30 jul, 2016 - 10:11
O ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva confessou-se na sexta-feira cansado de denúncias contra si, após ter sido constituído arguido, pela primeira vez, no âmbito da Operação “Lava Jato”.
"Eu não quero falar dos meus problemas pessoais para não transformá-los em problemas colectivos, mas enquanto estou aqui conversando com vocês, fiquei a saber que foi aceite uma denúncia contra mim de obstrução da Justiça", disse, durante um discurso para trabalhadores do ramo financeiro em São Paulo.
O juiz Ricardo Leite, da 10.ª Vara da Justiça Federal de Brasília, tornou o ex-Presidente e outras seis pessoas arguidas por alegadas tentativas de obstrução à justiça na Operação “Lava Jato”, que investiga o maior esquema de corrupção da história do país.
Em causa está uma alegada tentativa de impedir o ex-director da área internacional da petrolífera Petrobras Nestor Cerveró de assinar um acordo de delação premiada, ou seja, prestação de informações em troca de eventual redução de pena.
"Vamos ver, eu não conheço, sei apenas da notícia, vamos ver o que é que é, eu não ia tocar no assunto, mas eu já cansei", confessou.
De seguida, Lula da Silva, sem falar neste caso, começou a defender-se de outras acusações, em concreto de ser proprietário de uma propriedade rural em Atibaia e de um apartamento no Guarujá, ambos no estado de São Paulo, frisando que não tem de provar nada, mas sim a "imprensa que acusou" e o "Ministério Público que falou".
Lula da Silva referiu ainda que se sente provocado a voltar a candidatar-se à Presidência da República em 2018.
"Se o que eles estão a falar pela imprensa, de que o objectivo de tudo isso é tirar o Lula da campanha de 2018, não precisavam fazer isso. Porque podemos escolher um outro companheiro com mais qualidade ou uma companheira", disse.
"[Mas] essa provocação dá-me uma coceira", acrescentou, sublinhando: "Achar que eu vou ficar quieto por conta de ameaça, eu não vou. Eu duvido que tenha alguém nesse país que seja mais cumpridor da lei do que eu. A única coisa que eu quero é respeito".
O ex-chefe de Estado pediu ainda que sectores da imprensa não o condenem através de manchetes e frisou que há uma acção premeditada de criminalizar o Partido dos Trabalhadores (PT), o seu movimento político.
"Que há vazamentos selectivos da imprensa contra o PT, eu não tenho dúvida. Eu não sou de ficar a chorar, eu sou de ficar a brigar. Eu acho que temos de ter consciência do processo que está a acontecer no Brasil", disse.
Antes, a defesa de Lula da Silva fez saber, através de comunicado, que a inocência do ex-líder brasileiro "será certamente reconhecida" e lembrou que Lula da Silva "já esclareceu ao Procurador-Geral da República [Rodrigo Janot], em depoimento, que jamais interferiu ou tentou interferir em depoimentos relativos à Lava Jato".
"A acusação baseia-se exclusivamente na delação premiada de réu confesso e sem credibilidade - que fez acordo com o Ministério Público Federal para ser transferido para prisão domiciliar", advogaram os defensores de Lula da Silva, numa referência ao ex-senador Delcídio do Amaral.