06 ago, 2016 - 11:42 • Filipe d'Avillez
A coligação de rebeldes que luta contra o regime de Bashar al-Assad, em Alepo, conseguiu um importante avanço ao ocupar a Academia Militar de Artilharia.
Durante o dia de sexta-feira sucederam-se as informações, muitas delas contraditórias, sobre o desenrolar do assalto rebelde à academia, mas esta manhã parece confirmar-se a ocupação do edifício estratégico por parte de rebeldes, não obstante o apoio aéreo dado às tropas do regime, apoiadas por milícias libanesas e iranianas, pela força aérea russa.
Here pictures released by Fateh al-sham. Proof that they are indeed inside the artillery school. #aleppo pic.twitter.com/KFZTmxY7T6
— Jenan Moussa (@jenanmoussa) August 6, 2016
Infiltrada a base, os rebeldes procuram agora consolidar a sua posição e atacar as bases contíguas. Há informação de muitas baixas de parte a parte e o regime terá muitos reforços a caminho, mas se conseguir manter a posição, a coligação rebelde fica muito próxima de quebrar o cerco a que tem estado sujeita há meses.
A quebra do cerco representará importantes vitórias para os rebeldes. Por um lado, permite reabrir linhas de abastecimento para as partes da cidade sob controlo dos grupos anti-Bashar al-Assad, mas permitirá também fechar a ligação do exército a algumas das zonas da cidade ocupadas pelo regime, passando essas a estar cercadas.
Tão ou mais importante, será uma vitória moral de grande importância, numa altura em que as forças rebeldes pareciam estar em contrapé, sofrendo bastante com a intervenção russa no conflito. Durante anos os rebeldes sofreram pela sua desunião, mas esta batalha mostra também que os diferentes grupos se conseguem coordenar e agir em sintonia, com disciplina e estratégia.
Os céus sobre Alepo encheram-se de fumo preto durante estes dias, não só por causa dos combates, mas também porque os residentes e as milícias anti-Assad queimaram centenas de pneus, criando assim uma nuvem de fumo espesso com o objectivo de dificultar a intervenção dos aviões e helicópteros russos e da força aérea síria.
Exclusive footage shows burnt tires in #Aleppo to impair vision and create "no-fly zones". #حلب pic.twitter.com/RjGhDn5Kem
— Faisal Irshaid (@faisalirshaid) August 2, 2016
Limpeza étnica em perspectiva
A vitória dos rebeldes, que na esmagadora maioria são compostos por grupos e militantes fundamentalistas islâmicos, poderá conduzir a uma limpeza étnica das zonas que vierem a ocupar.
A coligação deu a esta ofensiva o nome de Ibrahim al-Yousef, evocando um massacre de 1979 em que o oficial encarregue da Academia de Artilharia, a mesma actualmente a ser disputada, chamou para uma reunião dezenas de cadetes pertencentes à comunidade alauita, que é minoritária na Síria mas que domina ainda os aparelhos do regime de Bashar al-Assad. Quando os cadetes, entre 50 e 80, estavam todos reunidos, al-Yousef e outros oficiais abriram fogo com armas automáticas e granadas, massacrando todos os alunos.
Um filho de Al-Yousef combate nesta altura com os jihadistas em Alepo e os líderes da coligação já afirmaram publicamente que, caso vençam este conflito, irão fazer tal como foi feito em 1979, massacrando todos os alauitas que encontrarem.
Estes dados levantam novamente a preocupação sobre a verdadeira natureza dos grupos rebeldes na Síria, incluindo alguns descritos pelo Ocidente como "moderados" mas que na verdade mostram indícios de serem jihadistas.
[Notícia actualizada às 14h12]