18 mai, 2016 - 09:40 • José Alberto Lemos, nos EUA
Hillary Clinton venceu esta terça-feira as primárias democráticas no estado do Kentucky por meio ponto percentual sobre Bernie Sanders, numa corrida que esteve imprevisível até à contagem de 99% dos votos.
A disputa foi de tal modo renhida que ambos os candidatos estiveram mais do que uma vez à frente na contagem e os media foram incapazes de arriscar uma previsão antes de quase todos os votos estarem contados e haver uma confirmação oficial do vencedor.
Perguntar-se-á: e que importância tem esta primária no Kentucky, um estado do interior do país, politicamente pouco relevante? Para o desfecho da corrida à nomeação do Partido Democrático, muito pouca importância, uma vez que com este quase empate ambos os candidatos conquistaram o mesmo número de delegados. Mas simbolicamente é relevante, já que a vitória sofrida de Hillary projecta a imagem de que a luta com o senador do Vermont se mantém viva e árdua, impedindo Clinton de se concentrar na campanha contra Donald Trump, o seu presumível adversário em Novembro.
As sondagens atribuíam a vitória a Sanders, mas havia indícios favoráveis a Hillary. Por isso, a candidata decidiu apostar forte, fazendo campanha no terreno, onde teve a ajuda do próprio marido. O objectivo era travar uma sequência de derrotas em pequenos estados durante este mês de Maio e ganhar embalagem para o dia 7 de Junho, quando a Califórnia vai a votos.
Tal como na Virgínia Ocidental, no Kentucky a exploração mineira do carvão é uma actividade relevante e Hillary disse, em Março, que tencionava pôr aquele ramo económico “fora do negócio”, o que lhe valeu a hostilidade das pessoas ligadas ao sector. Votos perdidos que, contudo, conseguiu compensar com a conquista dos principais centros urbanos do estado.
No entanto, a vitória à tangente teve ainda assim um sabor amargo porque Hillary venceu o Kentucky em 2008 com uma vantagem de 35 pontos percentuais sobre Obama e desta vez não conseguiu mais do que um quase empate sobre um senador que já não tem hipótese de lhe retirar a nomeação do partido.
Daí que seja algo embaraçoso para a potencial candidata à Casa Branca pelos democratas continuar a ter de travar uma luta dupla até ao final das primárias – gastar energias com Sanders, por um lado, e apontar baterias a Trump, por outro. O facto de não conseguir resolver mais cedo a contenda no partido projecta uma imagem de fraqueza política que os republicanos vão explorando. Até porque era no Partido Republicano que se previa uma luta feroz até ao final da corrida.
Uma corrida "até ao último voto"
É este duplo combate que desagrada naturalmente ao "establishment" democrata, ansioso por unir o partido para a eleição nacional, curando as feridas abertas pelas primárias. Mas o senador Sanders não está pelos ajustes e no final da noite de terça-feira reiterou que irá até “à contagem do último voto”.
A combatividade que tem demonstrado na campanha e os apoios que tem recolhido dão-lhe toda a legitimidade para continuar, apesar de já não ser viável conquistar a maioria dos delegados à convenção de Filadélfia, em Julho. O senador aposta, contudo, em conseguir força suficiente que lhe permita influenciar decisivamente a plataforma programática com que Hillary se candidatará à Casa Branca. Um objectivo que parece claramente ao seu alcance, já que no decurso da campanha Sanders introduziu temas que “obrigaram” Hillary a rever as suas posições. É o caso do aumento do salário mínimo que a candidata defendia dever situar-se nos 12 dólares/hora para agora admitir os 15 dólares/hora, e o acordo de livre comércio com os países do Pacífico que Hillary em tempos negociou e defendeu e agora admite que deve ser revisto.
O problema é que, para além de algumas convergências programáticas, o clima no seio do partido vai-se deteriorando com o arrastar da disputa. No passado fim-de-semana, a convenção estadual do Nevada para escolher os delegados à convenção nacional acabou em clima caótico com insultos e alguma violência entre adeptos dos dois candidatos. Imagens que chegaram às televisões nacionais e cujo efeito eleitoral os responsáveis do partido temem sobremaneira.
Nesta terça-feira, além do quase empate no Kentucky, Sanders venceu a primária do Oregon, confirmando as sondagens. Registou uma vantagem de cerca de oito pontos percentuais sobre Clinton, neste estado da costa oeste, vizinho da Califórnia.
Também Donald Trump foi declarado vencedor das primárias republicanas do Oregon, uma formalidade, já que concorre agora sozinho.