03 jul, 2016 - 13:17 • José Alberto Lemos, em Nova Iorque
Hillary Clinton esteve no sábado passado três horas e meia na sede do FBI em Washington a depôr no âmbito do caso da utilização de um servidor privado enquanto foi secretária de Estado.
A informação foi divulgada pela própria campanha de Hillary, numa declaração lacónica, que afirma apenas que a ex-secretária de Estado depôs voluntariamente e se congratula por contribuir para a conclusão do inquérito.
A investigação do FBI ao uso de um email privado por Hillary Clinton enquanto foi secretária de Estado pode estar assim próxima do seu último capítulo. Os agentes federais, em conjunto com a procuradoria, averiguam se a utilização de um servidor privado em sua casa, por onde transitou muita informação confidencial e mesmo alguma secreta, configura um comportamento criminal.
Não subsistem dúvidas de que se tratou de uma irregularidade que a própria ex-secretária de Estado já admitiu ter cometido e classificou como um “erro”. Mas só o fez após alguma pressão pública, porque numa primeira fase negou qualquer comportamento incorrecto.
Todos os funcionários da administração estão obrigados a usar os servidores dos seus departamentos por razões de segurança e para que toda a informação que circular possa ser devidamente arquivada.
Ao mandar colocar um servidor na casa que possui no estado de Nova Iorque, durante os anos em que desempenhou as funções de secretária de Estado, entre 2009 a 2013, Hillary violou aquelas regras. Pelo servidor terão passado cerca de 30 mil emails, parte dos quais de carácter privado.
Clinton seleccionou e apagou pessoalmente os emails que considerou privados e disponibilizou os restantes às instâncias legais. Um acto que alimentou suspeitas de que estaria a esconder informação embaraçosa. Desde o início do processo que a candidata disse que nenhuma informação que circulou no seu servidor estava classificada, mas uma análise posterior da CIA concluiu que havia alguns emails considerados “top secret”.
Um outro inquérito, este do inspector-geral do Departamento de Estado concluído no final de Maio, censurou severamente o comportamento de Clinton, que se recusou a colaborar nessa investigação interna do ministério que tinha tutelado.
FBI pressionado para fechar o caso
Depois de terem interrogado vários dos seus colaboradores de então no Departamento de Estado, oito agentes federais ouviram no sábado a própria Clinton, que se fez acompanhar dos seus advogados. O FBI tem sido pressionado para acelerar o desfecho do caso devido à aproximação das eleições presidenciais.
A eventual dedução de uma acusação criminal contra a candidata do Partido Democrático é o maior fantasma que paira sobre a sua candidatura à Casa Branca.
A delicadeza do assunto é tal que na sexta-feira a própria ministra da Justiça teve de vir a público garantir que o inquérito seguirá os seus trâmites até final sem qualquer interferência política, como noticiámos.
Tudo porque Loretta Lynch se tinha encontrado casualmente com o ex-presidente Bill Clinton lançando dúvidas sobre a independência com que a investigação estaria a ser conduzida.
A persistência do caso na opinião pública está a causar um desgaste político que parece reflectir-se em algumas sondagens, sobretudo nas perguntas destinadas a inquirir sobre o carácter dos candidatos.
Esta semana, numa sondagem da Quinnipiac University 45% dos americanos disseram achar Donald Trump honesto e confiável, enquanto apenas 37% disseram o mesmo de Hillary Clinton. Isto num inquérito que dá uma vitória a Hillary na eleição de Novembro por dois pontos percentuais (42-40).