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Caso do ensaio clínico da Bial leva a buscas em Paris

20 abr, 2016 - 22:21

Morreu um voluntário, de 49 anos, em França durante os ensaios de um novo medicamento da farmacêutica portuguesa. O caso está a ser investigado.

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Uma equipa de investigadores realizou buscas na sede da Agência Nacional de Segurança do Medicamento (ANSM) em Saint-Denis, Paris, procurando documentos sobre o ensaio clínico em que morreu um voluntário a 17 de Janeiro.

As buscas, efectuadas no âmbito do inquérito preliminar do Ministério Público de Paris por homicídio e ferimentos involuntários, decorreram no piso do edifício onde trabalham os agentes encarregados da avaliação.

Os investigadores procuravam documentos relativos à autorização dada pela ANSM para a realização do ensaio clínico que se revelou fatal com um medicamento da farmacêutica portuguesa Bial.

A 17 de Janeiro último, Guillaume Molinet, de 49 anos, morreu durante um ensaio clínico realizado em Rennes pela empresa especializada Biotrial, enquanto testava uma molécula que actuava sobre o sistema nervoso para o laboratório português Bial.

Outros cinco voluntários tiveram também de ser hospitalizados, e alguns deles apresentam ainda sequelas neurológicas decorrentes dos testes com aquela substância que tinham sido validados pela ANSM.

Este é o mais grave acidente alguma vez ocorrido na Europa no âmbito de um ensaio clínico.

A 14 de Abril, o jornal francês "Le Figaro" publicou um documento interno da ANSM, um relatório redigido a 18 de Janeiro, um dia após a morte do voluntário, com a sua avaliação clínica do medicamento.

Nele, a agência procedia à releitura e aprovação do protocolo do laboratório português antes da realização dos testes em Rennes - um procedimento em que intervêm dois avaliadores (clínico e não clínico) -, e se lia que "o avaliador não clínico transmitiu o seu relatório alertando o avaliador para um efeito sobre o sistema nervoso central", devido a efeitos ou lesões observados no cão, no rato, na ratazana e no macaco.

Um produto com ou sem riscos?

O alerta não impediu a avaliação clínica da ANSM de concluir que "a segurança dos pacientes está bem assegurada neste estudo", porque "o relatório de avaliação clínica não inclui os comentários do avaliador não clínico sobre os efeitos neurológicos observados em animais", observava a directriz da avaliação.

Por último, o relatório clínico sublinhava que se tratava de uma primeira administração em seres humanos, mas precisando que "não se trata de um produto com riscos" - uma análise agora amplamente contestada.

Quatro funcionários da agência foram demitidos, entre os quais o director da avaliação, e está em curso uma investigação da Inspecção Geral dos Assuntos Sociais (Igas), liderada pelo médico Gilles Duhamel, que era chefe de gabinete de Dominique Gillot, secretária de Estado da Saúde, quando o conselheiro técnico desta era Dominique Martin, actual director da ANSM. Ou seja, o actual investigador do Igas era o chefe do actual dirigente da agência.

Numa altura em que aumenta cada vez mais a tensão entre os dois altos funcionários, não se sabe se a ministra da Saúde, Marisol Touraine, apoiará Dominique Martin durante muito mais tempo.

Um membro da ANSM comentou, a propósito: "Se a ministra afastar Martin para fazer dele um bode expiatório na história do ensaio clínico de Rennes, se ela decidir arrasar a agência, quem é que o Governo colocará no seu lugar? Todos sabemos que esta agência foi criada durante o caso do sangue contaminado para servir de pára-raios e proteger os políticos".

Contactado pelo "Figaro", o advogado da ANSM, Pierre-Olivier Sur, não quis comentar as buscas realizadas nas instalações da agência.

Comentários
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  • A SILVA
    20 abr, 2016 Castelo Branco 23:26
    Pura idiotice o que se discute em torno deste caso. Todos os medicamentos passam por fases laboratoriais com ensaios em animais e posteriormente em humanos. Evidentemente que existem riscos. Os animais não têm escolha nem tempo para se queixarem. Contudo os humanos que serve de cobaia são VOLUNTÁRIOS e bem pagos para estes ensaios clínicos e laboratoriais. Sabem, à partida, que correm riscos. Se assim não fosse qualquer pessoa poderia servir de cobaia. Os franceses aproveitaram o caso dos Panama Papers onde parece que o Dr Luis Portela está envolvido, para virem atirar responsabilidades para cima da Bial. Pura ficção! E quanto ao Panama Papers, há dezenas e dezenas de anos que as off-shores existem e agora parece que descobriram a pólvora...

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