08 jul, 2016 - 21:03
Pedro Santana Lopes defende que os resultados da intervenção militar no Iraque “eram animadores” em 2005, durante o período em que foi primeiro-ministro.
No programa “Fora da Caixa” da Renascença, que debateu as conclusões do Relatório Chilcot sobre o papel do Reino Unido na guerra, o antigo chefe do Governo português diz que não se sentia desorientação sobre os passos a dar depois do derrube do regime de Saddam Hussein.
“Desorientação não porque os resultados na altura eram animadores: os resultados sobre a estabilização, a consolidação de um Governo no Iraque, sobre números até de alguma retoma económica incipiente. Encontrei-me com o primeiro-ministro do Iraque da altura em Nova Iorque e em Bruxelas”, recorda Santana Lopes.
O antigo primeiro-ministro refere que “na altura aquilo era animador”, mas Portugal acabou por não prorrogar pela segunda vez o prazo missão portuguesa no terreno, composta por um contingente da GNR, em Nassyria, no Sul do Iraque.
“Não concedemos a segunda prorrogação não por questões financeiras, mas foi uma opção política. Entendi eu, o ministro dos Negócios Estrangeiros e o Governo que não era adequada fazer mais do que uma prorrogação. Para Portugal, tudo aquilo era um esforço, uma opção complicada e, à luz dos compromissos com os nossos aliados e dos nossos interesses na União Europeia, entendemos que era a opção mais adequada aos interesses nacionais”, afirma Santana Lopes.
“Posição de Durão Barroso era idêntica” a Bush e Blair
A posição de Durão Barroso sobre a invasão do Iraque era idêntica à do então Presidente norte-americano George W. Bush e do primeiro-ministro britânico Tony Blair e baseada na informação que estes lhe transmitiam, afirma Santana Lopes no programa “Fora da Caixa” da Renascença.
Durão Barroso era primeiro-ministro e foi o anfitrião da célere cimeira das Lajes, em 2013, onde foi decidida a invasão do Iraque.
Santana Lopes, que sucedeu a Durão Barroso na liderança do Governo no ano seguinte, em pleno conflito iraquiano, diz que falou “muito” do assunto com Durão Barroso e que este transmitia sobretudo o que diziam os ingleses e sobretudo os americanos.
E que provas havia para justificar a invasão do Iraque? “O que se ouve dos próprios também não se chega à conclusão do que eles sabiam. Tudo invoca relatórios ou dados fornecidos pelos serviços de inteligência sobre a existência de armas de destruição maciça, sobre as equipas que foram na altura ao terreno e relataram que tinham visto as armas de destruição maciça”, refere Santana Lopes.
“Não vou entrar em inconfidências, mas a posição de Durão Barroso era idêntica à destes líderes, mas ele transmitia o que lhe era transmitido pelos líderes dos Estados Unidos e do Reino Unido, mas principalmente, dos Estados Unidos”, relata Santana Lopes num programa gravado antes de o PCP chamar Durão Barroso e Paulo Portas no Parlamento sobre a guerra no Iraque.
No programa “Fora da Caixa” da Renascença, o antigo comissário europeu António Vitorino considera que houve interpretação abusiva das informações sobre armas de destruição maciça, uma posição subscrita por Santana Lopes.
António Vitorino considera, também, que o Reino Unido cometeu um "erro político" ao dar apoio incondicional aos Estados Unidos.
"Os britânicos, e também é injusto agora crucificar o senhor Blair, jogaram um jogo muito difícil, de tentar manter uma ligação entre, de um lado, os europeus que eram muito relutantes, isto é, a França e a Alemanha, e os Estados Unidos. O que este relatório talvez agora venha demonstrar com esta carta de 2001 é que, no fundo, os americanos jogaram sempre pelo seguro e disseram: 'Aconteça o que acontecer, mesmo que não façamos todas as conceções aos europeus, os ingleses acabarão por cair para o nosso lado'. E aí talvez tenha sido o erro político dos britânicos. Ao darem excessivamente a garantia que em caso de ruptura estariam ao lado dos Estados Unidos acabaram por prejudicar durante muito tempo a sua linha política, que é tentar conciliar uns e outros", afirma António Vitorino.