29 ago, 2016 - 15:28
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A Presidente suspensa do Brasil Dilma Rousseff apresentou esta segunda-feira aos senadores a sua defesa durante uma das mais aguardadas sessões do processo de destituição.
Entre os convidados de Dilma estavam o compositor e músico Chico Buarque e o ex-Presidente Lula da Silva. A governante falou durante 45 minutos, excedendo largamente o tempo regulamentar, emocionando-se várias vezes. O Presidente interino, Michel Temer, desmarcou os seus compromissos da manhã para ouvir Dilma no Palácio do Jaburu, acompanhado de assessores e auxiliares.
Dilma Rousseff assegurou que não nutre rancor por aqueles que irão votar pela sua destituição, sublinhando, no entanto: “Hoje eu só temo a morte da democracia".
A Presidente afirmou que “nunca atentaria” contra aquilo em que acredita e que recebeu as críticas com humildade. "Como todos, cometo erros e tenho meus defeitos", referiu.
Lembrando que nos anos da ditadura recebeu no corpo “a marca da tortura”, Dilma disse que não cedeu e que “resistiu à tempestade de terror” que a ameaçava “engolir”.
"Aos quase 70 anos de idade, não seria agora, sendo mãe e avó, que abdicaria dos princípios que me guiaram", garantiu.
"Governo usurpador"
Dilma declarou que foi ao Senado "olhar directamente nos olhos” dos que a julgarão. "Não cometi os crimes dos quais sou acusada injusta e arbitrariamente. Hoje o Brasil, o mundo e a história nos observam. E aguardam o desfecho desse processo de 'impeachment' [destituição]", disse, utilizando a palavra “golpe”.
"Um golpe que, se consumado, resultará na eleição indirecta de um governo usurpador. A eleição indirecta de um governo, que já na sua interinidade, não tem mulheres comandando seus ministérios, quando um povo nas urnas escolheu uma mulher para comandar o país", afirmou.
No discurso, emocionou-se ao falar do Mundial de futebol e dos Jogos Olímpicos, recordou ex-Presidentes brasileiros que foram afastados ou sofreram tentativas de afastamento, como Getúlio Vargas e João Goulart.
Citada na edição "online" do jornal “Folha de São Paulo”, Dilma criticou a acção parlamentar durante o seu governo, dizendo que "não se procurou discutir e aprovar uma proposta melhor para o país" e que se procurou o "quanto pior, melhor".
"Encontraram na pessoa do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o vértice de sua aliança golpista. Todos sabem que esse processo de 'impeachment' foi aberto por uma chantagem explícita do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Nunca aceitei na minha vida ameaças ou chantagens. Não ter me curvado a essa chantagem motivou o recebimento da denúncia e a abertura do processo."
Renunciar? "Nunca"
A Presidente suspensa afirmou que "foram dadas todas as condições para que as investigações fossem realizadas" e que lutou contra a corrupção.
Dilma passou então a dar argumentos mais técnicos em sua defesa, citando as subvenções ao Plano Safra.
Rousseff afirmou ainda que nunca colocou a hipótese de se demitir. "Jamais o faria, porque tenho um compromisso inarredável ao Estado brasileiro. Jamais o faria porque nunca renuncio à luta."
"Não tenho dúvida, que também desta vez, todos nós seremos julgados pela história", rematou.
No final, Dilma foi aplaudida por parte do plenário. Vários senadores ignoraram o pedido de silêncio e gritaram palavras de ordem, como "Dilma guerreira da pátria brasileira", enquanto a Presidente afastada regressava ao seu lugar.
O apelo final de Dilma: "Não aceitem um golpe que em vez de solucionar, agravará a crise brasileira. Votem sem ressentimento. O que cada senador sente por mim e o que nós sentimos uns pelos outros importa menos do que o que nós sentimos pelo país e pelo povo brasileiro."