19 ago, 2016 - 14:38 • Catarina Santos
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Uma pequena lancha dirige-se para a ilha grega de Lesbos. A Polícia Marítima portuguesa recebe o alerta e imediatamente vai para o local. Resgata 19 paquistaneses antes de a embarcação se afundar. Isto foi há dois dias, mas tem sido assim diariamente.
“Houve um aumento considerável. É praticamente todas as noites, não só na nossa área, como também nas áreas que não são da nossa responsabilidade”, conta à Renascença o chefe da equipa da Polícia Marítima portuguesa que está actualmente em missão em Lesbos, Jorge Jesus.
Só este mês já chegaram mais de 1.300 pessoas à Grécia – um aumento de 144% comparado com o mesmo período em Julho. “Um dos motivos pode ser o tempo, porque há menos vento e as temperaturas subiram, o que significa que é menos perigoso atravessar o mar Egeu. Por outro lado, a situação na Turquia não está muito estável e esta pode ser uma razão para os refugiados que estão na Turquia se sentirem mais inseguros e arriscarem a viagem”, acredita Yasmine Colijn, coordenadora da organização Save The Children nas ilhas de Chios e Samos.
Há mais de 10 mil migrantes e refugiados bloqueados nas ilhas gregas – 3.800 dos quais são crianças –, a viver em condições degradantes, a dormir no chão e com pouco acesso a serviços básicos como casas de banho, denuncia a Save The Chindren.
Imagens como a da criança de Alepo ensanguentada, que na quinta-feira chocou o mundo, ajudam a relembrar o que está na origem do problema. A responsável pela organização naquelas ilhas lamenta, contudo, que se “esqueça muito facilmente do que é que estas pessoas fogem”.
“Ainda ontem [quinta-feira] vimos as imagens de Alepo, vemos como está a situação no Iraque. As pessoas fogem para tentar salvar a vida, não tomam essa decisão de ânimo leve. E, enquanto esses problemas se mantiverem e a União Europeia não se focar nas causas destes fluxos, o movimento continuará e as pessoas vão procurar vias cada vez mais perigosas. ”
Yasmine Colijn diz que os campos de acolhimento de migrantes nas ilhas gregas há muito ultrapassaram as suas capacidades e sustenta que as autoridades gregas “não estão de todo preparadas” para este aumento do número de chegadas.
“A União Europeia julgou que com a implementação do acordo ia resolver o problema e não resolveu. Não disponibilizaram os fundos e os recursos necessários para que as autoridades gregas, para mais no meio da crise económica, conseguissem enfrentar o problema”, sublinha a responsável da Save The Children.
No ano passado entraram na Europa mais de um milhão de migrantes e refugiados. Este ano chegaram 278 mil, mas mais de 57 mil pessoas continuam bloqueadas na Grécia e a rota dos Balcãs, que oficialmente tinha encerrado, começa novamente a ser usada. Este mês houve um aumento de 20% de entradas na Sérvia e de 22% na Hungria.
Polícia Marítima sem mãos a medir
A equipa portuguesa destacada em Lesbos não tem tido mãos a medir. "Sabemos que começamos à hora e nunca sabemos à hora que acabamos. Às vezes chegamos a fazer dois turnos só num", conta o chefe da missão.
Jorge Jesus diz que "em média vêm cerca de 30 pessoas" por barco, mas também acontece virem “mais de 60 pessoas” numa embarcação. Por vezes, há situações complicadas, como aconteceu no resgate da última quarta-feira.
"Neste último resgate com os paquistaneses, tivemos que administrar oxigénio a um migrante que estava a entrar em falência. Todos os elementos desta equipa têm formação em suporte básico de vida e podem avaliar imediatamente as necessidades da pessoa que está em falência e administrar o oxigénio”, refere.
É uma mais-valia que só a equipa da Polícia Marítima portuguesa tem. “Nos casos mais graves temos conseguido manter as pessoas vivas até terem ajuda média em terra. Segundo os médicos que os assistem, isso faz toda a diferença", sublinha o agente.
A Polícia Marítima portuguesa está em Lesbos desde 1 de Outubro de 2015, integrada na missão “Poseidon Sea 2016” da agência Frontex, e deverá terminar a participação no final do próximo mês de Setembro. No entanto, face ao aumento de chegadas das últimas semanas, o chefe da equipa que actualmente está destacada na ilha grega não se espantaria se visse essa previsão ser alterada.
"É uma previsão, nada é certo. Se isto de repente começar a tomar outras proporções, politicamente serão tomadas as decisões. Não sei quais serão, mas poderá passar pela continuidade da missão", acredita Jorge Jesus.