideração o bem maior para o país e acabam por ir para as ruas manifestar-se. É louvável que tenha acontecido.
Devo deixar claro que as manifestações, na grande maioria das vezes, têm sido pacíficas, apenas para expressar a opinião do brasileiro hoje. E é assim que têm de continuar.
As pessoas podem estar a pensar que só defende a monarquia por interesse. Qual é a sua posição dentro da família imperial?
O herdeiro do trono é o meu tio Luiz e respeito-o muito. Toda a família, irmãos e sobrinhos vêem-no como alicerce. Ele é a pessoa certa para poder conduzir o país na forma de uma monarquia, sobretudo parlamentarista. Eu não tenho interesse nem legitimidade para reclamar qualquer direito hereditário ou a possibilidade de vir a ser Rei ou Imperador. Digo isto por ideologia e por acreditar nas pessoas que conheço, que são meus parentes, tios e primos. Este é o melhor caminho.
Tem havido mais interesse na causa monárquica no Brasil por causa desta crise?
Tudo o que está a acontecer ajuda-nos a reflectir e a levar a um maior esclarecimento para todos os brasileiros sobre qual seria o sistema melhor: se uma República, que infelizmente tem uma democracia enganosa, representada pelas pessoas presentes no Planalto hoje, isto é, aquelas pessoas que acabam por se colocar à mercê de certas condições para chegar ao poder; ou se seria melhor contar com pessoas que foram educadas desde o princípio para poder conduzir a nação a uma situação melhor, obviamente levando em consideração também o Parlamento.
Desafio qualquer um que possa dizer o que quer que D. Pedro II tenha feito de prejudicial ao país. D. Pedro II esteve 48 anos no poder, foi um exemplo de pessoa que serviu ao país, que ouvia a todos, tinha audiências públicas.
É formado em Direito. Acredita que o sistema judiciário brasileiro vai funcionar neste processo?
Acredito que sim. Nestas acções criminais os maiores elementos de prova não são divulgados ao público em geral. Sabemos o que se passa pelo que a imprensa divulga e que tem deixado todo o povo brasileiro perplexo.
Não tenho conhecimento dos autos dos processos para dizer se estas pessoas devem ou não ser presas. Mas há obrigação de perseguir as provas e o que acontece neste processo porque, tratando-se de autoridades públicas e pessoas que são responsáveis pela condução e administração do nosso país, os factos devem ser levadas ao conhecimento do público para que se possa reflectir sobre se as pessoas envolvidas no processo merecem ou não merecem o voto para permanecerem à frente do nosso país.
Hoje tem-se provado que estas pessoas envolvidas no processo não estão aptas para conduzir o país, seja no poder executivo, seja no poder legislativo.
Se o processo sair frustrado, as manifestações se poderão tornar violentas?
Acredito que não. Estive em algumas das manifestações e o que vi foi uma manifestação de amor ao país, querendo o melhor para o país. Acho que isso de forma alguma se pode transformar em algo que seja violento, em algo que seja negativo para o nosso crescimento.
Conto, obviamente, que as autoridades também passem a reflectir e estejam mais atentas ao que os brasileiros entendam que é o melhor para o país e realizem as reformas que entendemos serem necessárias hoje para que o Brasil volte a estar no caminho correcto.
Como disse no início, o que está acontecer agora é salutar, o país está a crescer, está a tomar conhecimento de situações que antes não eram esclarecidas. Antes desta operação havia indícios que podiam ser levados ao conhecimento da população, mas somente agora, graças a este trabalho muito exaustivo e perspicaz, é que temos tido conhecimento de um país que tem sido enganado pelos seus actuais administradores.