10 jun, 2016 - 09:44
Desde as eleições de 20 de Dezembro que Espanha vive uma situação inédita de impasse político, com um governo de gestão liderado por Mariano Rajoy, do conservador PP, a marcar o passo até 26 de Junho, dia em que os eleitores espanhóis são novamente chamados às urnas.
Os últimos resultados deixaram um Congresso dos Deputados muito fragmentado, com os 350 assentos parlamentares a serem ocupados da esquerda à direita sem uma clara maioria. O tradicional bipartidarismo entre o PP e os socialistas do PSOE caiu por terra com o crescimento de partidos como o Podemos, da esquerda radical, e os liberais do Cidadãos.
O PP ficou à frente com 123 assentos, mas perdeu a maioria e ficou muito longe dos 170 necessários para dominar o parlamento e abrir a porta à governação. As tentativas de acordos pós-eleitorais falharam todas. Rajoy recusou a investidura por considerar não ter apoio suficiente e Sanchéz foi depois convidado pelo Rei a formar governo. Depois de recusar coligar com o Podemos, o PSOE tentou investir Sanchéz coligado ao Cidadãos, mas a proposta chumbou no Congresso.
Entretanto, no início de Maio o Podemos anunciou um acordo pré-eleitoral com o partido comunista Esquerda Unida, apresentando a coligação Unidos Podemos (UP). As últimas sondagens mostram a esquerda a ganhar vantagem, com a UP a ultrapassar o PSOE por mais de 4%.
As projecções dão 29,3% ao PP de Rajoy, cerca de 120 assentos, 24,3% à UP, liderada por Pablo Iglesias (86 lugares), 20,8% ao PSOE de Sanchéz (78 assentos) e o Cidadãos de Albert Rivera a crescer para 15,1% (42 assentos), com 10% a sobrar para os restantes pequenos partidos. Também se projecta um aumento da abstenção.
Há várias configurações pós-eleitorais possíveis neste cenário, sendo que uma delas é o mesmo o impasse arrastar-se por ainda mais tempo. Os blocos PP-Cidadãos e PSOE-Podemos poderiam ter condições para governar, embora nesta última solução haja questões que separam o partido, como a Europa ou os separatismos regionais internos, com o Podemos a defender o referendo na Catalunha e o PSOE tradicionalmente contra.
Há militantes socialistas que rejeitam totalmente a união com Iglesias e defendem inclusivamente um acordo com o PP com Rajoy à cabeça e o PSOE a abster-se. Por outro lado, a solução mais fácil em termos de governabilidade será a união do PP com o Cidadãos.
O PSOE está numa posição complicada, com dois rivais poderosos de cada lado e os socialistas em perigo de ficarem no meio dos extremos e de perderem o lugar que sempre ocuparam no centro-esquerda, uma posição da qual o Unidos Podemos se está a tentar aproveitar em força.
Depois de cinco meses de tentativas frustradas de acordo e do arrastar de um impasse político, a campanha eleitoral arranca esta sexta-feira, dia 10, sem que se vislumbre uma resolução óbvia. A bola está na mão dos eleitores, da capacidade de negociação dos quatro principais líderes partidários: Rajoy, Iglesias, Sanchéz e Rivera. Estas duas semanas de campanha podem ser definitivas, já que, pela primeira vez, os quatro se vão juntar num debate eleitoral já no próximo dia 13 de Junho.