07 abr, 2016 - 10:50 • Isabel Pacheco
O testemunho da angústia dos refugiados na travessia do Mediterrâneo chega esta quinta-feira a Fafe, onde vai ser homenageado o eritreu Mussie Zerai. Conhecido como o “112 do Mediterrâneo”, o presidente da agência humanitária Habeshia participa no Terra Justa, o encontro internacional de causas e valores da humanidade.
O padre Mussie Zerai é, muitas das vezes, o primeiro a receber os pedidos de socorro dos refugiados em perigo no mar. A última chamada foi na semana passada. A ajuda tardou e das 82 pessoas, duas morreram. “Porquê? Onde está a Frontex? É a agência europeia para proteger a fronteira e resgatar as pessoas, mas não estava lá na altura. O problema é que a Frontex recebe o mesmo financiamento da Mare Nostrum, para fazer o mesmo, mas não o faz. O objectivo do Frontex não é salvar as vidas, apenas proteger a fronteira”, critica, em entrevista à Renascença.
São falhas apontadas à agência de gestão das fronteiras externas de uma Europa mais preocupada com as fronteiras do que com as vidas humanas. É um reflexo de uma “Europa confusa” e “paralisada” entre diferentes grupos de lóbis e posições políticas”, diz Mussie Zarai, que alerta para a urgência de pôr um fim ao acordo da União Europeia com a Turquia.
“Como pode a União Europeia violar a lei internacional, a obrigação internacional de dar protecção aos refugiados para os empurrar para a Turquia? Isto é a total violação da Convenção de Genebra. Precisamos de cancelar este acordo”, defende.
Com 16 milhões de refugiados, Mussie Zerai não tem dúvidas que é preciso mudar políticas, mentalidades e instituições, a começar pelas Nações Unidas. “Enquanto existirem poderosos lóbis que investem dinheiro e energia neste tipo de guerra, haverá sempre refugiados.”
“Estamos na Terceira Guerra Mundial em pequenos pedaços", diz, citando uma expressão do Papa Francisco. "Precisamos mesmo de reconstruir as Nações Unidas e mudar totalmente a organização para que assim possamos ter paz outra vez."
O padre descreve um cenário em que milhares de refugiados que paz e a protecção internacional encontram uma Europa de costas voltadas. Só mudará, conclui, com a força e a voz da sociedade civil.