06 jul, 2016 - 12:13
Foi divulgado esta quarta-feira um relatório sobre a participação britânica na invasão do Iraque que tece duras críticas ao Governo de Tony Blair e ao próprio ex-primeiro-ministro.
O relatório Chilcot confirma que as informações que indiciavam a existência de armas de destruição maciça no Iraque eram falsas, acusa o Governo de ter optado pela solução militar antes de esgotar todas as outras vias de resolução do conflito, diz que Saddam Hussein não apresentava qualquer ameaça à paz naquela altura e confirma que todos os avisos que foram dados sobre a instabilidade que se poderia seguir a uma invasão sem qualquer plano de saída foram ignorados.
Segundo o relatório, Blair tinha já dado o seu aval à invasão oito meses antes de esta acontecer, prometendo a Bush que estaria com ele, independentemente do que se viesse a passar.
A invasão do Iraque contou, em 2003, com o apoio político dos governos de Portugal, liderado por Durão Barroso, e de Espanha, chefiado por José Maria Aznar.
O autor do relatório britânico sobre a guerra do Iraque, John Chilcot, pede que futuros conflitos armados ao nível da intervenção de 2003 sejam autorizados unicamente após " análises cuidadosas " e uma "decisão política" e alguns familiares de militares que morreram na guerra esperam poder usar o relatório como base para processar criminalmente Blair e outros governantes da altura, embora Chilcot tenha deixado claro que o documento que apresenta não é de ordem judicial.
"A principal expectativa que tenho é a de que não será possível no futuro participar numa campanha militar e diplomática com níveis semelhantes e com tal gravidade sem aplicar uma verdadeira e cuidadosa análise, assim como uma avaliação e um julgamento político colectivo", afirmou Chilcot numa entrevista publicada na BBC.
O antigo funcionário do ministério britânico para o Assuntos da Irlanda do Norte acrescenta que o relatório questiona as decisões que foram tomadas e que levaram o Reino Unido a intervir militarmente no Iraque, o que levou à queda do regime de Saddam Hussein.
Chilcot sublinha que, ao redigir o documento, teve em conta o sofrimento das famílias dos militares britânicos que perderam a vida e que pretendeu "conhecer toda a verdade" sobre a guerra.
"Esperemos que eles sintam, quando virem o relatório, que as perguntas que tinham na cabeça têm respostas", acrescentou. "Deixei muito claro, desde o princípio, quando iniciei a investigação, que se nos deparássemos com coisas que merecem críticas a indivíduos e a instituições não fugiríamos a tais críticas e, aliás, foi o que fizemos", afirmou.
Tony Blair, interrogado duas vezes por Chilcot, pediu desculpa pela polémica informação dos serviços secretos acerca de armas de destruição, que serviu de justificação para a invasão do Iraque e que acabou por se provar falsa e sem fundamento.
Investigação de 11 milhões de euros teve aval de Gordon Brown
A investigação foi autorizada pelo antigo primeiro-ministro trabalhista Gordon Brown, no poder entre 2007 e 2010, e depois de fortes pressões políticas e das famílias de 179 militares que perderam a vida na campanha do Iraque.
Estima-se que o documento tem mais de dois milhões e meio de palavras e é quatro vezes mais extenso do que livros como a "Guerra e Paz", sendo que vai ser distribuído em 12 volumes.
Mais de 150 pessoas prestaram declarações, entre as quais Tony Blair e políticos que detinham o poder na altura da campanha militar, como o ex-ministro trabalhista dos Negócios Estrangeiros Jack Straw e o antigo ministro da Defesa, Geoff Hoon, além de vários militares.
Calcula-se que os custos da investigação atingiram os 11 milhões de euros.
Os familiares de militares britânicos mortos começaram esta quarta-feira a consultar em Londres, à porta fechada, o relatório em que se analisam as decisões que o Reino Unido tomou antes e durante a invasão, em 2003.
[Notícia actualizada às 13h36]